Friday, December 23, 2011

SALDO



Boas festas?

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O menino olha a televisão com o mesmo desejo de um prato de comida. Não perde um segundo do desenho animado ali exibido. Deve ter entre dez e doze anos de idade. À mão direita, a caixinha de engraxate. A injustiça do mundo o faz trabalhar muito antes do devido e razoável, em troco de mera sobrevivência, escovando os sapatos dos outros; contudo, ele mesmo está descalço. Dentro da loja, pessoas se acotovelam para comprar as últimas novidades eletrônicas do mundo corporativo-dos-fortes-e-bem-sucedidos. Não tenho estômago para celebrações enquanto crianças sofrem nas ruas. Acho que nunca terei e me conformo com a condenação perpétua neste sentido. Lá fora, o mundo cospe hipocrisia.

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Gosto das Lojas Americanas porque me remetem a meus tempos de criança. Refresco era em copo de cone, na saída da Figueiredo Magalhães. Ao lado, o cinema Condor com a belíssima Romy Schneider em “Sissi, a imperatriz”. E tinha muitos brinquedos por lá. O atendimento nunca foi dos bons: funcionários em alta rotatividade, típico dos baixos salários. O que as Americanas sempre ofereceram foi preço – e, por ele, o consumidor que se abaixe até o subsolo. Ainda assim, é bom lembrar daqueles tempos.

Passei rapidamente por dentro da loja da Uruguaiana sem nenhum sentido específico: não ia comprar nada. Talvez aproveitar um pouco do ar refrigerado. Na entrada principal, o balcão de telefones celulares. E pessoas brigando, xingando, lutando arduamente pela sina capitalista de terem um novo aparelho.

Somos 190 milhões de pessoas, temos mais de 200 milhões de celulares.

Faz algum sentido disputar um vale-tudo por causa de um novo e impactante aparelho?

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Penso que já é hora de nunca mais participar de brincadeiras de amigo-oculto. Uma mulher linda me pediu, abri exceção. Tive certo arrependimento quando precisei entrar na outra loja, a que vendia o presente ansiado pelo meu AO. Mais pessoas quase chicoteando umas às outras. Algumas vendedoras bonitas, outras charmosas. Estou sem sorte no momento, de modo que fui atendido pelo rapazinho efeminado da loja. Tudo bem. Em segundos, o produto que quase pedi estava pronto para ser pago. Só queria quitar o débito e sair de lá imediatamente. Deu certo. Tomara que a presenteada goste.

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Acabaram com o vestibular. Agora é Enem. Eu, hein?

Vamos brincar de VestiBroular, o vestibular do Brou.

1) Qual o melhor título de revista para 2012?

( ) Isto é porra nenhuma

( ) Isto é cão

( ) Isto é sacanagem – não Veja!

( ) Isto era

( ) T.R.A – Todas as respostas anteriores


2) Qual o melhor efedepê dos últimos 40 anos?

( ) bob mar inho

( ) bob cão pos

( ) bob jeffer son

( ) bob (vila) Kennedy

( ) bob da música do Otto


3) Qual a enquete ideal para 2012?

( ) efedepê do ano

( ) burraldo do ano

( ) ser humano do ano

4) Em recente entrevista ao programa Amaury Jr., o ex-presidente FHC declarou que foi contra os métodos utilizados pela polícia na confusão no campos da USP (o “caso dos maconheiros”, assim tratado por vários parajornalistas). Todavia, a declaração do ex-prê vai na contramão de seus eleitores, cuja grande massa se manifestou nas redes sociais clamando por “porrada nos estudantes”ou mesmo “pena de morte” (sic). O que melhor se pode depreender deste conjunto de fatos?

( ) Os eleitores não têm a menor ideia do que pensam seus candidatos

( ) Os eleitores não têm a menor ideia de coisa alguma

( ) O político fez média para conseguir futuros votos

( ) O político fala qualquer coisa porque ninguém reflete mesmo

( ) T.R.A – Todas as respostas anteriores

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“Gloria”, Patti Smith

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Este blog volta em janeiro de 2012. Obrigado por tudo.

Thursday, December 22, 2011

FESTAS?







Thursday, December 15, 2011

MÚSICA!

Monday, December 12, 2011

IMPERDÍVEL...

...para aqueles que não sugam o néctar da alienação política no Brasil:


