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Wednesday, June 10, 2020

remanescente

tenho morrido muitas 
vezes e foram tantas 
vezes na semana 
passada que não pude 
dormir

e perto da minha cabeceira
um poderoso ventilador ligado
parece a turbina de um avião

[olho para o teto e finjo uma 
viagem

[a janela é a porta principal

uma aeronave rumo a destino 
algum
e minha poltrona esgarçada
enquanto sinto fome
sede, cansaço e o peso da 
morte:
é que tenho morrido vezes 
demais
e isso me tira o sono
- meu teto é um céu sem 
estrelas

ela dorme ao lado e viaja 
tranquila demais
a minha paz é a mão estendida
mendiga
pedindo esmolas num circo
lotado na avenida brasil
e por isso morro sem dormir

em algum lugar do teto tem 
lua
o ronco do motor à rua
denuncia outra morte
[a noite que não dorme, o corpo 
que não sonha, o grande irmão

copacabana, vejo teus brilhos
teus galãs e fêmeas da noite
e boates encerradas 
meu coração na janela
procurando o sentido do fim:
para onde se mudou o amor?

a turbina em meu ouvido
não cessa
minhas fomes e dores
o meu amor que dorme
a dor que me adormece

copacabana, meu abraço
os garotos ficaram distantes
é que o sonho já deu no pé
a luz da janela é a derrota
a saída principal sem voz

@pauloandel

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