Friday, December 20, 2013

Férias

Volto em janeiro.

Obrigado por tudo.

Beijo beijo.

@pauloandel

Friday, December 13, 2013

O GOLPE DE SEGUNDA-FEIRA 16/12 - A FARSA DE RIZEK, RMP E A CAMARILHA


Por Paulo-Roberto Andel 

O desespero dos respeitáveis homens (melhor dizendo, seres humanos registrados cartorialmente como homens) da grande imprensa esportiva parece não ter fim.

Mentem, sabotam, subvertem, omitem, tudo em prol de velhos interesses notórios que buscam preservar na condição de doces lacaios.

A diferença do momento atual para outras armações jornalísticas passadas está num fato inédito no futebol brasileiro: a INTRANSIGENTE DEFESA DE SE RASGAR O REGULAMENTO DO CAMPEONATO BRASILEIRO, descumprindo um item cristalino que trata do impedimento de atuação de atletas suspensos. 

Os que se diziam tão éticos e defensores da moralidade não hesitam em utilizar de forma torpe e leviana a covardia do poder da imprensa não para informar, mas sim desviar focos e principalmente fazer garantir seus objetivos pessoais.

Qualquer pessoa minimamente letrada em termos de futebol brasileiro sabe o que o Fluminense vem sofrendo em termos de achincalhamento jornalístico nas últimas décadas, tudo por conta de fatos que jamais influenciou ou impôs. Domingo passado, a torcida Tricolor aceitou com tristeza e maturidade o resultado final do campeonato brasileiro, sem que se soubesse da denúncia a respeito da irregularidade crassa cometida pela Portuguesa de Desportos. Tristeza, nenhum rancor e a certeza de que vale o resultado de campo, desde que ele não esteja enlameado por fatores exógenos tão bem articulados por papeleteiros amarelos. 

Em nenhum momento, estes respeitáveis homens de imprensa teriam escrito uma única linha se o resultado final da competição tivesse na décima-sétima posição o Náutico, a Ponte Preta e outros times da primeira divisão que eventualmente pudessem estar na zona de descenso. Trata-se de um problema pessoal contra o Fluminense F.C. e sua imensa torcida, tanto por rancores pessoais quanto pela necessidade de arranjar um bode expiatório para os males do futebol brasileiro – que começam por quem banca, transmite e emprega tais pessoas.

Torcedor do Fluminense, DIGA NÃO À FARSA! CHEGA DE NOS DESRESPEITAREM COM ESSE JORNALISMO FAJUTO!

Não se trata de içar o nosso time a nenhuma divisão privilegiada, mas sim de defender o respeito às regras e regulamentos estabelecidos. 

Manifeste o seu repúdio neste momento nas redes sociais, nos jornais, em toda a internet, nas ruas. 

Na próxima segunda-feira, às 16 horas, a pilantragem da FlaPre$$ marcou o evento abaixo descrito:

"O futebol brasileiro já viu várias vezes o desprezo pelas regras e normas do futebol brasileiro, provocando três viradas de mesa dignas de vergonha. Agora querem provocar uma quarta. Chega de tanta safadeza no futebol! Segunda, dia 16/12 haverá às 17h o julgamento pelo STJD que quer outra virada de mesa. Se você não concorda com essa malandragem e ama o futebol, compareça na porta do julgamento, com a camisa do seu time, seja de que divisão for, e mostre para o STJD que futebol se ganha em campo! O endereço é: Rua da Ajuda, 35 - Centro do Rio de Janeiro - RJ.”

Torcedor do Fluminense, é hora de reagir a essa pilantragem com a nossa camisa, o nosso grito e mostrar que a nossa força está acima de qualquer divisão e, PRINCIPALMENTE, CONTRA A MANIPULAÇÃO DE CAMPEONATOS BANCADA POR PARTE DA IMPRENSA ESPORTIVA NACIONAL.

Tuesday, December 10, 2013

blood

se soubesse da dor
que flama e rasga
que dilacera e causa
infernos aos olhos nus
talvez mudasse, risse
vivesse sem paz mas cor
talvez cantasse firme
um recado bom de amor
se soubesse da dor
que arromba a alma
talvez pensasse, triste
que ninguém pode ser
feliz fazendo sofrer:
apenas justo um viver

@pauloandel

Friday, December 06, 2013

a chuva

agora que chove
penso nos doentes
os desaparecidos
as dores debaixo de marquises
penso nos mortos e vivos
a solidão parece chuva:
cai, chora e sai
destrói e diz adeus
os outros pensam apenas
em mais um dia de sol
parlapatões e boquirrotos
ansiosos por um domingo
de caos
e tudo é tão desimportante
frente às tragédias humanas
que chamamos cotidiano
tudo é tão desimportante
que deslumbrar-se é apenas
o precipício da alma

@pauloandel

Friday, November 29, 2013

dois garotos pretos

DOIS garotos pretos sentados na calçada próxima ao estacionamento anexo ao edifício da Cruz Vermelha no coração da cidade do Rio, algo em torno de sete horas da manhã, talvez tivessem doze ou quinze anos, garotos do mesmo jeito. Limpos - mas humílimos em suas vestes -, com ar de tristeza numa sexta-feira que irradia sol sem querer dizer que isso resume a vida em forma de felicidade – pessoas vão morrer, pessoas vão ser enterradas, pequenas e grandes tragédias pessoais podem acontecer, eu mesmo enterrei praticamente todas as pessoas queridas por mim em dias de sol desértico.

Dois garotos pretos silenciosos, de olhar perdido e um silêncio de dar dó, como se o mundo parecesse a desolação suprema – por que não? – que nasce diariamente nas grandes cidades, com seus edifícios supremos, sua opulência e um completo dar de ombros ao próximo. A cidade das pessoas descartáveis. O mundo onde talvez baste o telefonema rápido, o e-mail, a frase curta no whatsapp e tudo está resolvido porque não se pode perder tempo – e ele deve ser investido em que mesmo?