QUASE VAZIO

BREVIDADE

Friday, December 09, 2011

SOBRE HORACE SILVER E O CAOS



RUSH

A estupidez é franca e se mostra com todo vigor nesta sociedade que julgamos ser moderna. Reitero: onde está a modernidade? Se deixamos de respeitar o próximo, de cuidar do planeta, de pensar no verdadeiro caos que se apresenta por conta das grandes desigualdades, como somos capazes de enxergar a modernidade? Basta apenas um i-phone, uma tv plana e seremos honestos com nossa felicidade? O que fazer com os ódios, os preconceitos, as manifestações racistas, a subversão dos oprimidos, a ânsia de submeter o ser ao ter? Simplesmente varrer para debaixo do tapete e se esconder num condomínio confortável com câmeras 24 horas? Esperar que o capital promova o progresso social que não foi conseguido até agora, atravessando séculos? Deixar que tudo se limite a mesas de bar como último refúgio do suposto conceito de amizade social – bar é bom, mas a amizade precisa ser algo mais do que beber até cair. Os computadores aí estão e são bem-vindos, mas eles não significam a erudição automática: não há como prescindir de estudo e leitura, mas o que menos se faz pelas cidades afora é estudar e ler. Dizem que vivemos num mundo muito audiovisual hoje, de modo que a leitura perdeu interesse. Acho muito estranho: ler permite chegar a mundos que os olhos não enxergam sem a mente a trabalhar. Dentro de algumas horas, pessoas se acotovelarão em shopping centers. O trânsito será infernal e não haverá um centímetro disponível nos transportes de massa, sempre aquém das necessidades populares. Pessoas assistirão mais um capitulo de novela em suas salas e quartos, mas não haverá diálogo familiar e elas serão solitárias como nunca. Parece evidente que a revolução não será transmitida pela televisão, tal como certo poeta ensinou, mas estamos ocupados demais para qualquer reflexão de qualidade. Batalhões de estranhos a se deslocar pelas orlas, ruas, alamedas e demais espaços, sem qualquer afinidade ou apreço entre si. Alguém vai se divertir. Muitos rirão mais tarde, mas quase ninguém com o coração. Estranho mundo moderno.

 
RASCUNHO SOBRE HORACE SILVER

um homem está seduzido
pelo âmbar da morte

e faz do acostamento
o seu berço esplêndido
 
envolto num plástico azul
e com os pés descalços
 
ele é o protagonista
num programa de tv

enquanto leio o monodrama
pela ducentésima vez
 
e ouço as notas delicadas
que Horace Silver toca

à tela, um acidente de carro
garrafas quebradas, vidro moído

e uma sobrevivente seminua e ébria
tentando recitar o inexplicável

no disco, as pessoas aplaudem
outro solo de Horace Silver

“Let´s take any cool eyes” floresce
recordando Newport no ano de 1958
 
a morte do homem e seus pés descalços
são sinais de mera importante audiência

enquanto meu sono está no exílio
em certa embaixada distante
 
a solidão é recato e me conforta:
degusto a noite e seu desencontro
 
fugaz, a tal ponto que a insônia
me parece admirável companhia

Tuesday, December 06, 2011

PORTA ABERTA

Pela porta aberta/ De um coração descuidado/ Entrou um amor em hora incerta/ Que nunca deveria ter entrado/ Chegou, tomou conta da casa/ Fez o que bem quis e saiu/ Bateu a porta do meu coração/ Que nunca mais se abriu / E por isso, por isso a nostalgia tomou conta de mim/ Mas um amigo percebeu e disse assim/ Para que tanta tristeza, rapaz?/ Acabe com ela e vem comigo conhecer/ a Portela, Portela /Fenômeno que não se pode explicar / Portela, Portela/ Uma corrente faz a gente sem querer sambar/ É ela, é ela / O novo amor a quem eu quero/ Agora me entregar / O samba fez milagre/ Reabriu meu coração para a Portela entrar.

Luiz Ayrão, 1973

O CRERES

GIL!

Sunday, December 04, 2011

O DOUTOR


Sócrates talvez tenha sido o jogador com o toque de bola mais preciso e cerebral que vi jogar.

Eram tempos de Falcão, Maradona, Rummenigge e tantos outros.


Quando vi Delei surgir no Fluminense, como eu queria que contratássemos Sócrates para ver os dois juntos. Por ironia do destino, se o Tricolor um dia fez uma partida perfeita, foi justamente contra o Corinthians de Sócrates pelas semifinais do campeonato brasileiro de 1984.

Passes perfeitos, lançamentos precisos, chute na mosca e o toque de calcanhar que desnorteava os adversários. A figura esguia, longilínea, e a barba revolucionária davam-lhe um ar de transparência. Articulado. Politizado. Craque à enésima potência. Atleta, nunca foi – e nem precisava.

No começo dos anos oitenta, o Brasil ainda vivia sob ditadura. No futebol, a maioria dos jogadores era dotada de instrução limitada. E quem foi que começou a usar os microfones para tentar interferir politicamente nas questões do país? Ele, claro, o Doutor (título correto pois era médico, assim como Tostão).


Numa ocasião, alguns torcedores exasperados criaram problema com Sócrates. Por entender que a reação era injusta, ele parou de comemorar gols. Nada de boicotar o próprío time, nada de se recusar a entrar em campo, nada de chinelinhos: continuou jogando como sempre, mas reagia com frieza a cada golaço marcado. A turba entendeu e ele voltou a comemorar.

Nos últimos dias de sua curta e admirável vida, Sócrates continuou implacável: mostrou em público o quando sua relação com o álcool minou seu organismo, mas não o fez sob a pose do coitadinho – gigante como é, reconheceu a doença e fez um alerta, mas sem paternalismos que não lhe cabiam como o libertário que sempre foi. E ainda aproveitou para fuzilar - corretamente - a atual CBF.


