Não é exatamente um desejo de ser mais jovem, mas de voltar no tempo mesmo. Acordei neste junho frio do Rio - para nós, cariocas, 17 graus são praticamente a Patagônia - e do nada me entorpeci com o sonho de voltar a ter doze anos de idade exatamente em 1980.
Aquilo tudo passou rápido demais e certamente não aproveitei 99% do que poderia.
Por várias coisas, um garoto de doze anos daquele tempo é bem diferente de agora, 45 anos depois. Em tudo. Quase tudo.
Eu queria ter doze anos de idade para sentir aquele velho calor de expectativa aos domingos, quando em algum momento meu pai dizia “Paulo, toma banho logo!”, o que significava que iríamos ao Maracanã e eu andava pelas estrelas só de pensar. Quem viveu isso sabe como ninguém. E não era um Maracanã simplesmente, mas aquele Maracanã - o de 100 mil torcedores, o da nuvem mágica de pó de arroz que mais parecia uma viagem do Pink Floyd, do meu time todo de branco subindo o túnel com uma multidão de crianças em volta - o que eu nunca pude fazer. Bom, o mais importante era ter a mão do meu pai me guiando de Copacabana ao estádio imortal.
Eu queria ter doze anos para poder voltar a lanchar o cachorro quente das Lojas Americanas da Figueiredo Magalhães. Pão, salsicha e molho de tomate com cebola. Que delícia! Igual, nunca mais. E perto da loja tinha a galeria do Cinema Condor, maravilhosa - o Condor era gigante, ir ao cinema era um luxo!
Eu queria ter doze anos para jogar bola com meus amigos na Tenreiro Aranha, a vila, bem em frente à minha escola. O progresso trouxe o metrô da Siqueira Campos, a Tenreiro acabou e a escola já tinha fechado antes. Pelo menos eu falo com meu amigo Leo no WhatsApp, ele mora em Juiz de Fora. O Fredão morreu há anos e me deixou na mão. Dureza. Ele tinha que estar aqui.
Em 1980 a gente sonhava com os LPs da vitrine da Billboard, ao lado da Modern Sound na rua Barata Ribeiro - de lá para cá, mataram e ressuscitaram os discos, que agora são muito mais caros. Dureza.
Eu queria voltar a ter doze anos de idade porque estava descobrindo a beleza feminina. A Márcia e a Simone passavam ali perto de casa toda hora. Elas eram lindas, mas claro que só olhavam para os super-homens de quinze anos, o que nós, garotos, somos incapazes de compreender pelo resto da vida inteira. Não importa: como era bom vê-las e admirá-las. A Leila era linda também.
Eu queria ter doze anos de novo para ver desenhos animados com minha mãe e poder provar a comida maravilhosa que só ela fazia. A gente ria, via os desenhos, jogava até botão mas não dava certo porque ela queria fazer gol com a mão, jogando o dadinho na rede. E queria abraçá-la e dizer “Eu amo você, mãe!”, como fiz dos doze anos de 1980 até 2007, quando meus dois sóis explodiram.
Ser garoto era tudo. A gente nunca entende, quer ser adulto logo até que percebe o erro e o tempo, este senhor do universo, nos leva de forma implacável pelos caminhos da vida, até que um dia as cortinas se fecham sem perdão.