Dois garotos pretos, pobres, limpos, mas vestidos com roupas bastante humildes, não pareciam moradores de rua e nem dotados das mazelas cotidianas que geralmente mostram suas garras a olhos nus, tais como o uso das drogas da morte. Apenas dois garotos mudos, de olhar perdido, vagando por galáxias que ninguém saberá descrever – talvez nem eles mesmos – num cenário urbano e frio em pleno dia de sol no Rio de Janeiro, geralmente melhor aproveitado pelos mais abonados e desocupados – estes, temporária ou permanentemente falando. A cidade está viva, o verão se avizinha, o ano começa a dizer adeus e todos falam de seus planos, suas promessas, os novos velhos sonhos que, de certa forma, nos oferecem combustível para percorrer a longa estrada da inevitável solidão – por mais que se esteve perto de quem se gosta, de quem se ama, é impossível não pensar na mesma solidão em algum ou vários momentos.

Dois garotos pretos, pobres, limpos, vestidos com roupas humildes, com olhar perdido. Retratos de um mundo que jamais será justo. Retratos de uma reflexão sobre o sentido das coisas, o sentido da vida – se é que ele existe -, o tempo que desperdiçamos com bobagens, vaidades, obsessões, que nada significa diante do fato que aqui somos mera passagem, ninguém pertence a ninguém, o eterno não passa de efêmero. Grandes anúncios de grandes corporações na televisão, nos computadores e jornais, qualquer lugar. Seja um vencedor, tenha o poder, desfrute das boas coisas da vida, seja o melhor, tudo num balaio de grandes babaquices quando o mundo se resume a amigos, amores e alguma alegria vã, num intervalo entre as dores.

Dois garotos tristes. Ao me aproximar, disse-lhes uma saudação de bom dia. Não responderam absolutamente nada. Entendi.

@pauloandel 

Monday, November 25, 2013

juice

insone um amor
que se baseia em
nada vaga e flana
sem rumo ou destino
tropeça em sonho
e pisa firme à toa
em realidade alguma
insone um amor que
se basta, mendigo de
seu próprio destino
insone amor tão vivo!

@pauloandel

Friday, November 15, 2013

enquanto


enquanto a cidade sangra um canto debaixo do sol alguém
dorme como se fosse um sono
da morte alguém padece como se a vida fosse apenas paciência entre noites insones
a cidade sangra suas esquinas
e marquises solitárias
casas de campo para quem não vê Deus enquanto a cidade namora a solidão o céu troca seu gris por cobalto azul
a primavera já não demora
a cidade cobiça uma nova estação
a cidade rasga um pranto em vão
até que surja uma velha nova canção
outra nova canção

@pauloandel

Wednesday, November 13, 2013

Insones

ninguém viu ao certo a lua nova na Cruz Vermelha
enquanto mendigos mexiam em seus escombros de vida
buscando matar a dor da fome e do medo
vasculhando pequenos banquetes no lixo entulhado
ninguém viu nada ao certo ou mesmo incomodou-se
há quem creia que tudo não passa de opção ou hábito
há quem dê de ombros e depois penitencie-se em amém
ninguém viu a dor dos garotos desmaiados na praça
viajando em céus de limão com o sorriso do crack
o mundo noutro mundo que não condiz com mundo algum
há quem creia que tudo não passa de opção ou hábito
há quem dê de ombros e depois penitencie-se em amém
ninguém viu com clareza a lotação debaixo da marquise
numa noite de chuva e frio duma primavera esquisita
as flores não são mais os abre-alas da nova estação
mas acontece que ninguém viu direito ou concentrou-se
as pessoas estão ocupadas demais para pensar em alguém
pois somos uma grã-sociedade de fina competitividade:
quem tem mais sai na frente, quem não tem apenas se dana
ninguém viu ao certo a lua nova na Cruz Vermelha
há muito a se fazer para construir castelos de nada

@pauloandel

Friday, November 08, 2013

O velho "Novo Maracanã"

Por acaso foi num jogo do Flamengo.

Mas poderia ter sido no de qualquer outro time.

Inaceitável.


From: jaafreire@hotmail.com
To: atendimento@nrnoficial.com.br
Subject: Falta de respeito
Date: Thu, 7 Nov 2013 12:35:11 -0200

Boa tarde.

Estou entrando na justiça conta o programa Nação Rubro Negra, em defesa dos direitos do consumidor e pelo vexame que eu passei ontem no estádio do Maracanã, por ocasião do jogo Flamengo x Goiás.

Comprei meu ingresso através do site no dia 04/11, as 15:03 hs, e optei para retirar em uma loja.

Fui ontem (06/11 às 14:00 hs.) na loja Espaço Rubro Negro do Shopping Grande Rio para retirar.

Infelizmente  - e para meu espanto! - o ingresso no sistema já constava como retirado.

Entrei em contato via telefone no SAC do NRN, fiz uma reclamação e enviei um email reclamando.

Por volta das 17:00 hs. liguei novamente para o SAC para cobrar uma solução, fui informado que já estava resolvido o problema, mas que eu deveria retirar o ingresso no estádio do Maracanã. Cheguei no estádio e retirei o ingresso as 20:30 hs, logo depois fui direto entrar no estádio, já que o resto dos meus amigos e familiares já se encontravam lá dentro.

Então, quando passei na roleta o meu ingresso apontou como já utilizado e não me permitia a entrada. Falei com as pessoas do NRN no estádio , mandaram eu voltar no container onde retirei o ingresso para resolver; chegando lá, ninguém quis me atender e não quiseram se identificar, falaram que eu já tinha o ingresso e não podiam fazer nada.

Fiquei fora do estádio na chuva, quando a Policia Militar me ilevou até o Jecrim para prestar queixa; lá, o Jecrim me enviou para o advogado do consórcio Maracanã, esse me indicou um responsável do NRN, que dali voltei até a bilheteria, onde fiquei esperando na chuva mais 20 minutos para o Sr.Leonardo do NRN aparecer e autorizar a minha entrada no estádio somente às 22:40 hs, tendo perdido todo o primeiro tempo do jogo por conta de uma logística ineficaz.

O jogo já estava no segundo tempo, a bateria do meu celular não tinha mais, só fiz questão de entrar para não deixar meus familiares - que são de fora do Rio - perdidos na volta.

