Acho que já escrevi em todos os turnos e situações possíveis. Muita gente ainda se assusta quando sabe que escrevi todos os meus livros desde 2015 no celular, deitadão, geralmente à noite ou de madrugada. Fato é que, entre sucessos e fracassos, viralizados e invisibilizados, já são milhares e milhares de páginas escritas desde a virada do século, quando nunca mais parei de redigir. Parte considerável está preservada no Museu do Futebol, outra parte no PANORAMA e o resto está por aí. E daí? Tudo vai passar mesmo e o destino dos livros será rodar de mão em mão pelos sebos - que continuarão vivos no século XXI. Mas acontece que escrever vai muito além do ato de querer ser lido ou vender livros, na verdade é um oxigênio. Às vezes tento relaxar um pouco mas a vida não me permite - escrever é ótimo mas ler é melhor ainda. Às vezes a coisa não acontece e o carro não tem arranque, caso de agora, quando eu ia falar da importância dos mortos dignos e da desimportância dos mortos vivos. Tenho amigos mortos há muitos anos que são influências fundamentais para mim, enquanto outros vivos, ex-amigos, perderam todo o significado por diversos fatores. Eu ia falar disso mas revi o documentário do Barão Vermelho há pouco e me toquei mais uma vez: como o Barão é phoda! Deu orgulho de ser fã da banda desde o começo, de ter Rodrigo Santos e o saudoso Mauro Santa Cecília como parceiros literários, de ter conversado algumas vezes com Guto Goffi e cumprimentado o Peninha na rua. Ainda preciso conversar um dia com Maurício Barros e conhecer o Fernando Magalhães, que além de ser um tremendo músico é uma unanimidade: todo mundo só fala as melhores coisas a respeito dele. Cazuza, cara, como era phoda e como faz falta. Eu conversava com o Mauro no WhatsApp e certa vez ele disse que seria melhor para mim evitar discussões na internet. Perguntei o motivo e ele disse que eu era grande demais para discutir com figurantes. Fiquei emocionado. Eu ia falar também de gente falsa que me sabotou e, uma vez por ano me procura para fingir uma consideração que não existe. Dane-se: o que passou, passou. Ficou quem tinha de ficar. Enfim, é isso: muitos mortos ainda dão as cartas, muitos vivos fazem tudo para ser cada vez mais desprezíveis.
@p.r.andel