Há ecos do futebol genial de Sócrates em jogadores como Kaká e Paulo Henrique Ganso. Antes destes, os hoje aposentados Giovani (camisa 10 do Santos em 1995) e Raí (por questões genéticas) mostraram brilho em lances que remetiam aos melhores momentos do Doutor. Contudo, é bom que se saiba: tecnicamente falando, foram e são todos inferiores a Sócrates em campo – e por serem grandes craques, isso dá uma ideia do que era o futebol do Magrão em campo.


Um vizinho meu em Copacabana e rubro-negro fanático, Walter Francis, certa vez me disse que não gostava do futebol de Sócrates. A obsessão de parte da imprensa esportiva carioca em tornar o camisa 10 da Gávea melhor do que Pelé muitas vezes esbarrava no brilhantismo do futebol do Doutor, o que incomodava alguns flamengos. Agora eu entendo. Não tiro o brilho de Zico, longe disso, mas Sócrates jogou demais. Demais!

Alexandre Santos muitas vezes narrou em jogos da Bandeirantes: “Guardooooooouuuuu Sócrates!”. Hoje, dia da rodada final deste grande campeonato brasileiro, não será assim. Mas pensando bem, se era inevitável perdermos o Doutor, que fosse num dia como esse – onde milhares de pessoas reverenciarão seus ídolos em grandes clássicos e jogos decisivos. Em cada um deles, haverá um minuto de silêncio, não apenas para um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, mas sim para um grande homem que, não satisfeito em ser um craque munumental, contribuiu decisivamente para a luta de libertação de seu próprio país - e, se não conseguiu naquele momento com pleno êxito, ao menos libertou seu time de atuação ao fincar a Democracia Corinthiana.


Aquelas jogadas de calcanhar, aqueles dribles secos em cima dos holandeses e o chute preciso contra o goleiro Jagger na goleada de cinco a zero no Morumbi, o golaço contra os franceses por cobertura no Parc des Princes, são itens de colecionador alçados às melhores lembranças do nosso sagrado futebol – e, por isso mesmo, sob o selo da imortalidade.


Um dos sobrenomes de Sócrates era – e é! – Brasileiro. Um de seus filhos tem o nome de Fidel.


Simples assim. E definitivo.



Paulo-Roberto Andel

Friday, December 02, 2011

CAI

cai a tarde
nasce a noite
e tudo voa rasante
no meio do
castelo
de caras.
somos
pouco
diante do
que tudo poderia ser, mas
assim mesmo
cremos no milagre
das compras de natal,
nas vitrines ricas
e outras futilidades
que parecem nutrir a alma
mas desaquecem
qualquer coração.
tocam os sinos,
fecham-se as portas
e agora é sexta-feira:
estamos ocupados
em viver até a morte,
no próximo dia útil
para depois ressuscitarmos
em novos corredores
de
consumo.




Paulo-Roberto Andel 02122011

MASSIVE ATTACK

MODERN TIMES



6


Crua a tarde nublada e chuvosa de sexta-feira. Ela intumesce o sentimento implícito de que o ano de 2011 já terminou. As ruas estão mais vazias. As pessoas vêm e vão mais lentamente. Talvez haja certa consternação por percebermos que o tempo escorre na ampulheta e não temos a felicidade eterna, indissolúvel – o que não quer dizer nada no meio de três bilhões de pessoas famintas. Quando estive no mercado ontem, noite os detalhes que já marcam o fim do ano: grandes estoques de bebida alcoólica, grãos e carnes diferenciadas, até mesmo ventiladores. Mais cedo, visitando a sala de trabalho de um amigo meu, o rádio tocava John Lennon com seu hino de Natal. Nos dias de hoje prefiro outra canção do ídolo: “Nobody told me”. O telefone já quase não toca, os e-mails são escassos; há muito trabalho a fazer, mas em outros formatos. E então olhamos para trás, visando refletir o que já passou. É pouco. Pensamos no que poderia ter sido melhor. É pouco. O que sei é que mais tarde os shoppings estarão abarrotados de sedentos consumidores, enquanto as marquises abrigarão os que nasceram condenados por tudo o que aí está, mas muitos fingem não ver porque lhes é mais confortável.



38

Outro dia, o travesti estava nas imediações da rua do Senado. Alto, ainda vestido de forma feminina, mas muito humilde e sem condições de cuidado estético necessárias para ostentar o glamour que, um dia, talvez tenha tido. É possível que esteja na casa dos quase setenta anos, idade de pai ou avô. Pedia dois reais aos transeuntes; dei-lhe cinco. Olhou assustado: não deve estar acostumado com maiores generosidades. Se soubesse de minha pobreza, ele entenderia. Ontem, fazia esquina com Washington Luiz e Tadeu Kosciusko – assim mesmo. Continuava a pedir, nem sempre tendo retorno. Pedintes sempre chamam minha atenção porque eles são a mais evidente prova da injustiça em que vivemos neste mundo, onde muitos têm tanto e outros, nada. Neste caso, a atenção foi acentuada porque nunca tinha visto um travesti pedir esmolas em minha vida. Deve haver várias razões para isso. Muitos não chegaram à idade madura por diversas mazelas. Outros, vivem recolhidos. O senso comum, muitas vezes mais raso, não atenta para o travesti com alguém que pode ter vida longa, o que pode ser reforçado no imaginário pelos inúmeros jovens que se prostituem nas grandes cidades. Todos os dias ouço debates sobre a questão do respeito à homossexualidade no Brasil – todos justos, por sinal. O movimento homoafetivo consegue colocar milhões de pessoas nas ruas das grandes capitais em manifestações de civilidade. Será que não poderiam cuidar também dos travestis na terceira idade, que não são muitos? Melhor ainda: podemos entender como feliz uma sociedade que se acotovela frente às vitrines de natal enquanto temos ainda tantos moradores de rua? Desconsiderar isso pode ser algo normal?



