A faixa tocou pouco mas eu a memorizei de imediato. Para mim, é a melhor música do Duran Duran, mas é quase desconhecida. A sonoridade é atual mas ela é da transição 1989-1990, e eu me lembro de tudo como se fosse hoje.
O Luizinho morava na Tonelero, no famoso Edifício Pampeiro. Ele e o Raul eram muito mais novos do que eu, Xuru e Gomão, mas nós adorávamos jogar botão e viramos amigos para sempre. Ele tinha uma mesa grande, montada na sala, onde jogávamos quase toda noite. Na hora da fome, buscávamos o lanche nas Casas da Banha da Siqueira Campos, aberta 24 horas - já fomos modernos.
Quinhentos metros adiante, morava o Fred no Bloco F do Shopping dos Antiquários, que foi minha segunda casa por anos a fio. Também ia lá quase todo dia: era onde jogávamos cartas, ouvíamos música e alguns usavam drogas ilícitas. As garotas entravam e saíam. Uma delas, que não lembro mais o nome, vivia me dando foras até que um dia me beijou - confuso demais para entender. Estávamos todos no começo da faculdade, procurando o início do caminho adulto. Eram nossos últimos momentos adolescentes divertidos.
Eu já estagiava, no Hospital Pinel. Não tinha um tostão mas sonhava com o futuro, ajudar meus pais. Estávamos muito pobres, não havia emprego, era o Rock Horror Show da Era Collor.
A faculdade era maravilhosa. Minhas amigas eram lindas e nos adoravam. Éramos divertidos na turma: engraçados, excêntricos e alheios ao clima "sério" do Instituto de Matemática. Os caras preocupados com integrais e derivadas, a gente falando de Tim Maia, Prince e irmãos Coen: claro que as garotas iam nos preferir. Até as professoras: a Sônia, que era meio sem noção, dizia para Alessandra que eu era feio pra ela, mas falava em plena aula que seu marido era uma cópia minha. Vá entender. Íamos ao boliche, aos cinemas da Saens Pena, ao Palheta e sonhávamos em viajar para Arraial do Cabo.
O Flu tinha um time modesto mas brigava. Eu estava no Maracanã o tempo todo, em Laranjeiras e tal. Era muito divertido.
A derrota para a Argentina na Copa de 1990 nós vimos juntos na casa do Luizinho. O Xuru xingou muito na hora do gol argentino, a jogadaça do Maradona. Mais tarde, no mesmo dia, a maravilhosa Holanda também foi eliminada: deu Alemanha, futura campeã.
Vimos grandes shows: Bob Dylan, Eurythmics, Oingo Boingo, A-Ha, Legião Urbana e o antológico Tim Maia no Arpoador. O Circo Voador bombava, o Canecão era super acessível. Jorge Benjor estava de volta com "E Brasil". Depois veio a maravilhosa MTV Brasil. Houve também uma derrota violenta, que foi a morte de Cazuza. A gente sabia, já era esperado mas doeu paca. Nenhum jovem deveria perder seu poeta também jovem, mas a vida é injusta por excelência.
Naquele tempo eu era um sujeito bastante popular nos meus nichos, nem sei por que motivo. Agora, a verdade é que eu me sentia sozinho em todos os lugares, inclusive acompanhado. Às vezes eu fugia para a praia à noite e ia até a beira do mar só para contemplar a noite atlântica de Copacabana, sozinho, apreciando o litoral por minutos e minutos, misturando o silêncio com os sons do mar e a escuridão que, de certa maneira, remetia à morte - também não sei dizer como não mergulhei no mar para sempre, tantas foram as vezes e os pensamentos.
Tudo está tão longe, mas pode ser imediatamente acionado com alguns poucos acordes. Ouvir "Serious" leva a um mundo cheio de cores e também algumas dores. Ou seja, o mundo como ele realmente é.
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