terra
de homens bons e maus
ganância, egoísmo, fracasso
e melancolia
o mundo por uma ilha
e as marquises dos grandes edifícios
as cirurgias das grandes emergências
terra
sem paz, no caos, em guerra
o inimigo não se compreende direito
mas somos tão vivos
e vivemos nossos dias em contas:
o carnaval, a copa do mundo, as eleições
e agora os tempos de festas
o natal para aquecer os corações ou amaciá-los
o ano novo para se esquecer dos anos que já se escorreram pelo ralo
e dormiremos tranquilos
alguém morre de fome, sede, acidente, câncer, bala perdida
e vamos dizendo amém
dizendo amém
sonhando com acordos impossíveis e a paz dionisíaca
alguém morre de sede enquanto alguém manda um whatsapp
terra
terra
uma economia de bosta, uma feira livre do grande capital
o haiti é perto demais, cuba também
terra
terra
@pauloandel
Monday, December 22, 2014
Tuesday, December 16, 2014
Tuesday, December 09, 2014
call me
If you're feelin' sad and lonely
There's a service I can render
Tell the one who loves you only
I can be so warm and tender
Call me, don't be afraid, you can call me
Maybe it's late but just call me
Tell me and I'll be around
There's a service I can render
Tell the one who loves you only
I can be so warm and tender
Call me, don't be afraid, you can call me
Maybe it's late but just call me
Tell me and I'll be around
Saturday, November 22, 2014
nevermind
de volta ao nunca mais
nunca mais
viva o futuro que não tem
o que eu queria
viva este grande dia da liberdade!
feliz com as minhas inutilidades
os inúteis sonhos infantis
e o que importa na imperfeição?
existe a vida, grande vida
esta que jamais compreendemos
procurando em vão por justiça
alimentando desesperanças
e perdendo tempo em buscar sentido
nas coisas dos homens:
podíamos estar na sala de jantar
deitados em silêncio pleno
mas preferimos o desafio:
amor, tesão, companhia, colo
silêncios da madrugada
e o réquiem para a felicidade -
as vitrines estão cheias de olhares
enquanto arrotamos futuro:
o escuro do quarto é uma lâmina
para não dizer adaga ou lágrima
viva o grande dia da liberdade!
@pauloandel
nunca mais
viva o futuro que não tem
o que eu queria
viva este grande dia da liberdade!
feliz com as minhas inutilidades
os inúteis sonhos infantis
e o que importa na imperfeição?
existe a vida, grande vida
esta que jamais compreendemos
procurando em vão por justiça
alimentando desesperanças
e perdendo tempo em buscar sentido
nas coisas dos homens:
podíamos estar na sala de jantar
deitados em silêncio pleno
mas preferimos o desafio:
amor, tesão, companhia, colo
silêncios da madrugada
e o réquiem para a felicidade -
as vitrines estão cheias de olhares
enquanto arrotamos futuro:
o escuro do quarto é uma lâmina
para não dizer adaga ou lágrima
viva o grande dia da liberdade!
@pauloandel
Wednesday, November 19, 2014
Tuesday, November 11, 2014
quando for futuro
haverá um dia em que os gestos
falarão mais alto do que nossas palavras
a ponto de vencerem a hipocrisia
não se aceitará mais o descaso
o desrespeito será decadente
e se entenderá que só é possível
valorizar a si mesmo
quando se reconhece o valor do outro
então seremos
os superoutros da canção
agora num outro mundo, novo mundo
longe deste que entendemos ser
a catedral do egoísmo e da indiferença
nunca mais será normal
vermos os outros feito mortos vivos
@pauloandel
falarão mais alto do que nossas palavras
a ponto de vencerem a hipocrisia
não se aceitará mais o descaso
o desrespeito será decadente
e se entenderá que só é possível
valorizar a si mesmo
quando se reconhece o valor do outro
então seremos
os superoutros da canção
agora num outro mundo, novo mundo
longe deste que entendemos ser
a catedral do egoísmo e da indiferença
nunca mais será normal
vermos os outros feito mortos vivos
@pauloandel
Friday, November 07, 2014
duzentos metros
Depois de horas numa confortável
sala branca quase fechada, refrigerada ao extremo e sem luz natural, então vejo
que chegou a hora do almoço.