Tenho toda essa saga da falta de respeito com o torcedor pagante do programa - desde o inicio do programa sócio torcedor - gravada em vídeo e documentada.

Sinceramente o que me resta depois de ontem é entrar na Justiça contra vocês pela falta de respeito com o consumidor e torcedor.

Sem mais,

José Augusto Freire



Monday, November 04, 2013

Arnaldo Baptista - Lóki

Documentário biográfico brasileiro de 2008 de longa-metragem (120 minutos), dirigido por Paulo Henrique Fontenelle e produzido pelo Canal Brasil sobre a vida e a obra de Arnaldo Baptista, líder e fundador da banda Os Mutantes, um dos grupos musicais mais importantes da Música Popular Brasileira e fundamental no movimento conhecido por Tropicália.

Além do próprio Arnaldo Baptista, vários artistas que acompanharam e participaram da trajetória dos Mutantes e da posterior carreira solo do músico, prestam longos e emocionados depoimentos: Tom Zé, Sérgio Dias (irmão de Arnaldo), Gilberto Gil, Roberto Menescal, 



Thursday, October 31, 2013

poetas de calçada

os poetas de calçada
e as ruas desertas, frias
como um feriado
cinza a se avizinhar
a vida é o escorrer
dos sonhos roubados
lembranças do choro
numa flauta, um violão
os acordes em procissão -
pacíficos mendigos
esmolando o presente vil
garotas que sofrem
o descobrir do desamor -
a vida em vigas e vãos
sem cor de contradição
exceto por um corpo santo
que se nega a dizer amém -
o coração da cidade é manso
os homens sem paz de espírito
e um santo perdido no mito
renega seu amém sem ter
sentido, fuga ou réquiem

@pauloandel

Tuesday, October 29, 2013

Só dez por cento é mentira

um dos
maiores poetas
da língua
portuguesa

como você nunca
viu

ou leu


Wednesday, October 23, 2013

os eus

eu e meus eus:
tudo cheira a porém
algo suscita o imprevisível
e alguma coisa
amedronta


eu e meu meu sufoco
eu e minha solidão
enquanto o mundo me namora -
com suas infalíveis

controvérsias

eu e alguém
eu e ninguém
eu e o outro super-outro

super-longe bem ao lado:
o mesmo mantra

eu e um porém
tudo cheira a porém
o inevitável caminho limpo
que vai dar em caminho
algum - nenhum?


eu e meus eus
nenhuma conclusão duradoura
nenhuma previsão exacerbada
apenas início, trajeto e final:
o resto ninguém repara


@pauloandel

Pelé 73

Não há muitas palavras a dizer. As imagens ao fim deste texto são as melhores frases do que se quer demonstrar. 

Não quero julgar o homem ou a pessoa neste dia. Disso, a história se encarrega. Quem sou eu para julgar alguém? Apenas um humano defeituoso, embora tenha lá meus dois ou três humildes predicados. 

Todos nós somos muitas pessoas ao mesmo tempo. Meu mestre Oscar Niemeyer dizia que, se um homem tem 5% de qualidades, já está ótimo. Concordo. 

O Edson acertou muitos tiros n'água. Alguns por ingenuidade, outros por bola fora mesmo, da mesma maneira que fizeram muitos de seus detratores. Todos seres humanos e a vida escorre lá fora. 

Num mundo com esse, chegar aos 73 anos é uma vitória. E merece os parabéns pelo que fez pelo Brasil dentro dos gramados. 

Se falasse aqui de atitude política, Maradona e Sócrates dão de dez. Caszely. Afonsinho. 
Em outros temas, outros também.

Mas o caso agora é futebol. E nisso, gostando-se ou não, Pelé foi imbatível e é imortal. 

Messi merece todo respeito. Quem sabe Neymar?  

Mas não percamos tempo em procurar um melhor do mundo quando se trata de futebol. Ele já parou de jogar há 35 anos. E ninguém lhe fez sombra no campo. Nem fará.

Dentro das quatro linhas, Pelé foi o maior de todos - e bote maior em tempos de craques como Garrincha, Didi e muitos outros. 

Uma pequena estatística resume bem o cenário: ao consultar a lista dos maiores artilheiros do Santos F. C., você  verá Pepe, com 405 gols, Continho (370), Toninho Gueirreiro (263), Dorval (198), Pagão (159), Tite (151) e Del Vecchio (105). Somados, eles totalizam 1.651 gols. Direta ou indiretamente, Pelé pode ter sido o responsável por cerca de 800 ou 900 passes para tais bolas na rede. Todos os cracaços aqui listados foram seus coadjuvantes de ataque. Não satisfeito, ainda fez 1.091 gols com a camisa da Vila.

Seleção Brasileira, Mundiais Interclubes, Libertadores, uma penca de títulos paulistas e artilharias, muitas artilharias. 

Ao lado de Garrincha, jogou 50 partidas pelo escrete canarinho. Jamais foi derrotado.

Você pode até não gostar de Pelé como pessoa, um belo direito, mas não reconhecer sua genialidade como jogador de futebol é de causar risos. Com ele em campo, o futebol foi mais bonito e feliz.

Um futebol que infelizmente já não mais existe. 

@pauloandel


Friday, October 18, 2013

Vinicius de Moraes, 100 anos

Ele foi o gênio, o gigante e o desafiador dos costumes.

Deu de ombros às convenções durante toda sua vida.

Do colossal poeta de versos melancólicos ao ensolarado letrista de música.

Do diplomata ao boêmio brindando a vida a cada instante.

Do simpatizante (inicial, ressalte-se) do fascio italiano ao comunismo honesto no CPC da UNE e da postura libertária em defesa de um país mergulhado em ditadura e tortura, indo às ruas e sendo perseguido pelo regime, exonerado inclusive.

Do pensador de pequenas tristezas ao amante incomparável que sempre teve jovens mulheres a seu lado. As jovens, oh!

O que dizer de sua ruptura com o mundo “convencional”, entregando-se aos orixás e paixões da Bahia?

