Wednesday, October 16, 2013

Falcão, 60 anos


Quando comecei a jogar minhas peladas na praia de Copacabana, às vezes era zagueiro e, em outras, volante: não essa coisa medonha de cabeça-de-área de hoje em dia. Falava-se estritamente em volante. 

Pois bem: meu grande ídolo era Edinho, craque do Fluminense e da seleção brasileira. No Flu, usava a camisa 5 e adotei-a pra mim. 

Também jogávamos na "vila", na verdade a rua Tenreiro Aranha, sepultada anos depois pela modernidade do metrô Siqueira Campos.

Edinho, sempre, e também Falcão. 

Além de cracaço, ainda tinha o meu nome e era um dos inúmeros botões que eu tinha no meu time, todos comprados com o dinheiro sacrificado da minha inesquecível mãe Maria de Lourdes. 

Não me saía da cabeça aquela tabelinha que resultou num gol de placa contra o Atlético Mineiro, 1976.

Depois, Falcão foi para a Itália, virou o Rei de Roma e era craque titular em qualquer seleção feita por dez entre dez comentaristas.

A Copa da Espanha, aquele golaço contra a Itália, tudo em vão. Eu não chorei: achei que ganharíamos em 1986. Nunca mais aconteceria.

Por ocasião da despedida do goleiro Raul Plassmann, houve um amistoso no Maracanã com a presença de vários craques do futebol brasileiro. Como sempre, a imprensa louvava Zico - e tinha certa razão, descontadas as hipérboles. Eu fui para ver Falcão. E tome talento no meio-campo: passes, viradas, lançamentos, elegância. Sempre me deu a impressão que jogava mais recuado simplesmente porque queria: poderia ter sido um camisa 10 de qualquer time.

Anos depois, ele quase veio para o meu Flu. Não deu certo, encerrou carreira no São Paulo, o jogo de sua estreia foi justamente num amistoso nas Laranjeiras.

Os mais jovens talvez pensem apenas em Paulo Roberto Falcão como comentarista de futebol ou treinador sem maiores repercussões, ainda que também tenha passado pela seleção brasileira no cargo e, com isso, tenha sido um dos poucos a conseguir a proeza de vestir a amarelinha dentro das quatro linhas e à beira do campo.

Eu não.

O Falcão da minha lembrança é o craque de andar elegante e passes de sinuca, um dos maiores injustiçados da história do futebol por conta do Sarriá, mas não menos brilhante por isso. Os colorados do meu tempo foram felizes demais!

Um dos craques que me fez gostar de futebol para sempre.

Diria João Saldanha, "um monstro". Disse, aliás.

Por um instante, tudo o que eu queria era voltar ao velho e pequeno apartamento da Siqueira Campos, minha mãe fazendo algum lanche delicioso, meu pai resmungando, o jogo na televisão com Bombril nas pontas da antena e alguém narrando feliz na TV algo como "Lá vai Falcão com a bola dominada". Trinta anos depois, as imagens estão intactas nas minhas lembranças. 

Bola dominada? Mera redundância.

Craque, craque, mil vezes craque. 

O que dizer de quem apoiou Mário Quintana sem par no momento mais difícil da vida do poeta?

@pauloandel



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