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Wednesday, September 29, 2021

mumm-ra

Em algum dia de setembro de 1988, eu estava na UERJ assistindo uma bela aula de Cálculo com Coscarelli, grande professor, quando Mumm-Ra me chamou para lanchar na rua ao término. Manhã bem quente. 

Seu nome era Renato, rapaz alto, bem mais alto do que eu, lembrava alguma coisa do Negrete da Legião. Gente boa. Calouro. Acho que não estava confortável no curso, estava sempre falando de fazer prova para a AMAN. 

As garotas, lindas, ficaram no hall. Descemos e fomos para a São Francisco Xavier. Na verdade, nem havia um motivo especial para isso. Grana não foi: as cantinas da UERJ eram baratíssimas. Sei lá, vai ver que queríamos ir à rua.

Paramos numa padaria, talvez perto da Santa Luiza e que não existe mais. Pedimos café e pão de queijo. E falamos de futebol e mais futebol. E que Luciene era linda. E do calor, que seria muito pior em dezembro, o que eu viria a testemunhar pelos anos seguintes. Mais futebol, era nossa vida. 

Ainda lembro de minha alegria juvenil ao atravessar de novo a São Francisco Xavier rumo ao portão principal. Ao contrário do que o Renato parecia sentir, eu tinha uma mistura enorme de orgulho com alegria em estar ali. Foi um dos poucos sonhos que concretizei de ponta a ponta, pouco importando os muitos que ficaram pelo caminho. O Ministro da Educação é um completo idiota quando diz que a universidade deve ser para poucos - na verdade tinha era que ser para todos - como eu aprendi naqueles dias!

Pegamos o elevador e voltamos para o sexto andar. Havia um intervalo grande para a outra aula. Parei no hall. O Renato seguiu para a sala, bem lá no fundo, perto da varandinha de onde se via o Maracanã e que às vezes servia para namoros inesquecíveis. Nem tudo era fácil: suicídios também. 

Aquele foi meu único café com pão de queijo fora do prédio da UERJ. Mumm-Ra era um apelido de trote, porque ele foi todo enfaixado com papel higiênico. Trinta e três anos depois, ele faz parte daqueles colegas efêmeros que o caminho nos separou. Tomara que esteja bem e não seja negacionista. Tomara que esteja razoavelmente feliz. 

Tinha uma turma da pesada lá que sumiu. Alexandre Gomes, Joaquim, Alexandre Baixinho, o Mário, gente boa e divertida que, de uma hora para outra, a gente percebe que simplesmente sumiu sem deixar rastro. Não tinha rede social, nem Whatsapp. Os encontros e as despedidas eram definitivos. 


@pauloandel

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