Sunday, April 20, 2025

MORTOS IMPORTANTES, VIVOS DESPREZÍVEIS

Acho que já escrevi em todos os turnos e situações possíveis. Muita gente ainda se assusta quando sabe que escrevi todos os meus livros desde 2015 no celular, deitadão, geralmente à noite ou de madrugada. Fato é que, entre sucessos e fracassos, viralizados e invisibilizados, já são milhares e milhares de páginas escritas desde a virada do século, quando nunca mais parei de redigir. Parte considerável está preservada no Museu do Futebol, outra parte no PANORAMA e o resto está por aí. E daí? Tudo vai passar mesmo e o destino dos livros será rodar de mão em mão pelos sebos - que continuarão vivos no século XXI. Mas acontece que escrever vai muito além do ato de querer ser lido ou vender livros, na verdade é um oxigênio. Às vezes tento relaxar um pouco mas a vida não me permite - escrever é ótimo mas ler é melhor ainda. Às vezes a coisa não acontece e o carro não tem arranque, caso de agora, quando eu ia falar da importância dos mortos dignos e da desimportância dos mortos vivos. Tenho amigos mortos há muitos anos que são influências fundamentais para mim, enquanto outros vivos, ex-amigos, perderam todo o significado por diversos fatores. Eu ia falar disso mas revi o documentário do Barão Vermelho há pouco e me toquei mais uma vez: como o Barão é phoda! Deu orgulho de ser fã da banda desde o começo, de ter Rodrigo Santos e o saudoso Mauro Santa Cecília como parceiros literários, de ter conversado algumas vezes com Guto Goffi e cumprimentado o Peninha na rua. Ainda preciso conversar um dia com Maurício Barros e conhecer o Fernando Magalhães, que além de ser um tremendo músico é uma unanimidade: todo mundo só fala as melhores coisas a respeito dele. Cazuza, cara, como era phoda e como faz falta. Eu conversava com o Mauro no WhatsApp e certa vez ele disse que seria melhor para mim evitar discussões na internet. Perguntei o motivo e ele disse que eu era grande demais para discutir com figurantes. Fiquei emocionado. Eu ia falar também de gente falsa que me sabotou e, uma vez por ano me procura para fingir uma consideração que não existe. Dane-se: o que passou, passou. Ficou quem tinha de ficar. Enfim, é isso: muitos mortos ainda dão as cartas, muitos vivos fazem tudo para ser cada vez mais desprezíveis. 


@p.r.andel

Monday, April 14, 2025

Bar

Era do lado da minha casa. Nós, amigos da época, nos encontrávamos quase que diariamente. Ainda éramos garotos, não bebíamos - eu não bebo direito até hoje. Eu estava no segundo grau ainda. A gente ria. Lá estavam nossos chefes escoteiros, que eram jovens de vinte e poucos anos. Entre sucos de morango e refrigerantes, nos misturamos aos boêmios do meio dos anos 1980. O bar ficava aos pés da escada rolante que levava ao teatro Teresa Raquel, o que nos permitiu ver de perto astros daquele tempo: Bruna Lombardi, Marina Lima, Paulo Betti - que sempre trazia debates politizados ao balcão -, Louise Cardoso,  Fausto Fawcett, a espetacular Lídia Brondi e grande elenco. Todos importantes mas não menos importantes do que os ícones locais: Paulinho Cana, Paulinho Bailarino, Paulinho Ceci, Seu Visconti, Fred, Catatau, Mussum, Seu Pauzinho - assim chamado por um pauzinho da sorte que carregava no pulso -, o grande jornalista Arthur Laranjeira, o jornalista Jorge Mascarenhas - sempre de passagem, com sua jovem e linda filha -, além de outros próceres desconhecidos do público mas fundamentais para a Copacabana de 40 anos atrás. De longe, Charlie sempre dava adeusinho - havia a desconfiança que ele fosse um mercenário, pois ia trimestralmente ao Paraguai e voltava sem uma única mercadoria. As garotas das termas L'uomo nos adoravam, viviam de sarrinho conosco. Regininha, que um dia teria o Brasil a seus pés, passava do nosso lado jovem e linda demais. Oswaldo Montenegro não chegava a ser agradável, mas fazia questão de falar conosco. Vimos de tudo ali: beijos incríveis, porradas, o gol do Tita, o gol do Cocada, o gol do Maurício, a morte do Chacrinha, a dor da derrota de Darcy Ribeiro em 1986, a Constituinte, a luta eleitoral de 1989. Uma vez, o jornalista William, um dos únicos chatos do ambiente, disse que eu era um garoto bobo e arrogante, sem carreira - quis o destino que, trinta e tantos anos depois, eu fosse 100 vezes mais lido do que ele. Uma vez, a Cissa me viu triste e disse que eu deveria mudar de ares. Muitas coisas aconteceram muitas vezes, outras apenas uma vez. Choramos, rimos, nos abraçamos. Foram uns sete anos por lá, que valeram por uma vida inteira. Eu me mandei em 1990, mas carreguei aquele tempo para sempre, até quando me dediquei a outros bares. Só do original eu escrevi um livro. O bar venceu tudo: crises, planos econômicos, mortes, até que perdeu a parada para a pandemia. Foi lá que a gente suspirava pela Anne, foi lá que a Tatyana riu de uma piada sinistra e que o Fred, cliente irretocável, falava deliciosas incorreções políticas. Lá se foram quase 35 anos mas eu ainda carrego aquele balcão comigo. As dores, os risos, as pequenas histórias fundamentais. Era meu bar, eu era um adolescente que só bebia suco, que depois voltava para casa e ficava feliz quando a família estava dormindo tranquila. A vida não era fácil, mas no bar havia goles e goles de felicidade. Eu vi.