4.501

Gosto do Fluminense. Amo o Fluminense. Não tenho paciência para torcedores desagradáveis que se julgam senhores da razão. Futebol não tem propriamente lógica e nem é ciência exata. Às favas com os chatos que só vêem defeitos porque o time não foi campeão este ano; não passam de carpideiras rancorosas oferecendo seu licor de ridículo ao eleitorado. Estamos na Libertadores e vamos brigar com títulos em 2012. O resto é idiotice barata ou prepotência que cheira a charlatanismo.



0,14

co
gito
regur
gito
co

 
3,0579

tudo o que me veste é tempo
algo do que sonho é aurora
então desnudo-me em lágrimas
frente ao fim que me atordoa


¼


Tempo é arte, foi o que eu aprendi/ Não é dinheiro ou outra coisa que se conte/ É uma outra dimensão/ Toda vida vive da luz do sol/ Que se faltasse tudo então pereceria/ Foi o que eu aprendi de tanto ver se repetir/ Que anestesia, e eu já nem sentia, ia me destruir/ Mas não aconteceu, estou aqui/ Toda vida, eu quis tanto querer/ Como se não bastasse o que já me cabia/ Na esfera emocional/ Na verdade eu sou outro você/ Tanto que enxergo em ti o que em mim não veria/ Foi o que eu aprendi de tanto ver se repetir/ Que anestesia, e eu já nem sentia, ia me destruir/ Mas não aconteceu, estou aqui (Lulu)

 
 
14,6565656565
 
Tempos modernos, hipocrisia jurássica.
 

Thursday, December 01, 2011

COGITAÇÃO

Tuesday, November 29, 2011

GOMES FREIRE



Perto do fim da rua, depois da entrada do Motel Sheik, enterraram mais um pedaço da minha adolescência.


Há pouco menos de trinta anos, tentei arrumar emprego numa banca de jornal quase na esquina da rua Gomes Freire.


Em frente, havia o legendário bar "A Paulistinha", com bloco de carnaval e que também pertenceu ao banqueiro do jogo-de-bicho Zinho. Um dia, Zinho sumiu; o bar continuou.

Há cinco anos, bebi um chope gelado por lá.


Na internet, alguém escreveu sobre as qualidades seculares da Paulistinha. Depois, comunicaram o fechamento. Ou seja, o lendário bar acabou. Faleceu. Não deixou herança.

"A Paulistinha é um dos mais tradicionais bares da cidade do Rio de Janeiro. Ponto de encontro desde 1925, o boteco se mantém fiel às caracteristicas dos antigos bares: atendimento no balcão e poucas mesas que dividem o espaço com as geladeiras.".

"Infelizmente A Paulistinha fechou. Outro dia passei lá e encontrei o bar fechado. Pensei que estivesse em reforma, mas não. Foi-se o único paulista gente boa do Rio. E pior: perdemos junto outra chopeira vertical de bronze. Agora são pouquíssimas em funcionamento na cidade, que aos poucos estão sendo substituídas por chopeiras elétricas. Acredito que é uma excelente oportunidade de marketing para a Brahma, produzir mais alguns exemplares e não deixar esse tipo de equipamento ser extinto."


A banca de jornais onde eu ia ter meu primeiro emprego - e que não deu certo - simplesmente desapareceu. Foi removida. Em seu lugar no chão, apenas sacos de lixo. Naquela esquina, quanta gente foi feliz ou afogou suas mágoas. Casais uniram-se e desfizeram-se, amizades se fortaleceram, risos e encantos proliferaram. Hoje, é uma esquina sem vida. Não bastasse matar os bares, agora deram para enterrar as bancas?


Há trinta anos eu era apenas um garoto em busca de um emprego numa banca de jornais para ajudar minha família.


Hoje, sou um transeunte a passar pelo cemitério das minhas lembranças.