À RUA, um calor enorme neste
verão enrustido de novembro e uma sensação de liberdade: uma hora para fazer o
que se quiser, embora nem haja grande variedade de opções assim; caminhar,
almoçar e voltar para a sala.
Na esquina da rua do Senado com a
Vinte de Abril, um jovem morador de rua em frente à lanchonete coreana,
carregando uma bola que deve resumir seus pertences, uma muleta, um pé calçado
com bota humilde e o outro, com um chinelo.
O grande muro vermelho do Quartel
Central do Corpo de Bombeiros faz pequena sombra. As pessoas caminham pela rua
interditada. Poucas.
Dois garotos pequenos, pretinhos,
apertam-se no estreito corredor para pedestres em frente à Igreja de Santo
Antônio: uma obra nova de tubulação, feita para reparar um problema de meio
século, estourou; interditaram a rua e não há indícios de que a recuperação será
fácil. Eis o motivo da interdição.
Uma garota bonita com seu crachá
da Petrobras passa com quase sorriso no canto da boca, talvez desejando ser
desejada, talvez querendo afirmar a obviedade de sua beleza e tudo tem pouco
sentido, uma vez que estamos na cidade com as garotas mais bonitas do mundo,
também desimportante se isso é apenas um ufanismo carioca.
Cem metros.
O restaurante chinês quase vazio,
algumas pessoas fazendo seus pratos na fila, fico agradecido por ter mais um
dia de comida, mas, ao mesmo tempo, observo atentamente todas as coisas
gostosas que não posso comer porque não tenho mais a saúde de um dia distante. Pego
o que dá.
Duas mulheres na faixa de seus
quarenta anos, riem, cochicham e especulam um programa noturno com amigos, uma
com possível aliança de casamento e a outra não.
A garçonete do restaurante, cujas
amigas chamam de “girafa”, geralmente demorada para atender, finalmente escuta
minhas preces e peço um Guaravita. Estou sentado sozinho, como quase sempre
faço, com enorme velocidade para comer e sei que isso é péssimo, apenas não
consigo mudar. Crachás por todos os lados. A televisão dando notícias de
futebol, melhores para alguns e reduzidas para outros.
Cumprimento educadamente as moças
da caixa, nem tão simpáticas, pago, recebo meu troco, o canhoto deve ser
entregue à moça simpática que fica na porta. Ela agradece e me deseja bom final
de semana.
O corredor na verdade é um
curralzinho que faz vaivém na rua dos Inválidos, volta na Igreja de Santo
Antônio – agora cheia por causa de uma missa – e retorna à rua do Senado, onde
carros e motos fazem a festa do estacionamento.
Um trabalhador do povo,
carregando duas caixas de refrigerante nos ombros, saúda e graceja a passagem
de uma mulher pelo caminho, mais por conta de seu short do que pelas formas
delicadas. Isso também pouco importa; na verdade, democratiza a cantada e não a
torna objeto apenas das ditas mais belas – e o que importa se é beleza o que
sentimos com os olhos, às vezes sem a visão, sempre sujeita a modificações com
o passar do tempo?
Uma menininha passa com sua mãe a
caminho da escola. Logo depois, um menininho é puxado pela mão: sua mãe também
o conduz. Por um instante, tenho uma saudade infinita da minha mãe e de quando
eu era um garoto em Copacabana caminhando com um biscoito de polvilho na mão,
agora, entristecido demais porque tudo isso não vai mais voltar, o futuro
inevitável (que espero distante) é a morte, nunca mais minha mãe me abraçará,
não terei como satisfação fundamental da vida ver um desenho animado ou ganhar
um pequeno carrinho. A isso tudo chamam evolução, crescimento, envelhecimento e
o sentido da vida parece algo incompreensível.