Quando já era um poeta completo e consagrado, estalou os dedos e fez a música popular brasileira do avesso. O que antes soava como a mulher fatal, a adúltera, dos ambientes enfumaçados, virou a garota dourada do sol à beira-mar, com abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim.

Um carioca típico? Uma estátua de Ipanema (embora não tenha morado mais do que cinco anos no bairro, somadas todas as passagens)? Uma legenda da poesia? O paradigma do intelectual brasileiro, transigindo entre o erudito e o mais do que popular?

Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes. 

Muito mais do que isso tudo.

Num Olimpo de gigantes da arte do Brasil, lá está o velho Vinicius brilhando no céu feito a estrela solitária do Botafogo de seu coração.

Ainda me lembro do dia em que morreu. Começou o jornal das sete, tudo falava do nome dele, eu descobri que tinha morrido um poeta. Meu pai mudo, paralisado. Meia-hora depois, desci ao supermercado em frente de casa para comprar pão. Ao lado, um botequim. Silêncios e silêncios. A morte do poeta calou a cidade. E foi assim que o conheci: pela morte. Era 1980, eu tinha doze anos.

Depois o estudei, pesquisei, admirei e nunca vi tanta vida nas letras que derramou.

“É melhor ser alegre que ser triste/ Alegria é a melhor coisa que existe/ É assim como a luz no coração/ Mas pra fazer um samba com beleza/ É preciso um bocado de tristeza/ É preciso um bocado de tristeza/ Senão, não se faz um samba não.”

Agora, cem anos de Vinícius de Moraes.

“Eu possa me dizer do amor (que tive):/ Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.”

Em nenhuma das intermináveis noites regadas a drinques, risos e generosidades femininas, Vinicius deve ter imaginado que, trinta e três anos depois de sua morte - e no aniversário de cem anos -, seria tão vivo e presente, mesmo numa cidade e num país que, às vezes, parecem rumar ao individualismo e à indiferença maiores. Contudo, nem tudo está perdido.

Ainda não.

Vinicius nasceu em agosto de 1913. Rubem Braga no mesmo ano, em janeiro.

E ainda dizem que 13 é número de azar.

A sorte do Brasil ainda sorri.

“O amigo: um ser que a vida não explica/ Que só se vai ao ver outro nascer/ E o espelho de minha alma multiplica...”

Ave poeta! Saravá!


@pauloandel

Wednesday, October 16, 2013

Falcão, 60 anos


Quando comecei a jogar minhas peladas na praia de Copacabana, às vezes era zagueiro e, em outras, volante: não essa coisa medonha de cabeça-de-área de hoje em dia. Falava-se estritamente em volante. 

Pois bem: meu grande ídolo era Edinho, craque do Fluminense e da seleção brasileira. No Flu, usava a camisa 5 e adotei-a pra mim. 

Também jogávamos na "vila", na verdade a rua Tenreiro Aranha, sepultada anos depois pela modernidade do metrô Siqueira Campos.

Edinho, sempre, e também Falcão. 

Além de cracaço, ainda tinha o meu nome e era um dos inúmeros botões que eu tinha no meu time, todos comprados com o dinheiro sacrificado da minha inesquecível mãe Maria de Lourdes. 

Não me saía da cabeça aquela tabelinha que resultou num gol de placa contra o Atlético Mineiro, 1976.

Depois, Falcão foi para a Itália, virou o Rei de Roma e era craque titular em qualquer seleção feita por dez entre dez comentaristas.

A Copa da Espanha, aquele golaço contra a Itália, tudo em vão. Eu não chorei: achei que ganharíamos em 1986. Nunca mais aconteceria.

Por ocasião da despedida do goleiro Raul Plassmann, houve um amistoso no Maracanã com a presença de vários craques do futebol brasileiro. Como sempre, a imprensa louvava Zico - e tinha certa razão, descontadas as hipérboles. Eu fui para ver Falcão. E tome talento no meio-campo: passes, viradas, lançamentos, elegância. Sempre me deu a impressão que jogava mais recuado simplesmente porque queria: poderia ter sido um camisa 10 de qualquer time.

Anos depois, ele quase veio para o meu Flu. Não deu certo, encerrou carreira no São Paulo, o jogo de sua estreia foi justamente num amistoso nas Laranjeiras.

Os mais jovens talvez pensem apenas em Paulo Roberto Falcão como comentarista de futebol ou treinador sem maiores repercussões, ainda que também tenha passado pela seleção brasileira no cargo e, com isso, tenha sido um dos poucos a conseguir a proeza de vestir a amarelinha dentro das quatro linhas e à beira do campo.

Eu não.

O Falcão da minha lembrança é o craque de andar elegante e passes de sinuca, um dos maiores injustiçados da história do futebol por conta do Sarriá, mas não menos brilhante por isso. Os colorados do meu tempo foram felizes demais!

Um dos craques que me fez gostar de futebol para sempre.

Diria João Saldanha, "um monstro". Disse, aliás.

Por um instante, tudo o que eu queria era voltar ao velho e pequeno apartamento da Siqueira Campos, minha mãe fazendo algum lanche delicioso, meu pai resmungando, o jogo na televisão com Bombril nas pontas da antena e alguém narrando feliz na TV algo como "Lá vai Falcão com a bola dominada". Trinta anos depois, as imagens estão intactas nas minhas lembranças. 

Bola dominada? Mera redundância.

Craque, craque, mil vezes craque. 

O que dizer de quem apoiou Mário Quintana sem par no momento mais difícil da vida do poeta?