@p.r.andel

Thursday, April 10, 2025

As famílias

elas são felizes, mas poucas/ são muito poucas/ já que a maioria vive/ debaixo da dor e ilusão/ na selva da grande cidade/cheia de imponentes edifícios/ não existe pena ou compaixão/ elas carregam caixas de doces/ e suas mãos estendidas  são completamente desprezadas/ elas são felizes, mas poucas/ enquanto quase todas/ só encontram abraço nas asas largas da humilhação/ agora é tão tarde que logo a noite acabará/ há quem acredite num novo dia/ mas é só o novo capítulo de uma novela permanente 

@p.r. andel

Wednesday, April 09, 2025

Conversa

Lembrei do Pedro. Meu amigo há mais de 40 anos, o tempo é avassalador. Ele morava em Ipanema e o Coruja no Leblon. Éramos escoteiros em Copacabana. Jogávamos bola no Corpo de Bombeiros da Xavier da Silveira. Volta e meia íamos aos bares perto do escotismo, tudo para ver o pessoal. Quando terminava o expediente dos botecos, a gente ia para a porta do Shopping dos Antiquários, saída Figueiredo Magalhães. Havia uma loja de ferragens e dava para sentarmos no pé da porta. Então ficávamos mais uma meia hora conversando até eles irem embora. Isso se repetiu muitas vezes. O Coruja era mais calado. Eu falava pelos dois. Passavam alguns carros pela rua. No canteiro de flores, volta e meia pulava um simpático e solitário rato - a gente olhava e ria. Meia noite, uma da manhã. Não tínhamos um níquel no bolso mas ríamos de tudo, o que era compreensível: tínhamos casa, comida e um futuro em promessa. O resto era planejado pelo acaso. 

@p.r.andel

Quando peguei em Cássia Eller

Reprise 10/12/2022

NOTA: esta crônica tem várias versões, todas verdadeiras. Nem tudo é mentira: estávamos muitolokos. Hoje Cássia Eller faria 60 anos e faz uma falta filhadapoota, mas ao mesmo tempo sua grande voz não para de ecoar. Viva Cássia! 

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Numa noite de quinta-feira de novembro de 1998, eu estava com meu amigo Bolinha em Copacabana. Resolvemos beber chopes. Estávamos ferrados emocionalmente mas juntos, um dando força para o outro. Bem ferrados mesmo. Bom, agora estou bem pior mas tudo bem. 

Chegamos tarde ao Sindicato do Chope no Posto Seis. Pedimos frango à passarinho, caldo de feijão e chopes. Já passava de meia noite e tínhamos trabalho cedo. Não bebemos de cair, éramos quase responsáveis, mas dava para rolar umas tropeçadas e até se machucar no calçadão. Mentira: bebemos pacarai. Comemos também, mas a doideira prevaleceu. 