Na esquina com a Vinte de Abril,
a porta do velho puteiro está lacrada. Um casal homoafetivo apressadamente se
direciona para a porta do motel. O restaurante falido agora tem uma placa de “Aluga-se”.
O calor continua intenso e há um certo clima de feriado que, todos sabemos, não
existe.
Duzentos metros.
Entro na empresa, um ar gelado
fulminante no rosto, recomeça um expediente de mais quatro horas numa bela e
confortável sala branca, sem luz natural, sem conversas, sem contraditório,
números a tratar, contas a pagar.
Logo mais, tenho a missa de
sétimo dia da Dona Christina, um personagem fundamental da minha vida. Em sua
casa, ao lado de seu filho, meu amigo Luizinho, vivi boa parte da minha vida
entre jogos de botão, pizzas, piadas e um sentimento de que a vida seria
infinita, talvez a melhor das ilusões.
Eu e o velho amigo conversaremos à noite, riremos, falaremos de nossas dores e frustrações,
tentaremos procurar mais uma vez o que perdemos diariamente em algum momento - ou vários - ou todos.
O sentido da vida.
O sentido.
@pauloandel
Monday, November 03, 2014
a capital dorme
na primeira noite depois do dia dos mortos a capital dorme. as luzes piscam nos morros e parecem estrelas cadentes para abonados usuários de avião, prestes a aterrissar no aeroporto à beira d'água. debaixo de marquises caras, transeuntes sem rumo dormem. usam drogas mortais. fazem sexo. sofrem. e dormem. na avenida litorânea as lindas putas buscam o dinheiro do aluguel - elas ainda não dormem. num leito de morte do hospital público central, o paciente terminal dorme, ao contrário do berçário onde minúsculos bebês choram e nem imaginam a rudeza do caminho que virá. a capital já não tem o asfalto entupido por pneus e ruidosos automóveis. o metrô nem parece uma caixa de carne humana moída, amassada no ir e vir do fim do expediente. na praça sete, o mendigo dorme. no estácio de sá, os meninos malandros magrinhos espiam as jovens de seios fartos, bumbuns e coxas carnavalescas: ninguém dorme. na prado júnior, o caminhante é impisa, o lobo que nunca dorme. nas gares, nos terminais, na central do brasil os trens preparam-se para breve sonho. o vizinho pensa na jovem vizinha nua, ou na mulher eternamente distante. crianças adormecem pensando na manhã de escola. nem é meia noite e a capital, acolhedora e hostil, dá indícios de sono. o amor também adormece. resta a crueza chamada solidão, livre.
@pauloandel
Friday, October 31, 2014
a legião urbana
a nossa pátria sem destino
com seus foguetes racistas, excludentes
meninos brancos que não sabem
a dor dos pobres e doentes
no cu do mundo
franco e depravado cu do mundo
onde os traficantes sorriem, mandam, matam e nenhum verso romântico
há de prosperar
a revolução não vai ser televisionada:
ela viverá quando a legião urbana
tomar as ruas das cidades
quase sem querer
e seremos libertos a ponto de vivermos nossos amores
muito além do livro dos nossos dias
a legião urbana vai carregar as multidões para muito além do futebol e do carnaval
e os jovens serão tudo: canto, beleza e futuro
@pauloandel
com seus foguetes racistas, excludentes
meninos brancos que não sabem
a dor dos pobres e doentes
no cu do mundo
franco e depravado cu do mundo
onde os traficantes sorriem, mandam, matam e nenhum verso romântico
há de prosperar
a revolução não vai ser televisionada:
ela viverá quando a legião urbana
tomar as ruas das cidades
quase sem querer
e seremos libertos a ponto de vivermos nossos amores
muito além do livro dos nossos dias
a legião urbana vai carregar as multidões para muito além do futebol e do carnaval
e os jovens serão tudo: canto, beleza e futuro
@pauloandel
o milk shake, o menininho e a sociedade
Tomávamos milk shake de Ovomaltine por volta das seis e meia da tarde no Bob’s da praça Saens Peña, sentados no banco com estofado vermelho e confortável, quando surgiu um menininho de seus dez anos ou menos.