@pauloandel



Tuesday, October 15, 2013

teu preciso

eu não preciso
da tua voz
para namorar teu canto
eu não preciso
da tua tez
para querer-te pele
não há confronto
e nem espanto:
debaixo do sol
o teu melhor sorriso
na mão, uma flor
e palavras fugidias -
afeto, carícia e canção -
eu não preciso do teu lado
para ver-te em mim
o que eu quero
e você quase não pode
o que você pensa
e jamais decifro em sim
eu não preciso ver teu olhar
para adorar-te em si
o que eu te penso e quero
onde você viaja e dorme
o que te faz poema
ainda persiste aqui
o que te faz tão linda
reside em meu jardim
você não precisa estar agora
onde navego amor:
meu mar é teu caminho -
a cidade festejou
e o que é mais certo
tem razão num simples sim:
eu não preciso ter você
para ter você dentro de mim

@pauloandel

Friday, October 11, 2013

xamã

ah, o mar
delicado e impetuoso -
quantas cinzas já tragou?
as mortes que não sei dizer
o mar dos maltratados
os sofridos e infelizes -
não é hora de falar à gente
bonita
o mar do sexo vil à beira
e nenhuma luz neon
não precisamos de rancores!
a vida já é triste demais!
o mar dos silêncios e saudade
meu xamã adormece o peito
como se fosse casa vazia -
por onde os sonhos moram?
ah, o mar do Imbuhy
e o vento sudoeste cativo
Eliane tem uma prenda
que jamais sucederá
o mar de Ipanema
o invencível mar do Leme
numa noite de cor e angústia:
nunca um sonho foi
tão perdido
nunca um sonho foi
tão perdido
enquanto um triste mendigo
faz do lixo a luta contra mortes
e nobres cavalheiros são tão
indiferentes
tão indiferentes
que alguém duvida serem gente
ah, o mar, a cidade nua
o bairro lindo e vulgar
um dia seremos apenas
nossas coisas do coração -
as coisas simples do coração:
o resto fenece nos versos
de uma nobre canção
ora, o mar: solidão!

 @pauloandel

Tuesday, October 08, 2013

horizonte

agora voo
longe
desse teu
mar

tanto quis caçar
voar rasante
subir e descer
que agora
estranho

meu horizonte
longe
desse teu

mar
tens certeza
de que vou
voltar?

não careço
nem mereces -
somos distância
vazio e poema -
indiferença crua
em pele macia

agora voo
longe
desse teu
mar

não chora
nem espanta:

sou copacabana
e o atlântico
quer me namorar:

oxalá!

@pauloandel

Wednesday, October 02, 2013

a cor do poema

quem tem razão sobre a cor do poema?
nada se pode dizer
onde está o âmago do poema - o retrato
o sorriso, a mansidão infinita
para decolar e aterrisar um poema?
ele está no hoje, o agora, o sempre
ecos de trajetos, idas e vindas, palavras
cruas, mornas, frias, fumegantes
a fazer do hoje a precisão
de um novo outro poema


@pauloandel

Sunday, September 29, 2013

quando pensei em você

EXISTEM noites e noites, em muitas delas tenho pensado em você como nunca, como as muitas noites que pensei antes já não fossem suficientes. Então todos vivemos mais uma noite fria dessa primavera com jeito de inverso, olho fixamente para o teto de gelo sem estrelas e penso em você nas muitas noites. O teu rosto está desenhado num horizonte imaginário. Num instante, preciso mexer no computador e te vejo, então naturalmente penso em você. Imaginar tudo o que não fizemos e que eu sempre quis, a mentira que vivi quando te vi noutra mulher e outra e outra, dizendo-lhes tudo o que eu pensava em você, elas tão felizes e nunca fui tão solitário feito agora, nessa praia que diz tanto a meu respeito mas talvez saiba tão pouco do que sonho. Tenho outro horizonte, distante do teto de gelo, que também desenha a beleza do teu rosto e me faz pensar em você. Quando me dão a mão, eu sonho em tocar a tua mão. Quando beijo, eu beijo você. Nas noites intermináveis de luxúria e prazer, meu corpo clama silencioso a todo momento por você – e trocaria estas mesmas noites, mil e uma noites, só para estar ao teu lado e ter você num silêncio capaz de dizer tudo, desvelar todas as coisas e desnudar tudo aquilo que muitos chamam amor, seja em vão, duradouro ou definitivo.

ACONTECE que já tive muitas noites em muitos lugares da cidade e do campo. Realizei coisas, perdi outras, amigos foram e vieram, amores idem, mas nada, absolutamente nada se parece com o que penso sobre você, o que sinto sobre você – basta dizer o que meus poucos amigos riem quando sabem verdadeiramente de mim - “Schneider, você está absolutamente louco! Como pode trocar as mulheres que tem por um sonho juvenil de alguém que nunca te pertenceu? Você fumou maconha? Quer namorar um holograma, um avatar?” -, caçoam, às vezes até ridicularizam involuntariamente e penso que podem ter até razão, mas não sou capaz de controlar o que meu cérebro e meu coração pensam. Nenhum deles sabe do quanto você já me fez chorar, nem você sabe ou imagina – chorei porque magooei quem não devia porque penso em você – chorei porque imaginava você feliz em outros braços e lençóis mas era tudo uma bobagem. Basta mexer no telefone e procurar na agenda o teu nome para nada – não haverá ligação nem mensagem -, apenas pra te ver de alguma forma, fitar as letras, namoricá-las. Te sonhar e desejar e possuir como nunca, mas é algo difícil de explicar porque não se resume a carnes e lascívias, é muito, muito mais. É o querer bem, o querer conquistar, desbravar, anoitecer e amanhecer com você nos braços – e mesmo que nada fosse nada além disso, já seria um muito gigantesco.

Pois bem, ESTA é uma longa noite, a primeira de muitas que virão, a última de uma longa série há cerca de duas mil e cem ou mais. Em todas elas eu pensei em você. Quando escrevi um poema, pensei em você. Quando escrevi um longo conto que fala de uma viagem, foi delicioso lembrar que em certa manhã você morava nele – seiscentos quilômetros de distância e eu não parava de pensar em você. Lá mesmo cometi alguns pecados, um maior, mas não deixei de pensar em você – somos assim: fazemos das tristezas combustível para praticarmos bobagens que, no fundo, só servem de distração ou preenchimento da mente contra a dor, a perda, a ausência. Esta é uma noite à beira-mar, deserta, vazia, com quase ninguém na grande calçada e eu ainda penso muito em você. Perto da pedra do Leme dois namorados acariciam-se com os rostos e eu penso em você. Na Prado Júnior certamente alguém que não vejo fará sexo com uma linda mulher e eu apenas pensarei em você. Em algum lugar desta cidade fria pessoas são felizes, tristes, mera companhia - enquanto a minha solidão, que passa por todos os lugares e multidões, namora você, a tua imagem, a tua lembrança, o teu rosto delicado e o sorriso de mil pérolas. A primavera há de saudar um verão, as ruas serão mais risonhas, os poetas encontrarão as bailarinas de suas vidas, as multidões gritarão nas arquibancadas do Maracanã, Copacabana será pequena para o Ano Novo, mas tudo o que penso é um dia encontrar você. Te namorar. Te viver. Fazer o nosso mundo secreto enquanto a vida escorre sem sentido no coração das grandes metrópoles. FRIA a noite, abençoado seja cada momento em que penso em você.


