Wednesday, February 21, 2018

a tristeza soberana da guanabara

inevitável é pensar:
soberana, a tristeza

em meio à tempestade

os desprezados e humilhados
ratos humanos em busca
de toca
os corações solitários
oprimidos
em terra de cobiça
e modernas senzalas

a cidade e suas águas
melancólicas
pela própria natureza:
os famintos, desabrigados
o desprezo tão humano
e alheio ao razoável

a opressão em doses cruas
o desamor a indiferença
o sofrimento em peles queimadas
e drogas letalíssimas
à venda numa TV
que nem Paul Simon acode

o amor que delinque
o tesão que não se
cumpre
os sonhos sob
escombros
a cidade afogada em
lágrimas

não há vagas
não há sonhos
não há abraços

e as mãos mendigas
afagam a morte
sob marquises infiéis

e as mãos mendigas
procuram um aperto
um abraço de palmas
mas só encontram
pequenas moedas, se muito

hoje é um novo dia
para os mais ingênuos
os indiferentes
os homens de negócios
chamando as pessoas
por números e valores
e contas desprezíveis

depois do sinal os
recados
são a consagração
da inutilidade
diante de todos os
mortos
os corações dilacerados
em vão:
somos um lindo planeta!
nosso único pecado
reside na colossal
hipocrisia
ninguém há de resgatar
a lama suja da nossa
insana hipocrisia

o sinal caiu



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