Baixinho, magro, cabelos pretos, olhar meio triste de quem deveria estar brincando ou descansando em casa àquela hora, num lugar confortável que toda criança merece.
Vendia drops Hall’s.
Perguntei o preço. Dois reais cada. Falei que estava caro.
Comprei cinco.
“Caramba, moço, você me ajudou muito.”
“Valeu, garoto. Um abraço.”
Ele sorriu. Estava feliz. Os dez reais que conseguiu podem ter significado a janta. A diferença entre a fome e a saciedade.
O menino nem tinha ideia dos problemas que passo, das minhas dívidas, de tudo. E foi muito melhor assim.
Ele pode ter se iludido com a impressão de que eu fosse um rico de pequena generosidade e isso basta.
Melhor do que ler barbaridades defendidas por alguns ricos, como aquela de pena de morte para o garoto amarrado no poste – ontem, os justiceiros foram presos no Flamengo: eram traficantes armados de classe média alta.
Terminamos o milk shake no caminho, apressados para o compromisso pessoal.
Um menino brasileiro, sofrido, trabalhador, vibrando porque conseguiu vender dez reais em balas.
Um retrato espalhado pelo Brasil inteiro, esse mesmo que ainda tem mazelas demais e as lutas para distribuir renda. Dizem ser o Bolsa Família um programa de vagabundos, mas cerca de 70% de seus beneficiados trabalham – apenas não conseguem ter a renda mínima para sobrevivência.
Enquanto isso, o Brasil restitui aos contribuintes cerca de R$ 14 bilhões neste 2014. Não tive notícias de que qualquer restituído tivesse sido acusado de vagabundagem.
Eu continuo pensando na pequena grande alegria que dei ao menino ajudando-o.
Queria ter mil ou dois mil reais sobrando para lhe dar.
Não tenho. Sou pobre.
Eu já fui um menino que contava moedas, mas para comprar botões para brincar.
Sempre serei grato a meus pais que, mesmo sob dificuldades, fizeram tudo para que eu chegasse até aqui.
Choro.
@pauloandel
Saturday, October 25, 2014
enquanto
desperdiçar a cor, o dia
a tarde calma
mentir, agredir, vociferar
a ignorância vã
e tudo perde o sentido
quando é preciso dizer adeus
a morte sorri
e as lágrimas são preces
enquanto brigam, humilham
assediam
a dor do amor numa lápide
faz escorrer qualquer lógica
enquanto as pessoas permanecem
ocupadas em grandes projetos
negócios importantes, fama
imponência
o mundo implode frente a um menininho
mendigo
a dor, a fome, a incompreensão
e a sofisticação cai de joelhos
diante do nunca mais
rancorosos, estúpidos
deslumbrados
até o dia em que nos vemos de verdade:
o nada sobre o nada
mas nem isso faz desaparecer
a soberba que virá
nas novas poses e posses
na ostentação cafona:
qual o sentido do mundo
diante de alguém que segura a mão
de seu amor
depois da morte?
@pauloandel
a tarde calma
mentir, agredir, vociferar
a ignorância vã
e tudo perde o sentido
quando é preciso dizer adeus
a morte sorri
e as lágrimas são preces
enquanto brigam, humilham
assediam
a dor do amor numa lápide
faz escorrer qualquer lógica
enquanto as pessoas permanecem
ocupadas em grandes projetos
negócios importantes, fama
imponência
o mundo implode frente a um menininho
mendigo
a dor, a fome, a incompreensão
e a sofisticação cai de joelhos
diante do nunca mais
rancorosos, estúpidos
deslumbrados
até o dia em que nos vemos de verdade:
o nada sobre o nada
mas nem isso faz desaparecer
a soberba que virá
nas novas poses e posses
na ostentação cafona:
qual o sentido do mundo
diante de alguém que segura a mão
de seu amor
depois da morte?
