Monday, December 04, 2023

Para Lou Reed

Oh, são quatro horas da manhã e quase ninguém se importa. Quem pode, dorme. Quem não pode, sofre ou reflete.

Daqui do alto são quilômetros e quilômetros de silêncio, longe de significarem paz - há muitos perigos de morte, mas mesmo assim parece que, de longe, tudo está sereno. 

Já é tarde e as travestis da Augusto Severo bateram em retirada, exceto uma ou outra conjugando a sede do sexo e a fome do estômago.

Metros dali, a cidade ainda tem seu rastilho de sangue e morte. Na Beira-Mar, bandidos espancaram um garoto que morreu ontem. Foi difícil ver o sofrimento de sua mãe e a jovem irmã na TV. Mataram o garoto por causa de um celular, geralmente revendido por cem reais. 

Em vários pontos no coração da cidade a miséria prevalece. São muitas e muitas marquises cheias de gente sofrendo. Tirando abnegados admiráveis, a maioria nem liga. Esta não é uma cidade de solidariedade, pois. 

Onde estará dormindo minha garota preferida? 

Que fim levaram meus ex-amigos, depois que descobri que não passavam de colegas? Existe confusão.

Calmo, eu nem pareço alguém que tem um míssil apontado para a própria cabeça, prestes à explosão. Sem nenhuma ambição além de sobreviver mais algum tempo, só queria uma casinha, uma TV, geladeira, ventilador e celular. Uma cama e um pouco de paz.

Um calor dos infernos. Senhor! 

Ventilador. daqui, maravilhoso, me alivia e lembra uma turbina de avião. Bons tempos. 

O efeito do calmante e do Renitec começa a dar onda. Vamos derrotar a insônia. Vamo lá. Vàmonos.

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