@pauloandel

Friday, September 27, 2013

sobre as estrelas

1

oh, nossas estrelas
com lindeza efervescente
mas distantes, frias
e mortas
- ei-nos a aplaudir
e namorar a beleza
longe que já não dita
apenas brilha
oferece efêmeros sonhos
as estrelas namoram o céu
e ficamos por aqui:
perdidos em romances
satélites sem órbita
despidos de ano novo
lunar

2

alguma coisa
a esmorecer meu coração
está escrita e pintada
nas estrelinhas solitárias
pontinhas de luz imaginária
quando vejo meu céu
de Copacabana
são tantos que dormem
e outros agora longe
mas minha promessa
mora nas estrelas
de Copacabana
um deserto de amor
no horizonte
meu chão de grãos
minhas flores mortas
e um silêncio
que só entende
quem ali nasceu

andel

Wednesday, September 25, 2013

nada nada

agora sou o nada
noves fora, nada
o quociente é nada

o divisor é lenda
e ninguém quer saber
a respeito do resto

agora sou o nada
o vazio, o vácuo
despedida triste
sem rastro de beijo

nem flores nem lágrimas -
a vida é saída
agora sou o nada
caibo em silêncios
e espaços de mansidão:
o retrato é o passado
a ausência, rasante
ou impreciso futuro

agora faço-me nada
basto-me em nada
e a imperfeição
é o bálsamo

que toma conta de mim -
somos um isso!

@pauloandel

Tuesday, September 24, 2013

romance vigília

1

o topo do mundo
e suas matizes:
dor, drama, tesão
miséria, amizade
felicidade
e um vasto horizonte
onde nos perdemos
a cada instante

2

havia uma canção de amor
quando te vi dormir
nos meus olhos, o retrato
dos dias mais felizes
que jamais vivemos
havia mistério e dúvida
nenhum desencanto
havia uma canção de amor
do mesmo jeito
quanto na primeira vez
que te vi em mim
e não sei dizer dos planos
o agora, sexta-feira
mas onde quer que estejas
tudo será uma canção de amor
a namorar navegando em ti


3

quando você sonhar
eu serei cais de teu atracar
e se faltar calor
posso te dar um sol
quando fores distância
eu serei nau amiga
e te trarei comigo
por todo o oceano
um beijo do tamanho
de todo o oceano
quando você acordar
serei servo aos teus pés
e te farei sorriso, lágrima
causo, delícia
quando você procurar
não te servirei de tesouro
mas relíquia
e tudo vai ser como sempre
foi um dia
e tudo vai ser meu amor
namorando a tua poesia
dá me tua mão:
sou tua fonte inesgotável
de calor

@pauloandel

Friday, September 20, 2013

a dona do cais

corre
que teu amor não dorme
numa taverna
à beira do cais
e te espera
feito viver um século
por segundo
cante
teu verso sem lágrimas
que saudade a cem por hora
parece o tempo
que parou
viva
dois olhinhos pretos
e um sorriso de porta-estandarte
como se o mundo fosse fim
uma duquesa
em prosa e charme
leveza de arquitetura
em aroma de alfazema
cante
viva
sorria
a beleza ali tão tua
e canecas invejosas
tilintam
nos arredores -
respiramos um país
em beijo, gozo e sina
a lua não vai dar cris
e o amor de primavera
tem a ver
com certo rigor e lances
duma noite
na Baviera

@pauloandel

Thursday, September 19, 2013

estação

queria ficar à tua estação
nenhuma navegação sã
nenhum ato que não fosse vão
passar o tempo, o tempo
em desacontecimentos, todos
exceto os que te levassem
ao meu profundo olhar pequeno
queria ficar à tua estação
sem jeito de náufrago
órfão da tempestade
carro virado na contramão
a casa abaixo pra fazer uma canção
enquanto teu rosto sereno
adentra o meu, satisfeito
e adentramos uma noite de afã
os trens recolhidos, o pouso longe
e dois corações solitários
namorando em silêncio, teso

@pauloandel 




Wednesday, September 18, 2013

STF

Alguns vociferam. Outros xingam. Pitis e arroubos. Oh, impunidade... de QUÊ?

Chamam isso de democracia e liberdade - a mesma que não se tinha no passado, onde ser "comunista" ou "vermelho" poderia significar uma sentença de morte (ou tortura ou estupro).

Desde que se atendam vontades pessoais e míopes, pode-se mandar a Constituição à merda, eis o que muitos pensam. Afinal, as barbaridades da ditadura 64 não foram à toa... nas redes sociais mesmo, é normal ver boçais afirmando que "nunca houve ditadura nem tortura", que "tem que tacar uma bomba na favela e matar tudo" e outras selvagerias do fascismo tupiniquim.

O mais patético de tudo está reservado aos que só se manifestam politicamente em determinadas horas convenientes, fazendo um silêncio cemiterial hipócrita em outras. É preciso ser muito ignorante - ou dotado da mais pura má-fé - para reiterar que "os maiores crimes de todos os tempos" só foram cometidos no Brasil a partir de 2002. Nada mais natural em se tratando de um país onde boa parte da população, quanto mais abastada é, mais faz questão de ostentar sua ignorância colossal em relação à própria história. Ou generais foram morar na Atlântica e na Vieira Souto graças às enormes capacitações de adminstração dos pobres soldos?