Uma da manhã, bar vazio, o garçom esperando que pedíssemos a conta, eu pedi foi uma empolgante caipirinha - beber liberta! -, e subitamente chega ao bar ninguém menos do que Cássia Eller, acompanhada de dois brous. Enchi meu peito de emoção e o Bolinha logo inflou a ideia: "Porra, cara, Cássia é foda demais, você tem que ir lá falar com ela!". E a vergonha? E o risco do toco? A gente nunca sabe. Eu sempre tenho vergonha. Já entrevistei Gilberto Gil e Maria Bethânia, mas continuo com vergonha. 

O Bolinha sussurrando que nem o Diabo: "Cara, quando ela for no banheiro, você vai em seguida e cerca ela no corredor". Os dois banheiros eram um de frente para o outro. Mas eu já tinha ido umas cinco vezes de tantos drinques. Oito, talvez. 

Um chope, dois, três, cinco, oito deliciosos, eu já tinha aliviado toda a tristeza daquele dia mas o destino foi implacável: Cássia se levantou, Bolinha me deu um cutucão, ela foi para o banheiro, contei até três, fiz o mesmo mas o tanque já estava vazio. Então fiquei lá dentro num silêncio típico de minhas noites de ronda escoteira, ouvindo os ventos, as folhas e o horizonte livre no campo, esperando que, no outro compartimento, surgisse um som de torneira aberta - sinal de que ela estava prestes a sair. E aí eu a abordaria. 

Segundos, segundos. Tchoook. 

[A água da torneira batendo no dorso da pia.

Dou de cara com Cássia Eller. Ela olha e quase ri. Eu paro e digo "Cássia...". Ela para, eu me aproximo e aí um dos pares de olhos mais expressivos da música brasileira se arregalou: provavelmente ela pensou que eu a agarraria, mas não foi nada disso, mermão. Não. Eu coloquei minhas mãos nos ombros dela, peguei firme e disse "Tu é fodaça pracarai. Eu cantei muito lá na UERJ quando você fez um show no Teatrão. Meu amigo Rubens estava lá mas não desceu quando você sorteou a caixa de Brahma (patrocinadora do evento) - ficou com vergonha de ser a bicha da letra. Só sei que tu é fodaça. Teu show na Apoteose foi demais, você, Bob Dylan e Rolling Stones. Caceta!". 

Nós dois, cara a cara, olho no olho, a poderosa rockstar encolhidinha com medo de um gigante anônimo e gentil. 

Ela, pequenininha, já calma quando tirei as mãos de seus ombros, olhões quase arregalados. "Pô, cara, brigado pela força. Valeu mesmo.". 

Cássia realmente se assustou com a possibilidade de um beijo roubado, mas a um verdadeiro cavalheiro bêbado só interessam as causas amorosamente perdidas. Algo que a gente encontra parecido na literatura de Borges. 

Mais de vinte anos depois de sua morte, ela continua com presença avassaladora na música do Brasil.

@pauloandel

Monday, April 07, 2025

Choro

Reprise: Setembro/2020

É fato que tenho chorado muitas vezes neste século e no outro que me cabe. São os que tenho e que me restam. 

Tem sido assim desde criança, quando vi minha mãe chorar ao ver uma jovem mãe chorando com sua pequena filha, bem em frente ao Cine Metro, desprezada pelo grande público que saía da sala. 

Ou quando meu pai, num ataque de desespero, quebrou tudo em sua última loja numa véspera de Natal, aterrorizado pela miséria à vista. 

Também porque ficava nervoso a cada prova da escola para não perder a bolsa de estudos, mesmo que ninguém me cobrasse em casa. 

Ao ver a jovem mulher negra andando de quatro por suas limitações físicas, sem direito a uma cadeira de rodas no meio de Copacabana. 

E o homem debaixo da marquise perto da porta do shopping, numa cadeira de rodas e usando uma sonda, enquanto seu filho dormia no chão de pedras portuguesas.

Chorei de alegria pela primeira vez na vida quando passei na segunda versão do vestibular anulado. Eu tinha passado antes, era a única chance de mudar minimamente a minha vida. Foi difícil mas deu certo. 

E quando me despedi da faculdade. Revejo minhas lágrimas descendo a escada em vez das rampas, que sempre usei. 

Muitas vezes no Maracanã lotado ou vazio, sem que ninguém percebesse do meu lado. 

