Friday, March 30, 2018
hey, amor
hey, amor/ as coisas continuam fora do lugar/ o caos é nossa matriarca gentil/ eu continuo sem você/ e tão sem mim/ o brasil precisa amanhecer/ o que será daquele um só mesmo?/ e das manchetes encardidas/ desta selva de pedra nazifascista/ mas ainda existem restos de amor/ my love said never felt him so good/ longe do mar de lágrimas das entranhas da rua/ longe do ódio e dos fuzilamentos/ um milhão de detentos para justiça alguma/ o sol ainda brilha em abril/ mas temos contado mortos demais/ as veias de asfalto estão sangrando demais/ meu coração ainda espera por ti/ nunca estarás morta no que vejo/ não viveremos para sempre no exílio/ nem pediremos esmolas aos que nos veem com nojo/ não precisamos destes bostas para nada/ hey amor/ hoje é uma noite solitária/ de dia santo e mil diabos pelas ruas/ pobres diabos sem rumo nem preço/ ainda choro por ti/ e me desaconteço/ Brasil/ minha voz enternecida/ calou-se à última canção/hey amor/ se eu não te ver nunca mais/ saiba que te carreguei feito os versos de um poema emblemático/ dos dias sofridos da grande metrópole/ onde todos são todos e cada um é ninguém/ só eu sei das esmolas que peço a mim mesmo/ perdido na solidão das ruas/ despencando do décimo andar da tristeza/ até me estraçalhar no chão/ para viver outra vez sem razão/ hey, amor/ a madrugada tem silêncios moles/ a solidão traz poesias de ironia e cores/ queremos pequena fé enquanto degustamos os rumos da desesperança. @pauloandel
Thursday, March 29, 2018
Tuesday, March 27, 2018
A panfleteira
A
GAROTA morena e jovem está na porta da casa de tolerância panfletando a
propaganda de serviços sexuais, enquanto espia o smartphone e usa um fone de
ouvido. Ela parece jovem, é mais jovem do que se pode supor, mas carrega as
marcas do tempo veloz de quem trabalha na prostituição. Ela atende clientes
também. Ela às vezes sorri, enquanto na diagonal da Rua do Senado um
panfleteiro conversa com transeuntes e veste uma camisa de time de futebol. Ela
também é séria e compenetrada em seu trabalho. A Rua do Senado é vazia e quente
perto de uma da tarde, quase sem carros, praticamente sem gentes. Mais adiante,
ouve-se um poderoso som de funk saído de um cortiço. Mais adiante, uma voz em
alto-falante ecoa do Quartel Central do Corpo de Bombeiros. Mais adiante, duas
jovens e belas garotas, elegantemente vestidas, saem do palácio corporativo da
Petrobras rumo ao almoço ou qualquer outra coisa. Elas são bonitas e jovens, bem
jovens, tão jovens quanto a garota morena que panfleta honestamente na porta da
casa de tolerância, jovens demais mas com trajes de sobriedade empresarial bem sucedida. As duas garotas cochicham e riem, do mesmo jeito que a
garota morena fez cento e cinquenta metros atrás ou adiante - conforme o referencial, mas também conversam seriamente
e tudo se resume a uma distância muito pequena quando se pensa em andar, mas
imensa quando o caso é entender o Brasil, as desigualdades, as oportunidades e
o futuro de jovens mulheres que, por incrível que pareça, andam pela mesma
calçada – e nela, podem acontecer os únicos encontros de suas vidas, mas no máximo com um esbarrão e só.
Saturday, March 24, 2018
carne tesa carne
carne tesa carne
inebriada
de desejos e tesões
- ah, perversões!
cantos danças corpos
madrugada
e carnavais de pele
pra quem entende
o sexo em riste
o gozo e o contraste:
há efêmero e eterno
descartável e permanente
os colos trêmulos
os líquidos pulsantes
a vida o êxtase - há cor
e mil estrelas à vista
o abraço do prazer
cumprido e o fim
do gosto proibido
- existe a paz!