Num julgamento em que a corte encontra-se dividida, o voto de Minerva é natural, desde os tempos de João Sem-Terra. Aliás, a própria divisão deixa claro que nem a maior corte do país tinha consenso sobre o que acontecia.

Sinal claro que que a coisa não tinha andado bem desde o começo, quando “tudo leva a crer” transformou-se em “é”. Erro imperdoável que foi remendado a tempo hoje. 

Ilude-se quem imagina que "o povo" saiu derrotado na votação de hoje do STF. O que estava em jogo não é "a desgraça do PT" no país, mas sim o risco de conclusão de um processo que foi norteado o tempo todo por achismo - "não tenho provas, mas tudo leva a crer que aconteceu".

No fundo, quem perdeu foi o rol de grandes corporações de comunicação, prostituídas do cabelo ao dedão do pé desde sempre. Queriam decidir a eleição de 2014 em 2013, mas não deu certo. Se tivessem realmente preocupação com a corrupção, não teriam financiado a ditadura cívico-militar que, dentre outras coisas, fez uma enorme turma muito rica até hoje. E nem acobertariam N escândalos desde sempre - isso, quando não foram sócios majoritários desde sempre. "Aos amigos, tudo; aos inimigos, o rigor da lei" - quem se lembra?

Nomes aos bois? Globo, Abril, Folha, Estadão, Olavo de Carvalho, Pondé, Reynaldérrimo Azevedo, Augusto Nunes, Diogo Mainardiota e lacaios idem.

Cheguei a pensar em falar de Lobão, mas não é o caso. Ainda o admiro como "roqueiro" com aspas. Como "pensador", as aspas viram gargalhadas de claque.

Todos esses "são caboclos querendo ser ingleses" (Cazuza). 

Sete anos de pancadaria diária implacável, mas é bom que se diga: NINGUÉM FOI ABSOLVIDO DE NADA. Tão somente reconheceu-se o direito a recurso. Cumpriu-se a lei. 

Ah, sim, os juízes Mendes e Barbosa não são donos do Brasil e nem das garantias constitucionais de cada cidadão brasileiro. 

Simples: os meios de comunicação já não têm parte da força que já tiveram um dia. Perderam credibilidade. A fúria opressora em busca de um poder que tiveram décadas atrás os levou ao ridículo e vazio de hoje. Tanto que já perderam três eleições presidenciais seguidas e, ao que tudo indica, o 4 x 0 está chegando. 

Meus sinceros parabéns a homens de imprensa como Mauro Santaynna e Janio de Freitas, que chegaram à idade madura para fazer um jornalismo sério, de verdade, sem caixinhas, que ainda brilha diante deste mar de lama dos Mervais e cia. Homens que defendem o Brasil, a democracia e a pluralidade de ideias há mais de sessenta anos. O mesmo vale para Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif. 

OBS: ao declarar seu voto, o juiz Celso de Mello citou Pontes de Miranda no embasamento de seu voto – um dos mais notáveis juristas brasileiros e reconhecidamente um homem de direita. Estimativas preliminares apontam que 99% das pessoas que estão descabeladas com o 6 x 5 de hoje desconhecem quem foi Pontes de Miranda. 

@pauloandel 

Ruas, ruas

As ruas num ir e vir fascinante e caótico ao mesmo tempo.

Batalhões de estranhos em deslocamento marcial na hora do almoço ou de ir embora de empregos respeitáveis. Quase todo mundo tem um celular que lhe permita falar com quem está longe, bisbilhotar pessoas e outras tarefas menos inglórias. Pouca conversa, muitos olhares, nenhuma fraternidade. Números são mais importantes do que nomes.

Cheiro de rua triste, como diria Kerouac. Dejetos, latões, seres humanos sofridos fazendo do lixo a única refeição do dia – e há quem considere isso absolutamente normal – caso o animal de estimação esteja velho, largam-no ao léu. Difícil entender o que se passa em corações tão ocos, sem sentido, incapazes de enxergar o outro na condição de gente e não objeto descartável.

Grandes corporações, salários mínimos, lucros máximos, nada importa se não for para vencer? O que significa isso? Somos seres desprezíveis sem lucro? Grandes antenas de telecomunicação, imagens generosas, gente bonita, o mundo não vê o próprio mundo onde só se exige audiência.

Um lugar ideal para não se conversar está nas bibliotecas, nelas a viagem é outra, a jornada individual para dentro de si mesmo. Nenhuma delas lotada, você pode visitá-las com toda calma, sempre tem cadeiras sobrando.

Há quem drible a fome, a dor, miséria, a família que inexiste com drogas ilegais. Que outra alternativa? Enquanto isso os bares estão cheios de conversas vazias. Banheiros cheios também, onde alguém propõe sacanagens ou droga-se por não ser o máximo de qualquer coisa que seja útil nessa terra. Não somos algarismos, ora!

Sexo para virar amor, amizade para virar interesse, passatempos para iludir as mentes, promessas que nunca serão realidade. Enquanto isso os doentes amontoam-se nos corredores dos hospitais e sonham com um inferno melhor. Perto de um deles, alguém vibra com seu novo parcelamento em vinte e quatro vezes sem juros – só um idiota acreditaria nisso! -, olhos atentos seguem todos os passos de uma vitrine rica – as mentes, longe disso.

Que tal postergar a vida? Isso fica para depois do feriado. Ou depois das férias. Melhor depois do carnaval. E a Copa do Mundo. E tudo o que devia ser agora ou esta semana pode virar um sonoro “nunca mais”.

Respeitáveis cidadãos querem a morte da maior corrupção de todos os tempos, o que não significa que vão deixar de burlar o imposto de renda, devolver o troco a mais concedido no supermercado ou deixar a velhinha sentar no banco preferencial do metrô. Uma espécie de semi-ética, se é que isso é possível. Respeitáveis juízes têm capangas, já absolveram estupradores e não se preocuparam muito quando velhos amigos tungaram o erário sem dó.

Famílias em suas casas numa noite qualquer e ninguém conversa – alguém está no computador ou telefone ou em frente à televisão, dificilmente vendo algo que preste ou ajude a raciocinar – não, mil vezes, reality shows NÃO!