Em grandes shows de música, filmes, exposições artísticas ou numa mesa de bar. 

Olhando a cidade e lembrando das grandes cenas de geografia, tanto as da praia quanto do subúrbio. 

Chorei quando consegui meu primeiro emprego de salário digno. Não se repetiu quando saí, muitos anos depois. 

Chorei quando me senti traído ou usado por pessoas falsas, ou por constatar que alguns amigos não eram lá tão amigos assim. 

Por Tatiana, Alessandra e Juliana. Por Fred, Xuru e João. Pelo Marcão. 

Desde criança chorei na cama que me abriga, a mesma onde nasci e meus pais morreram. Também pelo meu irmão. 

Chorei pelas corridas que nunca mais pude fazer, pelo futebol que nunca mais pude jogar. Pelo medo de morrer sozinho e infeliz como nunca. 

Pelo país, pela cidade, por meu amável bairro perdido cujos habitantes só vivem em minhas lembranças. 

Pelo botequim da adolescência. 

Pelos cariocas, fluminenses e brasileiros, tanta gente admirável, honesta, trabalhadora e humilhada diariamente. 

Chorei por conviver com péssimos seres humanos que se autoproclamavam doutores, quando na verdade eram empresários fascistas de merda. 

Posso ter chorado nas raras vezes em que reli trechos de meus próprios livros, não acreditando que o motivo da emoção fosse algo que eu mesmo escrevi. 

Chorei pelas guerras inúteis, que matam e destroem por nada, pelo prazer do ódio. 

Chorei por muitas injustiças que sofri, a maioria vinda de pessoas para as quais estendi a mão, o coração e os gestos. Essa vergonha não é minha. 

Já chorei em grandes avenidas, hoje mortas, pensando em seus admiráveis personagens, hoje todos esquecidos.

E pelo sofrimento das pessoas humildes, muitas vezes manipuladas, incapazes de perceber que colaboram para seus algozes. 

Chorei porque há muito tempo vi crianças chorando num orfanato, querendo que eu as levasse comigo, mas eu não tinha como. 

Dia desses chorei porque passei pelo centro da cidade, bem nas entranhas desconhecidas, e vi que muitos populares ainda moram em cortiços. 

E por ter relido o ódio da classe média pelo famoso cortiço "Cabeça de Porco", que resultou na desgraça infinita de quatro mil pessoas. 

Ao ver fotos de judeus sofrendo em campos de concentração, porque eu poderia ser um deles. 

Crimes horríveis, hediondos, muitas vezes cometidos por "pessoas de bem" com a benção dos hipócritas. 

Por saber que muitos suicídios têm ocorrido porque as pessoas são apedrejadas por conta da cor, sexualidade ou pobreza. 

Pela obesidade também. Muitos riem. 

Ver o esgoto moral de alguns governantes brasileiros a céu aberto, in natura, e toda a farsa que destruiu o bem estar de muitos pobres. 

Chorei por ter vergonha de feras assassinas. 

Choro porque conheço a vida. A vida.