Paulo-Roberto Andel

Sunday, November 27, 2011

DEIXEM LOU REED CANTAR




Deixem Lou Reed cantar. É preciso ouvir a reinvenção do poeta. No rosto vincado, a história busca mais passos definitivos além dos que já foram dados. Que cante como rap ou texto falado, mas cante. A generosidade do peso das guitarras a lhe cercar soa como sinfonia, ainda que no inferno – mas o que será realmente o inferno senão nossa própria indiferença contemporânea? As guitarras urram e Lou Reed declama, mais poeta e artista do que nunca. Não importa que seus versos crus celebrem tortura e morte – eles têm um papel importante e, se algo nisso nos horroriza nisso, é porque temos sido muito esquecidos, relapsos e hipócritas com o que acontece à nossa volta. É Lou quem nos lembra e alerta. Deixem Lou Reed cantar. Quando falava de heroína e travestis, o poeta também era discriminado; nossa hipocrisia via nele um símbolo de asco, mas já se passaram quase quarenta anos e o que era asqueroso deve ser lido como visionário. Por vezes, queremos um mundo onde tudo seja belo e magnânimo, rico e saudável, imponente e aprazível, mas o que fazemos para que tais anseios se materializem em bem comum? Nada, mil vezes nada, e é por isso que há importância em que Lou Reed permaneça impávido rumo aos setenta anos de idade, causando a mesma estranheza de sempre. Os ouvidos convencionais rejeitam-no por ora, da mesma maneira que fizeram com o Velvet Underground para depois, amargamente, arrependerem-se. Deixem Lou Reed falar, cantar, gritar e declamar sua poesia intocável, mesmo que ela cause repulsa ou rancor; não cabe fugir das perspectivas da vida. Não podemos nos trancar em abomináveis condomínios de ponta, sem contato com o próximo, degustando a saudável mediocridade da solidão frente à televisão. Não devemos - ou deveríamos – perder tempo censurando as idéias dos outros que têm a ver com arte. O fato é que Lou Reed precisa cantar, porque esta sempre foi a essência de sua vida. As guitarras do Metallica prestam-lhe admirável tributo. Todos precisamos ter noções mínimas de ética antes de condenar a estranheza de qualquer manifestação artística. Deixem Lou Reed cantar, pois está vivo e isso significa alguma esperança da inteligência na Terra. Deixem o poeta cantar: ele está vivo.

Friday, November 25, 2011

MISCELÂNEA!


Hoje eu faço quase um feriado. Um entretanto nestes dias nem tão frios, nem tão tristes e que não cabem direito nos sonhos de um porta-retrato. Um finalmente depois de muitas horas de angústia, o mar da incerteza, muito descaso e a indiferença que só sente quem tem a pele açoitada pelas mazelas da vida. Desliguei o telefone para qualquer pessoa que só me use como passatempo para suas horas inúteis. Não respondi as mensagens daqueles que copiam textos e me enviam por absoluta falta do que dizer. Não, definitivamente não é necessário perder tempo com quem não o valoriza; segundos escorrem e precisam de carinho e atenção. Hoje, eu sou quase um feriado. As salas ao lado são embebidas por silêncio e quase nenhum atentado. Eu não penso na mulher amada, tão-somente um punhado de sexo energizado em dois seios salientes, de bicos relevantes e algum tesão acumulado. Os jornais, deixei ao longe; o som, desligado. Ninguém é de ninguém e a ninguém importa o que me faz calado. Rio daqueles outros, também em silêncio, tementes de que eu lhes peça ajuda, aconchego, um tostão furado. O jazz me espera em casa, com um prato barato, algum conforto, as delicias de idílio que carrego à mente e mais nenhum outro pecado. Nada me apavora por ora; isso é incrível, não se explica e talvez este seja meu único predicado.

Tuesday, November 22, 2011

FINS

Friday, November 18, 2011

NOSOTROS


os outros são
desocupados
sórdidos
enturmados
entediados
e tantos adjetivos
mais
que não lhes sobra
tempo
para exercer
a dignidade humana
em quatro
costados

os outros são
encafifados
malversados
assoberbados
atrapalhados
e mais um calhamaço
de bons e maus
pecados

os outros são normais
os outros somos nós
débeis qualidades
enquanto o mundo
é nosso
mas o fazemos com tanto
nada-de-mais
não-tenho-culpa
aqui-jaz
e mais um punhado
de vãs futilidades -
os outros somos voz.



PauloRobertoAndel19112011

Monday, November 14, 2011

CASA DE PRATA

1
A morte está nos olhos
fatigados

de quem a descrê

2
Uma superfície

de pétalas
não resiste
à sua inerente
delicadeza;
a rijeza de que
carece é
ao mesmo tempo
sua algoz e oxigênio
essencial


3
tatiana não veio
e nem poderia:
está ocupada
em nascer e morrer
de amor barato
numa casa de prata
em férias tchecas,
enquanto drago
o lodo inerte
do rio
que inundou
minha vida


4
nenhum castigo
me dói mais
do que ser estrangeiro
em meu próprio
bairro,
poeta entre
conversas vazias
e humano
em tempos
modernos
que já aboliram
esse obsoleto
modelo.