Alguém diz que generosidade é dar um real ao morador de rua. Alguém diz que tem que tacar uma bomba na favela e destruir tudo. Alguém diz que no tempo da ditadura é que era bom.

Estamos perdidos demais.

Eu não passo de um estrangeiro tentando entender o incompreensível dentro do tempo que me resta.

Enquanto isso, na enfermaria, quase todos os doentes estão cantando sucessos ditos populares, na verdade impostos pelo lucro, o maldito e abominável lucro.

As ruas estão vazias.


@pauloandel 

Tuesday, September 17, 2013

Amorzaço

ih, o amor tão cru num nascedouro
quando não depende só de carne
desejo e ardor incalculáveis ao céu
e tem mais a ver com estar e sentir
quando o ser é bem melhor que o ter
quando tudo faz-se riso e companhia –
não temos nenhum controle a respeito
impossível fazer qualquer previsão
o que nasce e acontece tão redivivo
feito herdeiro do que já disse adeus
ora, o amor e seu insólito chão de lua
que não tem plano, chão ou fracasso -
vem e vai embora, flutua, morre e volta
num compasso a exaltar o bom da vida -
a próxima esquina tem um amorzaço!

@pauloandel



A linha do céu de Maricá


Coisa de dois ou três sábados, dois na verdade, acompanhei meu grande amigo Leo numa ida a Maricá.

Cidade que muito gosto, já pensei até em morar por lá.

Uma tarde de lazer, sem culpas, contas, nenhum compromisso de namoradas, trabalho, textos, apenas gastar horas agradáveis e ver coisas diferentes.

Descemos a estrada com calma até rara, baixa velocidade, um sábado de sol, primeiro para tratar de assuntos no aeroporto, depois a casa de outro amigo, Raphael – alguma conversa fiada da melhor qualidade, um pilantra que nos deve dinheiro, outras coisas.

No aeroporto, conheci João, amigo de Leo, instrutor, garoto ainda, já chegou fazendo piadas jocosas, teve o troco imediato – piadinhas homofóbicas, daquelas que os homens adoram falar quando não há mulheres por perto, bobagens adolescentes.

Nem tudo era brincadeira, entretanto: depois os dois falaram de coisas sérias da aviação, problemas, correria.

Eu, que nunca fui chegado aos ares, olhei com afinco o silêncio das aeronaves no hangar, um silêncio não apenas de se ouvir, mas ver por todo lado.

A beleza da linha do céu de Maricá, os escoteiros em reunião no gramado.

Uma tarde de calma, muitos risos e alguma apreensão.

Tivemos uma hora e meia de conversa, acho. Depois, abraços fraternos de corretos irmãos. João ia voar.

Depois fomos para a casa de Raphael, jogamos bola com Dudu, fim de noite e volta ao coração da cidade, o centro.

Naquele sábado, eu estava ainda apreensivo por conta de uma viagem que teria que fazer, menos pelo voo em si, mais pelo trabalho.

Mas a calma que parecia reinar em todo o aeroporto – e não necessariamente na fisionomia dos amigos – foi uma espécie de calmante para o meu voo da semana seguinte – fui a Brasília, trabalhei, encontrei amigos e ainda voltei a tempo para ver o Fluminense na TV.

Há cinco dias, João faleceu num acidente de avião na mesma Maricá que foi meu sábado de calma. Deu no jornal, na tevê, eu tinha ouvido falar mas só me dei conta de quem era a vítima ontem, via Leo.

O sujeito que me passou calma para fazer algo que detesto – e que ele tanto amava – faleceu fazendo seu ofício, sua fé.

João passou pela minha vida numa única tarde, num único dia e dele não esquecerei. 

A linda linha do céu de Maricá tinha muito mais a me dizer além do silêncio, na hora eu desconfiei, mas não entendi ao certo.

Minhas desconfianças são as poucas coisas que me dão medo no mundo.


@pauloandel


Em memória do Cmte. João Soares

Para Leo e Raphael

Saturday, September 14, 2013

corpus

1

onde, onde festejas tuas bobagens inevitáveis que não sei viver?
não vamos falar de perdão ou de rancor. é tudo tão desprendido

eu só queria que você soubesse do quão bom seria  ser outra:
outra página, outra andança, outras palavras e mais artifícios sãos
tudo dedicado para que estivesses aqui tão viva e fascinante
e se pensasse em navegar teus seios, esquiar o colo, o dorso nu
feito o invencível verão que jamais vivemos quando merecido
ou certas ocasiões deliciosas que desperdiçamos sem sentido
ah, eis o melhor dos cantos quando fosse ao pé do teu ouvido
até quando a tempestade se avizinhasse e fosse senhora do tempo
onde, onde flanas pelos versos que me soam perdidos demais?
eu só queria que você soubesse do quão bom foi pelo meu sim
e se estivéssemos aqui feito dois estrangeiros iniciantes e sós

nada mau fazer do teu corpo a minha colônia de férias - o país


2

o corpo são
numa cabeça de mil
sentenças
o corpo nu
em boas delícias
e reticências

o corpo cru
e seus temperos ases:
amor e tesão
qualquer corpo regenera
qualquer corpo regenera
e fascina
até chegar o dia
o abominável dia
da decomposição

da decomposição
o amor e seu tesão
perdidos em vão


@pauloandel

Friday, September 13, 2013

MC Magalhães












contrários

não somos peixe para este mar salgado de ocaso
devemos ser longe de qualquer apreço asséptico
e queremos tanto, tanto que precisamos subverter:
recuperar o gosto pelo risco, o impreciso certeiro
não acordar num sábado cedo com mais do mesmo
voar na coragem de mudar qualquer convenção –
fugazes amantes em carne apaixonada, o tempo que for
fazer a história num segundo, o romance numa tarde -
e o que fazemos então neste mar opaco de sobriedade?
queremos outra história, outra delícia, banquete e prazer
o que nos falta para colocar as portas muito abaixo?
explodir os muros, espatifar janelas, reler o que foi roubado
esta é uma longa manhã de sexta-feira numa vida pacata
e nada é tão empolgante que não seja eu e você ao contrário

@pauloandel