@pauloandel

Wednesday, April 02, 2025

BURNING

no chão, as folhas mortas avisam que o verão deu adeus

e transeuntes derramam lágrimas silenciosas enquanto caminham


a miséria sorri em olhos infantis 

enquanto as rugas expelem dor


ao longe, os falsos democratas riem

- militantes da desgraça alheia, mais

preocupados com as próprias carteiras

enquanto arrotam inutilidades sem chão 


nos hospitais, os pobres resignados

esperam as despedidas depois do sol

nas ruas, é fácil ver gente mexendo lixo

em busca da sobrevivência dolorosa


à madrugada, tudo está fechado: ninguém responde, o silêncio é a vez

corações solitários soluçando em vão 

e corpos humilhados nas calçadas vis


[eu estou sozinho nessa terra tão triste

e linda, cheia de natureza e indiferença 


[nenhum abraço me navega 


[tristes os bares sem boemia, cerrados

[ninguém estende a mão para ninguém 


basta um mísero segundo e abril é fato

as folhas mortas são a grande cartada

escravos imploram para ter vã alforria 

tempos modernos fazem castas antigas 


nunca fomos tanto ninguém 

nunca fomos tanto ninguém 


@p.r.andel

Escritores vaidosos e outras histórias

ESCRITORES VAIDOSOS, ARROGANTES E OCOS

Quando o caso é de escritores e poetas, senhor... De cem você tira quatro. Um show de arrogância oca e excesso de auto estima, vendo a si mesmo como gênios incríveis, embora na maioria dos casos não houvesse genialidade alguma além do discurso. Em sua maioria vaidosos ao extremo, individualistas, incapazes de jogar em equipe - falo do que vivi, não do que ouvi falar. Dezenas e dezenas de pessoas. Claro que há exceções valiosas. Bigode, querido amigo, é uma delas - foi a personalidade que mais me fortaleceu publicamente, e olhe que temos uma amizade recente, de uns cinco anos, valiosa e intensa. Volta e meia testemunho a humildade de André Felipe de Lima, que é um monstro escrevendo até post de três linhas. 

Ainda sobre a empáfia, várias vezes tive vontade de rir vendo, ouvindo e lendo as declarações de pico celebridades literárias, geralmente vendo ouro em seus próprios trabalhos quando só havia urina, ou desancando o trabalho alheio gratuitamente. Eu não sou vigia da poesia alheia, cada um que desenhe seus próprios versos. 

Eu não inventei a língua, o livro, as técnicas de escrita, nada disso. O que faço é contar histórias que vivi e pesquisei do meu jeito. As pessoas adoravam me ouvir em bares e tentei levar essa mesma fala para os livros. Fazer o que dizia Ivan Lessa: "o cronista fala sozinho na frente de todo mundo". Só comecei a cogitar que poderia escrever bem quando tirei o terceiro 10 na redação do vestibular. Eu era tão ingênuo que, com as duas notas anteriores, pensava que tinha tido sorte... E depois que meus textos receberam mais de um milhão de cliques em meu site, mesmo que isso se limite a 50.000, 20.000 ou 5.000 pessoas, não dá pra dizer que muita gente não voltou para novas leituras. 

Se vivêssemos num outro tempo, provavelmente o meu trabalho seria muito mais conhecido. Escrevo num tempo em que as pessoas não têm paciência para ler. Gostaria de ser dignamente remunerado. Afora isso, eu não estou nem aí. Fiz várias coisas legais, ainda estou fazendo pouco me importando se chegam a 100, 1.000 ou 10.000 pessoas. O importante é jogar a sua mensagem dentro da garrafa no mar, o resto a gente vê depois. Estou pouco me lixando para críticas e observações de casuísmo barato. O que importa é o conteúdo da mensagem. Ninguém melhor do que eu mesmo para saber quando fui regular, bom, ótimo e excepcional - tenho exatamente a noção disso em tudo que publiquei. E quando fui bom ou regular, é porque ousei, arrisquei e nem sempre dá certo - arte sem ousadia é banalidade. 

Se parasse hoje, já teria a sensação de dever cumprido, mas sei que ainda posso mais, quero mais e espero poder realizar muita coisa escrevendo. Quem gostou, gostou; quem não gostou, paciência. Meu texto é minha vida: vivi 25 anos em Copacabana, já passei muita necessidade, ando de chinelos e bermuda. Tenho pressa, muita pressa. 

Ah, sim: a opinião de gente que despreza literatura de futebol eu nem considero. São tantas coisas e histórias espetaculares que desconfio de quem debocha do tema. Ninguém é obrigado a gostar, mas subestimar o futebol como combustível lítero-poético é um atestado de ignorância. 

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FATO RELEVANTE 

Muitas vezes em minha vida, de forma exagerada, diversas pessoas me apontaram como alguém "fora da curva" em termos de capacidade intelectual (detesto pensar nisso mas tem algum sentido). Sinceramente, nunca levei isso a sério até os tempos recentes, mas aí surgiram os antivax, os fãs da terra plana ou quadrada ou trapezóide, e fui obrigado a abdicar do que alguns dizem ser excesso de modéstia. 

Não é incrível que nenhuma delas, mesmo as que tinham muitas possibilidades, tenha me oferecido qualquer chance de mostrar a tal capacidade? Ou mesmo de dar uma simples opinião? Ou sugestão? 

Entendem o que é o Brasil?

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Paulo Leminski é o grande e merecido homenageado da FLIP em 2025. Ao mesmo tempo, seu filho luta pela sobrevivência e para não ficar nas ruas, indignidade que nenhuma pessoa deveria sofrer. 

Entendem o que é o Brasil?