5
vitória
riqueza e
auto-ajuda:
retratos
de uma alma
inerte
frente ao espelho
sujo
rachado e
cru.




paulorobertoandel141111

ITAMAR ASSUMPÇÃO

Quem Canta Seus Males Espanta

Entro em transe se canto, desgraça vira encanto
Meu coração bate tanto, sinto tremores no corpo
Direto e reto, suando, gemendo, resfolegando
Eu me transformo em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento
Às vezes eu choro tanto, já logo quando levanto
Tem dias fico com medo, invoco tudo que é santo
E clamo em italiano ó Dio come ti amo
Eu me transmuto em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento
Vivo voando, voando, não passo de louca mansa
Cheia de tesão por dentro, se rola na face o pranto
Deixo que role e pronto, meus males eu mesma espanto
Eu me transbordo em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento
É pelos palcos que vivo, seguindo o meu destino
É tudo desde menina, é muito mais do que isso
É bem maior que aquilo , sereia eis minha sina
Eu me descubro em outras, determinados momentos
Cubro com as mãos meu rosto, sozinha no apartamento
Entro em transe se canto às vezes eu choro tanto
Vivo voando voando é pelos palcos que vivo

DRAMA

tenho as mãos espalmadas
como se fosse uma reza
mas não tenho talento:
desacreditei de falar
com quem não vejo
não sinto
e que nunca esboçou
qualquer preocupação
por mim.
perdi o talento
em falar com paredes de carne
osso
músculo
e hipocrisia.
desliguei as tomadas
e os telefones.
abdiquei das cartas
por ora, minha catarse
é degustar o nada
o vazio
o fim que floresce
e que nada pode deter.
tambores que rufam
destinatários ausentes
alguma patifaria
e nenhuma emoção barata
no que chamam
vida à carne viva
tesa, lúcida
desenfreada
e, mais do que tudo,
harmonicamente
desiludida.
rejeitei a farsa.


PauloRobertoAndel14112011

AUTOFAGIA

de tanto que me mastiguei
meus dentes molares doeram
com a rizeja de minha própria
pele
então regurgitei
fiz um colapso de mim mesmo
e não senti nojo algum
o que somos além de mera
substância
que se transforma
deteriora
e rumina a si mesmo
ora em podridão
cinzas
ou fartura de nada?

paulorobertoandel 14 11 2011

ACERTO DE CONTAS


1974

Fazíamos fila indiana na Praia Vermelha. Alguns soldados e pessoas do Exército estavam perto. Perguntei à Tia Diva porque a praia era chamada de "vermelha". Os adultos me olharam de jeito desapontador. Eu tinha seis anos. Era a ditadura afrontada pelo meu olhar de criança. Estupidez. Tirania. Ignorância.

1977

Quando chegamos à porta do prédio da avenida Edgard Romero, minha mãe caiu em lágrimas. Saíamos da relativa riqueza para a miséria. Eu chorei por vê-la triste. No minúsculo apartamento, uma parede falsa tinha colagens de fotos; era habitado antes por estudantes da faculdade do outro lado da rua. Uma delas era a de Mussolini morto, pendurado de cabeça para baixo. Eu não sabia quem era, mas chorei outra vez. Veio o Natal e meu pai perdeu sua última loja. Estava falido, desesperado, começou a quebrar as coisas. Voltamos no último banco de um ônibus, eu e minha mãe. Era 24 de dezembro. Meu pai só apareceu em casa no dia seguinte. Em seis meses, perdemos uma cozinha inteira e minha mãe passou a cozinhar num fogareiro. ela tinha 32 anos; meu pai, 36. 


1978

Meu pai arrumou emprego no Centro, voltamos a morar em Copacabana. Minha mãe se sentiu feliz por algum tempo. Eu gostava da praia. Era bom voltar às ruas da infância. Meus amigos se afastaram de mim porque eu era pobre. Conheci Fred e fui com ele até o fim, quase 30 anos depois.


1993

Depois de dores e alegrias, novamente deixei Copacabana em desespero. Foram dois anos difíceis; arrumei a seguir um emprego razoável e comecei a ajudar meus pais. Meu pai parou de andar seis meses depois disso, ficou um ano internado. Para cada estrada nova, pedras e pedras no caminho. Vivemos quase bem.


2008

Em menos de dois anos, perdi minha família toda. Pais deram adeus, meu irmão fechou a porta e nunca mais quis saber de mim só porque eu era contra ele se aproximar de riscos do crime. Antes, o Xuru; depois, o Fred. Todos os queridos falecidos foram enterrados em dias de sol lancinante. Quem me convence da beleza destas cores?


2011

Agora que estou morto, nenhum pecado ou prazer me regenera.


Paulo-Roberto Andel

Sunday, November 13, 2011

QUALQUER AGORA

e agora
é o céu que chora -
chuva diz de lágrimas
derramadas
muitas vezes em vão
em silêncio
e mesmo que muitos
as vejam
calar é mais
confortável!

e agora a lua dorme
oculta
pelo negrume da noite
quente
que não afaga
aquece em vão
o frio de cada alma
indiferente

e o agora é o fato
a dor
a solidão
a perda incomensurável
o fim que entristece
e atemoriza
mesmo que depois dele
nenhum fim
seja fim de verdade

o agora é o outro dia
mesmo que seja
a repetição insosssa
de insucessos idos:
repetir
insistir
perseverar
mesmo que as mãos
estendidas
à beira da calçada
só colham o desprezo
que quem as vê mas não enxerga -
cego que é
pela própria inconsciência
ou o descaso
da essência.


