O ódio está por toda parte no Rio de Janeiro. Toda parte.
Há tempos o objetivo do crime deixou de ser "apenas" roubar, furtar, assaltar. É preciso agredir, humilhar e matar rindo.
Dia desses é que me dei conta de quantos livros e crônicas já dediquei ao Rio. Talvez no futuro me chamem de cronista carioca por isso. Nada foi planejado, apenas amo a cidade e já a vivi intensamente. Mas o que sinto agora é uma tristeza lancinante.
Hoje está cada vez mais difícil. Às sete da noite não tenho ânimo para ir à padaria. Em qualquer lugar podem acontecer as facadas, tiros e porradas covardes.
Há muito tempo é muito difícil aguentar a violência nas comunidades do Rio. Em vez de resolver este problema, o Estado preferiu democratizar o ódio. Só nos últimos dias, aí estendendo à Região Metropolitana, uma garota fuzilada covardemente em Belford Roxo. No Centro do Rio, um rapaz apanha absurdamente, para no hospital e... morre. Em Copacabana, mortes a faca, idosos apanhando até cair. Não é mais violência, mas selvageria.
Volta e meia alguma autoridade debochadamente diz que não é possível colocar um policial em cada esquina. Um deboche idiota. Qualquer motorista que cruze a cidade sabe que, a partir do começo da noite, você pode passar por bairros inteiros e não verá segurança alguma.
O Rio foi o Estado mais desgraçado do país desde o golpe contra Dilma. Enquanto o país timidamente apresenta sinais de melhora no emprego, o Rio tem um mar de gente passando fome, um mar de gente louca por crack e k2, um mar de gente que vai para o crime por inúmeros motivos, mas o principal é claro sem precisar passar a mão na cabeça de criminosos: o descaso. Esta é a cidade do descaso, descaso das pessoas, das instituições, de tudo.
Falo brevemente do Centro porque sou morador há 30 anos, embora meu coração seja Copacabana. Há 20 anos eu conseguia cruzar a avenida Chile com meu amigo Maurício. Há 15 anos, eu vinha de chopes no Paladino a pé para a Cruz Vermelha. Há dez anos, eu sempre estava nos bares da própria Cruz, vários bons. Hoje tenho medo de sair depois das sete da noite, mesmo sendo grande, gordo e já tendo me defendido por aí.
Não é mais violência. É selvageria. Tudo que há muito já aterrorizava parte da população oprimida na cidade partida agora é plural: você pode ser esfaqueado e trucidado até morrer em qualquer lugar.
Parte da polícia é boa, honesta mas é sabotada e não consegue dar segurança ao povo. A outra parte contabiliza os lucros.
@p.r.andel
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