Ontem foi dia de seleção de futebol no Maracanã. Fosse nos tempos idos, Nelson Rodrigues diria ser a "pátria de chuteiras", com mais de cem mil torcedores presentes ao estádio.
Não é mais assim, ainda que a festa seja marca registrada em qualquer evento carioca que não seja tiroteio.
Mário Filho esteve abarrotado ontem, com seus oitenta mil torcedores. Reduziram a capacidade de ingresso, pois a geral foi extinta e as cadeiras ocupam mais espaço do que os outrora espremidos torcedores. Viver, espremer.
E a seleção voltou ao Maracanã, sua casa de fato e que não precisa necessariamente ser o "estádio oficial da CBF", como tem sido comentado na mídia. Curioso é que, há menos de um ano, Ricardo Teixeira, o presidente da confederação, disparou que se o Brasil sediasse uma Copa do Mundo, o Maracanã não serviria como sede e deveria ser implodido. Agora, cogita-se da CBF administrar o Maracanã. O que mudou de fato? A incoerência das declarações passadas? A das atuais? Ou ambas? Tudo bem, exigir coerência no futebol é um pouco pesado.
O Maracanã é do futebol mundial. Qualquer ato de privatização ou de cessão do estádio a particulares significará grave agressão à memória do torcedor de futebol. Desimporta se Vasco tem São Januário e o Botafogo, Engenhão. A casa dos gigantes, dos grandes jogos é o Maracanã. E um jogo não pode ser gigante com apenas uma torcida.
Ao que tudo indica, não houve problemas de violência no confronto entre integrantes de torcidas organizadas no jogo de ontem. Proibiram a cerveja vendida, embora meu amigo Catalano tenha informado que a nata VIP no camarote montado pela cervejaria "oficial da seleção" - e que impedia a passagem de torcedores pelo anel de circulação do estádio - esbaldava-se com seu malte n'água. Dizem que proíbe-se a cerveja para minimizar a violência - se isso realmente desse certo, seria preciso estabelecer a Lei Seca por toda a Guanabara.
Favorecimentos à parte, foi bom o fim da ausência dos canarinhos no Maracanã. Sete anos. Um pouco exagerado. Espero que não tenha nenhuma relação com os propósitos antigos do Sr. CBF em botar as arquibancadas abaixo.
Quem ler ou leu as manchetes de hoje dará de cara, ou deu, com um impactante cinco a zero. Contudo, o placar não conta a história do jogo, modorrento que foi em sua grande parte.
Primeiro tempo, uma chatice só. Bela a jogada de Robinho e o ímpeto de Maicon para o gol solitário de Wagner, debaixo das traves vazias. Ele, também, Wagner, quase fez outro gol numa jogada de oportunismo pela esquerda, com a bola batendo no pé da trave direira. Robinho estava incrivelmente errando jogadas, o Gaúcho com um preciosismo que não cabe em sua vocação de craque. Kaká, o de sempre, arranque na direção do gol, objetividade. Um a zero bastou.
Segundo tempo, mais pachorra em vinte e cinco minutos, até que o forte chute do Kaká encontrou o Gaúcho pelo meio do caminho, e saiu o segundo gol. A esquadra equatoriana, limitada e já desgastada, aí se entregou de vez. Kaká fez um golaço, veio o quarto na jogada maravilhosa do Robinho e, despretensiosamente, Kaká de novo fez o quinto com a ajuda penosa do arqueiro equatoriano. Pronto. A seleção correu quinze minutos, jogou como seleção brasileira, aquela dos tempos em que se vencia e jogava bonito, fez quatro gols. É isso que esperamos, e não sufoco contra os colombianos para se conseguir um "bom resultado fora de casa", empatando sem gols.
Para a seleção brasileira, empatar nunca pode ser bom resultado.
O pessoal gostou, foi bacana, está certo. Para mim, entretanto, não tem mais pátria de chuteiras. Foi-se o tempo.
O circo pega fogo mesmo é hoje, com Vasco e Flamengo, jogo que é anunciado com ares de redenção para o vencedor. A verdade, mesmo, é que o derrotado penará nas proximidades da zona de rebaixamento.
Jogo de duas torcidas.
É disso que o Maracanã precisa.
De toda forma, agradeço ao Kaká pelo chutaço o ângulo. E ao Robinho, pela jogada maravilhosa de dois segundos, que nos faz perceber que o futebol brasileiro está vivo. Mesmo que, por vezes, respirando com auxílio de aparelhos.
Paulo-Roberto Andel, 18/10/2007
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