Paulo-Roberto Andel, 13/11/2011

Friday, November 11, 2011

FERIADÓPOLIS



A

 
Nossa sociedade, no bojo, muitas vezes defende a "cadeia para estudantes maconheiros", mas também fuma; a "porrada nos camelôs" que enfeiam as cidades, mas também compra as mercadorias baratinhas; a punição de "todos" os politicos, porque "todos" são corruptos, mas gosta de sonegar impostos; é contra as "bolsas assistencialistas", mas não tem nenhuma atitude para ajudar a diminuir o desnível na concentração de renda. Finalmente, depois de dar de ombros para o próximo, ela não quer que aqueles que foram eternamente marginalizados e, em sua maioria, submetidos às piores humilhações e privações, sem o menor amparo social, queiram tomar o seu carro, a sua bolsa ou mesmo a sua vida.

O que nos assola propriamente? A indiferença? A ignorância? A estupidez? Ou a burrice?

Eles estão muito ocupados no feriadão.


B


Não se trata jamais de ser permissivo com o crime. Jamais.

Mas onde ele, crime, realmente nasce?

Da “má-índole” dos mais pobres ou do descaso dos mais ricos?


C


Prenderam mais um chefão do tráfico. Mas o consumo não vai parar. Parte da Zona Sul precisa de cocaína para dar algum sentido ao vazio da vida, mesmo que isso custe mortes, estupros, terror. As pessoas estão ocupadas na sala de jantar.

Retratos de uma guerra inútil e interminável.

É  bom saber que as mortes e a opressão vão diminuir. Mas ainda é pouco.


D

Certa vez, nos tempos de escola, conheci um sujeito. Era mirradinho, humilde, pobre, bom garoto. Estudava de graça, assim como eu – e quem precisou disso sabe muito bem o que significa: foi o que salvou a minha vida.

Os anos passaram. Eu também era pobre e humilde, não mudei muito.

Tempos depois, encontrei o sujeito. Virou um funcionário público bem-abonado – com méritos. Mas o discurso mudara. A pobreza e a humildade se dissiparam, dando lugar a um discurso extremamente reacionário e calcado na “livre iniciativa” que, se fosse tomada ao pé da letra, não teria lhe permitido deixar de ser pobre – quem é contra a escola pública não deveria tê-la como beneficiário. Só o capitalismo salva, só o capitalismo constrói. A retórica era bem-construída do ponto de vista da sofisticação, mas na verdade omitia o principal: nada pode ser pior do que dar as costas às origens. Ou dar de ombros. A ele dediquei um minuto de silêncio. Descansou em paz.

Nestas horas, tento entender a mim mesmo. O que é falácia, o que é escárnio.

Lá fora, as pessoas estão ocupadas com a novela.

Não me venham falar de ideologias. Eu falo de matemática. Tabuada, equações miseráveis. Simplicidade.

Que liberalismo servirá para pagar os 7 trilhões que os EUA colocaram na pendura pública sem que milhões de pessoas famintas no mundo continuem a sê-lo?



E


A perfeição é mera indelicadeza.


F


Ézio não foi somente meu artilheiro ou ídolo. Foi meu super-herói.

Como perder um super-herói impunemente?


G

Rap 1

agora caibo num punhado/ a palavra e um punho cerrado/ migalhinha sem açoite, pobre sem dote/ uma luzinha que pisca à noite no topo do morro/ mas o túnel passa tão longe/ e o caminho tira sarro/ beijo o asfalto feito um pedaço de papel picado/ atirado com vã fidalguia/ pela janela de um grande edifício na avenida central/ durante a passeata-carnaval/ irrisório, sou fulano-de-tal/ e não me acostumo com a hipocrisia/ que habita a eugenia das ruas/ preto chora na marquise/ branca esnobe na boutique/ oscar freire, vieira souto, tanto faz/ ele te fita testa abaixo/ relaxa sem rir/ se a morte me atordoa/ é um dar-de-ombros/ descanse em paz

Rap 2

rapte-me/ faça-me gozo de teu corpo tátil/ uma casa aprazível/ um naco de carne palpável/ eis meus seios em delírio/ cobiçando lábios nos bicos/ o que chamam tesão é indescritível/ namore meu colo/ meu ventre umedecido/ e venha preciso, decidido/ lá fora, o tom da morte/ aqui dentro, deleite no idílio.



 H

"Piririm, piririm, piririm: Jairo de Sou-Za!"

Tuesday, November 08, 2011

TEMPOS MODERNOS

Saturday, November 05, 2011

MENDIGO

cansado
de sustentar as mãos
espalmadas
enquanto a
indiferença caminha
a passos largos,
entre bolsas e sapatos
rumo à futilidade
dos próximos capítulos

perdido
na rijeza oca
que inunda
o descompromissado,
este tão ocupado
com sua tola vida
a escorrer
feito macarrão
requentado

testemunha
do pleno exercício
do que há de pior
na vida humana:
a hipocrisia,
oxigênio daqueles
que se escondem
atrás de seus deuses
quando não passam
de pobres
diabos
confusos entre o ter
e o não ser -
eles também são mendigos,
mas não percebem ainda
a miséria que significa
o vazio de suas
miseráveis
almas.