@pauloandel
Friday, October 24, 2014
O golpismo de Veja e Globo x Brizola
Hoje, parte do Brasil acordou com a sensação imaginária do cheiro do sangue podre de cadáveres mutilados, decompostos, abandonados.
O sangue podre que se tornou o último resquício de vidas ceifadas criminosa e brutalmente pelos que entendiam ser os donos do Estado brasileiro.
A carne podre de corpos amontoados e destroçados, muitos deles no sanatório de Barbacena, espécie de Auschwitz mineira. Para lá, milhares e milhares de brasileiros foram enviados rumo à morte pelos motivos mais bárbaros e irracionais, especialmente a partir de 1964.
O sangue podre do golpismo ditatorial, intolerante com qualquer insucesso seu nas urnas. Sem vitória pela democracia, que o golpe prevaleça. Os fins justificam os meios torpes.
Numa atitude já esperada – mas não menos abominável por isso -, as corporações Globo e Veja tentam sustentar não apenas uma denúncia de corrupção, mas uma sórdida interferência no processo eleitoral brasileiro, tentando confundir os eleitores para que os dados das atuais pesquisas de opinião não se confirmem na votação do próximo domingo.
Pior: a criminosa defesa do impeachment da presidenta Dilma com base em acusações não comprovadas e que, também de forma criminosa, tem sido vazadas de forma leviana e irresponsável.
Engana-se quem pensa que as próximas horas serão apenas um debate entre esquerda e direita, com toda a elasticidade desses conceitos.
Trata-se de uma luta da legalidade contra o golpismo.
E dos interesses do país contra vantagens pessoais de saudosistas das capitanias hereditárias, ressaltando-se que este mesmo país tem mais de 200 milhões de habitantes, não se limitando a regiões locais como o Itaim Bibi, a Savassi ou o Baixo Leblon, menos ainda o famigerado Village Mall.
Ou de dilapidar os bilhões contidos no desenvolvimento da Petrobras, nos financiamentos habitacionais e estudantis da Caixa e do Banco do Brasil, nos mesmos moldes já denunciados amplamente por Amaury Ribeiro Jr., detentor de quatro prêmios Esso de jornalismo, em seu definitivo livro “A Privataria Tucana”.
Outra mentira contumaz é vender falsamente um novo cenário econômico num país que tem crescido, passado ao lardo de uma grande crise mundial, tendo gerado milhões de empregos na última década. A grande diferença de condução política entre PT e PSDB está em dois pilares essenciais: a prioridade do capital trabalhista sobre o especulativo e as politicas de emprego mais inclusão social, que definiram a mudança do perfil do Brasil em boa parte deste século XXI.
O que o consórcio Veja/Globo tentou impor hoje a milhões de brasileiros foi a sugestão da necessidade de um golpe, única forma de reconquistarem o poder e os financiamentos de outrora, quando foram lenientes com atrocidades praticadas pelo Estado brasileiro durante a ditadura cívico-militar 1964-1985.
Ou ainda na ascensão e queda de Fernando Collor, um período ainda sob sombras na história do Brasil.
Ou a anuência com a inacreditável aprovação da reeleição com o próprio presidente à época se beneficiando diretamente da mesma, sem precendentes no mundo democrático.
Hoje à noite, a Rede Globo tentará fazer a sua parte, a de sempre.
Um gênero, um time, uma elite.
Um gênero, um time, uma elite.
Não é mais uma disputa para os próximos quatro anos. Não há mais como editar debates.
Na verdade, trata-se de uma luta para impedir que 2015 retorne a 1964.
A luta para que o cheiro imaginário de sangue podre não se torne uma verdade ditatorial.