@pauloandel
Tuesday, March 20, 2018
bella blú
nenhum poeta escreverá
os versos na toalha de mesa
na última grande noite
da pizzaria - não, nenhum!
copacabana é um peito
cansado e triste, vazio
perdido em lembranças vãs
e memórias em decomposição
a linda prostituta nunca
mais cortejará seu
elegante cafetão na última
grande noite da pizzaria
nunca mais os jovens
famintos à espera do
amigo mais velho e rico
para pagar algum prato
os mafiosos italianos
com elegantes camisas
vermelhas agora são mera
lembrança do longe, longe
copacabana não dorme
e joga fora os armários
de fatos e fotos - a vida
em riste e mil faroestes
as ruas são farmácias
os doentes, empilhados
debaixo da marquises
e de olhares de nojo
a cólera é a covardia
enrustida
somos hipócritas imorais
em nome de Deus
nunca mais dois amantes
darão as mãos à mesa
na última grande noite
da pizzaria
alguém proteja o bar
sniff e a adega pérola
até mesmo o velho pé sujo
da anita garibaldi
antes que o mundo seja
um tarde demais à noite
mais quente do ano - tão fria
para os corações saudosos
@pauloandel
Sunday, March 18, 2018
PIB (Perfeito Idiota Brasileiro)
Desprezar, fazer pouco caso ou reduzir o tamanho da monstruosidade cometida contra Marielle não é sinal de politização, consciência ou de "opinião polêmica".
Na verdade é desumanidade, estupidez, incapacidade de ver o próximo como semelhante e, por fim, desconhecer um palmo à frente do nariz quando o assunto é Brasil.
É falta de convivência, apreço, respeito, dignidade.
É ler sem entender, aplaudir sem compreender, olhar sem enxergar.
É achar que suas deliberadas manifestações de falta de raciocínio são "polêmicas" ou "para abalar".
Estupidez. Desumanidade. Marcas típicas do PIB, o Perfeito Idiota Brasileiro.
O fuzilamento foi cometido próximo à Prefeitura, ao Hospital Central da PM, ao Batalhão de Choque e à Acadepol, para que não deixasse dúvidas: os assassinos e seus mandantes deixaram um recado claro de escárnio às instituições. Debocharam de todos os policiais honestos e agentes públicos das mesmas. "Quem manda nessa merda é a gente. Uhu!"
Por sinal, a luta de Marielle também envolvia a defesa de famílias de policiais fuzilados como ela foi.
O PIB sequer percebe que, para expor gratuitamente a sua falta de visão de mundo e a sua colossal ignorância (que independe de "anos de estudo"), é preciso democracia - e ela inexiste quando qualquer pessoa é fuzilada.
Quantos livros, quantas aulas, quantas horas, quanta coisa foi jogada fora em favorecimento dessa verdadeira apologia ao primitivismo...
O PIB é a realidade modal do Brasil, e também a sua maior desgraça.
Saturday, March 17, 2018
eles estão mortos demais
haja o que houver
eles estão mortos demais
afogados na própria cólera
engasgados com fel
na saliva
eles são a verdadeira carne
podre que anda e ri sem
entender as mazelas do mundo
fantoches das manchetes
vassalos da televisão
haja o que houver
eles são os verdadeiros mortos
os suicidas da lucidez
e celebram suas desgraças
sorrindo pela dor dos outros
e comemoram a morte da mártir
a mulher indefesa fuzilada
eles são corpos em decomposição
nas geladeiras mortuárias
quebradas nas redes
antiasociais
pulhas pilantras medíocres
boçais ignorantes
débeis mentais
que leem mas não entendem
que pensam mas não
raciocinam
que olham mas não enxergam
sim eles estão felizes
a estupidez lhes regenera
mas o fascismo não é para
sempre quem atira e mata
também morrerá - o ódio
é o mais certeiro fracasso
haja o que houver por aqui
o assassino é um morto
em vida - que ninguém se
iluda eles sabem da própria
morte infeliz e nojenta
Tuesday, March 13, 2018
Picaretagem no samba
No mundo do samba, é difícil encontrar alguém que já não tenha ouvido ou visto
o Grupo Cultural Exaltação ao Samba de Enredo, que sempre foi conhecido como Grupo Samba Enredo, seu nome original.