Paulo-Roberto Andel, 05/11/2011

Friday, November 04, 2011

SUSCITO

A MIOPIA


x

Perdi a conta de quantas pessoas eu conversei estes dias, profundamente infelizes com futilidades. Na verdade, todas, com exceção de um grande amigo meu, que sei estar triste com razão e de outra amiga, cujo problema conhecerei mais tarde. E o que chamo de futilidade? O que não coloca em risco ou desgaste a vida da pessoa e de seus próximos. Acordar cedo não é motivo para ninguém se sentir triste. Trabalhar muito. Encarar o trânsito. Não comprar a roupa de moda da semana. Tristeza para mim é fome, violência, pobreza, miséria, ruína, doença. O resto é bobagem, com se um ou outro quisesse dar um dom de drama profundo ao ridículo da vida.

Sete bilhões de pessoas na Terra, a maioria extremamente miserável.

Bastava pensar nisso para não fazer um papel grotesco em público.

Com minhas dores, minha fome, meu cansaço e pensamentos inevitáveis, às vezes ouço calado. Noutras, falo o que é importante... para mim. Quem tem desapreço pelo outro não há de se comover com minhas querelas.


y

O meu amigo realmente importante lá de cima me disse algo que me fez pensar e achei genial: "As pessoas se escondem atrás de seus deuses (e religiões) para justificarem toda sua falta de atitude".

Atitude para com o próximo. Com a vida. O outro.

Não é infeliz aquele que só poderá ir a Manhattan semana que vem.

É algo que sempre tenho visto em minha vida. Por não ter religião, sempre fui tratado em algum grupo social com reservas; enquanto isso, pessoas se divertiam alegremente à minha volta e, diante do problema de um terceiro, o equivalente ao que mais ouvi foi: "Melhor não falar nada, não quero me comprometer".

Outra afirmativa abominável é aquela que diz "Todo mundo tem problemas" no sentido de torná-los iguais. É o que se chama de erro de inferência clássica: generalizar o particular.

Encontrar alguém na rua quando você está visivelmente transtornado e ela te diz: "Está acontecendo alguma coisa?". Não sei até onde vão a ignorância e a hipocrisia, de mãos dadas ou calçadas separadas.

Continuo com fome.


z

Parece claro que os fundamentos elementares da matemática, ciência tão importante e ainda não absorvida pelo homo sapiens, não conseguem esconder a inviabilidade econômica do que hoje é a Europa, mais os 7 tri torrados na dívida pública norte-americana. Durante décadas, venderam a mentira de uma prosperidade sustentada na economia neoliberal. Um dia a conta chegaria. Chegou.
Por outro lado, chego a me assustar quando ainda vejo tanta gente idiota referindo-se ao "comunismo" (entre aspas mesmo) como algo "atrasado" e "primitivo". Além de não lerem uma página sobre o assunto, encarregam-se de distorcê-lo. Seria interessante que os mesmos defensores ardorosos deste atual modelo de excludência fossem convidados a audiências via internet para justificarem o que pensam.

Talvez fosse mais engraçado do que 90% da programação de televisão no Brasil.

Justificar o injustificável.

Quem diria... a Europa se curva perante uma tabuada.


@

Tenho dores.

Lá fora é uma sexta-feira.

Vamos ao shopping center, vamos ver a galera, vamos beber até cair, vamos zuar?

Vamos?

Me mantenha fora disso para sempre.


w

Acabou o ano. As ruas estão mais vazias, as salas de trabalho estão mais silenciosas, o telefone oferece silêncio. Somos números, estatísticas. Emolduramos relatórios e vivemos para almoçar correndo, sair do trabalho correndo, chegar em casa correndo e, entre estes intervalos, vivenciar o inevitável nada. Em breve, chegam aquelas confraternizações sem amigos onde muitos vão beber até caírem. Qual o sentido de um dia no ano se todos os outros são vividos sem a fidalguia mínima?


#

Definitivamente, nada pode ser mais inútil do que alguém que cumpre seus "deveres religiosos" e trata a crença como um plano de capitalização para o futuro, enquanto a vida real e fazer o bem são itens fora da pauta.

Como se perde tempo com o futuro sem viver o presente.

Se Deus houver, certamente ele não aprova isso.


&

Será que depois de tanta fome, tanta dor e incompreensão, ainda tenho futuro?

Somos sete bilhões de pessoas na Terra.

Nunca fomos tão solitários com nossos modernos computadores. Vazios, quando lambemos a ganância e a usura em nossas peles. Inconsequentes, quando achamos que só somos responsáveis pelo que fazemos - e o que não fazemos, como fica?


9*t

A coluna de hoje não fala de sentimentos piegas, nem tem caráter evangelizador. Ela não fantasia e nem finge. É apenas uma crônica dos nossos dias e da nossa estupidez na condição de sociedade. Se você entendeu isso, meus sinceros agradecimentos. Se não, sem problemas: não há nada que não possa ficar mais claro depois de lido seis ou oito vezes.


xyzt

"Drume negrita/ Que yo va a comprar nueva cunita/ Que tendrá capite' y también ca'cabe'"

Ernesto Grenet Wood.


09dfe5
http://www.youtube.com/watch?v=o22eIJDtKho