Desde sempre, Veja e Globo são inimigos do país, da democracia e da justiça social.
Desde sempre, Veja e Globo são inimigos do país, da democracia e da justiça social.
@pauloandel
Em memória de Leonel Brizola
Tuesday, October 21, 2014
as duas maiores bobagens das eleições 2014
Os dois momentos mais ridículos de todo o processo eleitoral 2014 aconteceram nas últimas 72 horas.
Primeiro, Energúmeno Constantino e sua obsessão mussolínica que beira à paixão mal resolvida, defendendo boicote a artistas que votam no PT. Típico de um sujeito sem noção de tempo e espaço, imaginando que sua borra jornalística possa ser capaz de encobrir o trabalho de pessoas como Chico Buarque, Zeca Baleiro, Dona Ivone Lara, José de Abreu e outros.
Seria algo tão idiota quanto boicotar o trabalho de Fagner por votar no PSDB.
Um pretensionismo infantilizado e desprovido de racionalidade, que só poderia ser publicado na ex-revista que lhe acolhe.
A imposição cultural é típica de regimes ditatoriais; portanto, não cabe no Brasil de hoje.
Segundo, o chilique que eleitores de Aécio estão dando com os resultados das pesquisas divulgadas ontem.
"O PT comprou o Datafolha"...
Quando os resultados lhes eram favoráveis, riam e comemoravam. Agora, dão ataques de histeria.
Antes, a pesquisa era comprada?
Por motivos óbvios, o grupo Folha tem simpatia declarada pela eleição do 45; há um claro conflito de interesses no mercado de pesquisas de opinião no Brasil (e, infelizmente, muito mais). "O PT comprou o Datafolha"... Marina Silva tinha comprado também no primeiro turno? Diria meu grande amigo: "É muita vontade de acreditar..."
Poderia falar aqui muitas coisas sobre um assunto que estudo há 26 anos, mas prefiro ser breve: pesquisa de intenção de voto não é ciência exata. Ponto.
Primeiro, Energúmeno Constantino e sua obsessão mussolínica que beira à paixão mal resolvida, defendendo boicote a artistas que votam no PT. Típico de um sujeito sem noção de tempo e espaço, imaginando que sua borra jornalística possa ser capaz de encobrir o trabalho de pessoas como Chico Buarque, Zeca Baleiro, Dona Ivone Lara, José de Abreu e outros.
Seria algo tão idiota quanto boicotar o trabalho de Fagner por votar no PSDB.
Um pretensionismo infantilizado e desprovido de racionalidade, que só poderia ser publicado na ex-revista que lhe acolhe.
A imposição cultural é típica de regimes ditatoriais; portanto, não cabe no Brasil de hoje.
Segundo, o chilique que eleitores de Aécio estão dando com os resultados das pesquisas divulgadas ontem.
"O PT comprou o Datafolha"...
Quando os resultados lhes eram favoráveis, riam e comemoravam. Agora, dão ataques de histeria.
Antes, a pesquisa era comprada?
Por motivos óbvios, o grupo Folha tem simpatia declarada pela eleição do 45; há um claro conflito de interesses no mercado de pesquisas de opinião no Brasil (e, infelizmente, muito mais). "O PT comprou o Datafolha"... Marina Silva tinha comprado também no primeiro turno? Diria meu grande amigo: "É muita vontade de acreditar..."
Poderia falar aqui muitas coisas sobre um assunto que estudo há 26 anos, mas prefiro ser breve: pesquisa de intenção de voto não é ciência exata. Ponto.
