Wednesday, November 09, 2022

Gal Costa

Quando um país perde um de seus patrimônios culturais, o impacto sempre será devastador, mas o tempo fará com que a arte se sobreponha à tristeza. É e será o caso de Gal Costa. 

Uma das maiores cantoras do mundo, louvada e celebrada por gênios como Tom Jobim e Caetano Veloso, Gal atravessou mais de meio século no topo da arte brasileira como uma de suas principais vozes. 

Nada lhe faltou. Foi roqueira, musa, transgressora, romântica, festeira, desafiadora, regional, jazzy, tudo. Começou gigantesca e se manteve em pleno voo. Popular e sofisticada, elegante e certeira. Pergunte a qualquer ouvinte na faixa dos setenta anos sobre o que significavam as Dunas da Gal. 

Depois de uma carreira já enorme, caudalosa, na última década Gal Costa fez o que se espera de um grande artista: o desafio. Gravou um álbum com novas sonoridades feito todo por Caetano, mais outros com novos compositores da cena brasileira. Inovou, surpreendeu, arriscou. Atravessou o século XX e teve sede para as inovações do novo milênio.

Voz única, de extraordinária afinação em todos os tons, adequada tanto para o American Songbook como para hits alucinantes como "Festa do interior", Gal Costa foi cantora e intérprete ímpar. Sua combinação de beleza, elegância e energia são referência na música do Brasil. Uma força da natureza insuperável, que sempre irá servir de farol para todas as cantoras que ainda teremos.

Gal é Tom Jobim, é Chico Buarque, é Caetano e Gil, é Tom Zé, é Dorival Caymmi, é Waly Salomão, é Gerald Thomas e também todos os compositores que recentemente registrou, tendo como exemplos Rodrigo Amarante, Zeca Veloso, Seu Jorge, Zé Ibarra, Rubel, Jorge Drexler, Criolo, Tim Bernardes, António Zambujo e Silva, mais tantos outros. Ela, que foi abraçada ainda jovem por tesouros como Tom e Caymmi, abriu seus braços para o novo e abriu caminhos para muita gente. 

A morte é inevitável, mas há muito tempo Gal Costa já tinha fincado seu lugar na imortalidade artística. Fica uma longa e definitiva estrada. 

Já a dor é indescritível. Há pouco, Zélia Duncan disse "perdemos uma Beatle". Para nós, brasileiros, o tamanho é exatamente esse. 

@pauloandel

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