(ou os corações solitários no ponto de ônibus
em frente ao prédio com pilotis)
a miséria é
livre é
grátis é
democrática:
todos estamos fudidos
mas há quem aplauda
o que está acontecendo
como se estivesse na fila
dos banheiros em auschwitz
e dissesse: há de ser
uma ducha boa!
todos estamos desempregados
humilhados, escorraçados
enquanto as manchetes da tevê
saúdam o lucro dos bancos
os condomínios de gran luxo
e a balança comercial
a miséria está em todas as calçadas
e marquises
nas praças abandonadas
no vinco dos rostos sofridos
que dormem ao relento gelado
ela, miséria, generosa que é, se espalha
e abraça cada vez mais gente
todos somos mendigos:
se não for das ruas, que seja das almas
do nosso vazio indiferente
do nosso foda-se o outro
existe no ar o misterioso sono da eternidade
quee flutua nos corpos
recolhidos na uerj e nos trilhos
do metrô
e nos restos mortais no iml
somos estúpidos demais
demais!
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