Primeiro, pelo principal:
talento.
Segundo, porque o conjunto já passou por várias quadras das principais Escolas de Samba do Rio em seus dez anos de carreira, além de ter tocado com praticamente todas as Velhas Guardas em suas apresentações.
Segundo, porque o conjunto já passou por várias quadras das principais Escolas de Samba do Rio em seus dez anos de carreira, além de ter tocado com praticamente todas as Velhas Guardas em suas apresentações.
Há anos, o Exaltação toca na
quadra da Mangueira, da Portela, no Bola Preta, no tradicional sábado de samba
do Tijuca Tênis Clube e em seu berço, o bar Armazém da Senado, um dos endereços
mais tradicionais da cidade, com 111 anos de vida. Aqui falo de cadeira porque
vi seus shows em vários desses lugares.
Um dos principais incentivadores
do grupo em sua fundação e trajetória é Rubem Confete, que é uma lenda viva do
samba carioca, além de compositor, jornalista, roteirista, teatrólogo,
radialista, gráfico, cantor, ativista e estudioso das questões afro-brasileiras.
No Tijuca Tênis Clube, o
Exaltação é grupo fixo, levando centenas de pessoas às suas apresentações que
duram horas em sábados alternados.
Alguém me avisa e fico sabendo de
que, no Facebook, foi criada uma página do grupo... “Samba Enredo”, que nada
tem a ver com o original, mas é um projeto que, no mínimo, tenta se aproveitar
do primeiro, usando um nome parecido.
Ao visitá-la, vejo que o show de “lançamento
nacional” do grupo é no dia 21/04... no Tijuca Tênis Clube, o mesmíssimo
endereço onde o Exaltação toca há anos.
É quase o mesmo que, se nos anos
1980, tivesse surgido um grupo de pop rock chamado Legião Suburbana, Parabrisas
de Bonsucesso ou Barão Verde. Tentativas levianas de driblar acusações de
evidente plágio.
No entanto, lançar um grupo quase
homônimo no mesmo lugar onde o original toca há anos é, no mínimo, um exercício
descarado de má fé.
Indignado, publiquei na página o
vídeo de documentário do Exaltação, recebendo uma resposta inacreditável: que
se tratava de uma “nova proposta” (sofisma para disfarçar plágio descarado) e,
logo abaixo, um emoji que não sei dizer se é de raiva ou vergonha.
Mas a minha indignação
naturalmente não foi a única. Afinal, muita gente acompanha o Exaltação há anos
e anos. Repare nas respostas da "nova proposta"...
É justo que um grupo tente buscar
espaço no mercado da música. Agora, é ABOMINÁVEL a desfaçatez de plagiar e se começar
numa carreira usando o trabalho consagrado de outros artistas como “escada”.
No mínimo, cabe um
ajuizamento claro.
É o tipo de coisa que já causa no
mínimo mal estar em qualquer área, imagine na arte.
Espero que os responsáveis pelo plágio, a ponto de tentar ocupar o mesmo espaço físico do grupo original, caiam em si
a tempo de desfazer este ato claramente lesivo à imagem e trabalho do
Exaltação. Contudo, se não o fizerem, já começam dando vários passos para trás, para não dizer um tiro no pé.
Na arte, a traição não perdoa.
Para seguir o VERDADEIRO Grupo Exaltação ao Samba de Enredo, acesse A PÁGINA DO FACEBOOK.