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Tuesday, March 10, 2015

poema torto

(copacabana over the rainbow)

e agora que o agora foi embora, onde foram parar os seus amigos para sempre?
pense naqueles bares inesquecíveis, as garotas tão românticas, os camaradas a bater canecas feito socos de gol
onde foi parar aquele país de sonhos lindos, segurança, felicidade, o da justiça para todos?
o chope acabou?
sevé não traz mais nenhuma bandeja e nem karla muga sorri discreta no fry chicken da siqueira campos
adeus, ditadura!
adeus, ditadura!
onde ficou a maravilhosa copacabana com suas putas, generais fascistas, sonegadores escusos, malandros de praia, maconheiros, marombeiros, gatinhas do grajaú - os mendigos famosos! - atores loucos na descida da escada do shopping:
katia flávia! louraça belzebu!
demônios do crepúsculo de cubatão - o dono era um maravilhoso ladrão
onde foi parar o la monet que não nos espera mais? garotas do méier.
aquele futebol que não existe mais, cheio de torcedores banguelas, de camisas rasgadas, perucas de enfeite, laranjas de almoço - a força do flu com assento - forever young!
meus companheiros de cartas são decadentes ricos - e cospem Miami, cospem Miami mas nunca vão entender de João Candido nem Domenico De Masi
um idiota me olha torto porque ando com meu velho par de chinelos mais uma bermuda antiga, tão vesgo e cafona, cafona!
os pivetes agora matam
a sociedade é mais estúpida e vale o que não está escrito
num respeitável hospital de porte há um traficante de colarinho branco em recuperação de saúde
- é MUITO respeitável
pessoas comem lixo nas calçadas ou lambem o resto das manchetes vomitadas
penduradas
na banca de jornais - veja mas não leia
surdos mentais, surdos mentais
repetindo mantras estúpidos dos grandes valores nacionais, pois o grande irmão estende a mão - e se for preciso, ela também pode matar, torturar, corromper
quantos corações doentes vão sobreviver sem qualquer intervenção?
vamos remover o ódio
expurgar nossas faixas de gaza
que fim levou a velha mesa dos meus amigos?
meus pais dormem tranquilos em algum lugar? será que sonham?
mesmo que tudo pareça tão medíocre e perdido, há de haver uma pequena salvação
no amor que não se consagra
na tristeza que não passa
e a estranha certeza de que recomeçar é o caminho
o brasil é outro, minha copacabana também
desaparecida feito a mendiga Lina que lia francês e new york times
o méier, a tijuca, arcozelo, imbuí
lembranças são o grande réquiem e viva a escassez do armistício:
ao chegar até aqui e me vir como um louco, um idiota da ilusão, parabéns! você não está mais sozinho
no cu do mundo
a dorsal atlântica é a serpentina de um carnaval
entre o caos e o vagabundo
parabéns!

@pauloandel

otraspalabras - paulorobertoandel.blogspot.com
não recomendado para imbecis maiores de 18 anos.

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