Sunday, October 19, 2014
aleluia
aleluia
uma criança dorme em seu berço esplêndido
depois de farta refeição
sem culpa pelas outras crianças
que sofrem, sofrem
debaixo das marquises
numa noite de chuva
aleluia, aleluia
irmãos distantes finalmente se abraçam
amores impossíveis contam esparsas possibilidades
de serem verdade
a doce e improvável verdade
as câmeras gravam tudo:
banalidades, acontecimentos
escândalos, excentricidades
aleluia
os jovens solitários choram seus mortos num dia de finados
e lápides floridas
as canções tristes são licores
pessoas querem ter posses
e o centro da cidade vive seus míseros arrastões
gente assustada nos restaurantes
nas agências bancárias
e homens importantes quase pisam nas pernas em carne viva
de um mendigo ferido
na antiga avenida central
aleluia
aleluia
agora chora-se o passado
os amigos desaparecidos
as bandeiras e bumbos recolhidos
os bálsamos de samba e bossa - para que chorar? o futuro é o fim
nossas pequenas chamas queimando sem sentido
até a hora em que o vento ligeiro
as cala
queimando, queimando
enquanto a noite nublada de copacabana abraça seus carros de sexo
os miseráveis e as drogas destruidoras
- o futuro é o fim! nossa arrogância é ridícula!
- ansiamos pela nossa importância ridícula!
aleluia, aleluia
as procissões de estranhos ao fim da tarde com seus trens lotados
trabalhadores sofridos
gente por demais cansada
o subúrbio é uma namorada
linda, distante, à ribalta
e os corações perdidos nunca vão se encontrar
mas ainda temos lágrimas de esperança - por elas, navegamos o romance de uma pátria rediviva
com justiça, amizade e solidariedade
lágrimas nas janelas fechadas
nas ruas de cheiro triste
desprezadas diante das calçadas de praia que oferecem
o mar de azul, o infinito, a melancolia
e tudo se resume num mundo
que jamais compreenderemos
oh, aleluia
aleluia
aleluia
@pauloandel
uma criança dorme em seu berço esplêndido
depois de farta refeição
sem culpa pelas outras crianças
que sofrem, sofrem
debaixo das marquises
numa noite de chuva
aleluia, aleluia
irmãos distantes finalmente se abraçam
amores impossíveis contam esparsas possibilidades
de serem verdade
a doce e improvável verdade
as câmeras gravam tudo:
banalidades, acontecimentos
escândalos, excentricidades
aleluia
os jovens solitários choram seus mortos num dia de finados
e lápides floridas
as canções tristes são licores
pessoas querem ter posses
e o centro da cidade vive seus míseros arrastões
gente assustada nos restaurantes
nas agências bancárias
e homens importantes quase pisam nas pernas em carne viva
de um mendigo ferido
na antiga avenida central
aleluia
aleluia
agora chora-se o passado
os amigos desaparecidos
as bandeiras e bumbos recolhidos
os bálsamos de samba e bossa - para que chorar? o futuro é o fim
nossas pequenas chamas queimando sem sentido
até a hora em que o vento ligeiro
as cala
queimando, queimando
enquanto a noite nublada de copacabana abraça seus carros de sexo
os miseráveis e as drogas destruidoras
- o futuro é o fim! nossa arrogância é ridícula!
- ansiamos pela nossa importância ridícula!
aleluia, aleluia
as procissões de estranhos ao fim da tarde com seus trens lotados
trabalhadores sofridos
gente por demais cansada
o subúrbio é uma namorada
linda, distante, à ribalta
e os corações perdidos nunca vão se encontrar
mas ainda temos lágrimas de esperança - por elas, navegamos o romance de uma pátria rediviva
com justiça, amizade e solidariedade
lágrimas nas janelas fechadas
nas ruas de cheiro triste
desprezadas diante das calçadas de praia que oferecem
o mar de azul, o infinito, a melancolia
e tudo se resume num mundo
que jamais compreenderemos
oh, aleluia
aleluia
aleluia
@pauloandel
Friday, October 17, 2014
veias de asfalto
o cheiro das canções da rua triste
numa cidade maravilhosa
nem as mais belas águas aliviam
a dor cravejada entre as pedras portuguesas da calçada
oh, somos importantes demais!
formiguinhas diante das grandes corporações de aço, pedra,
frieza e o grande capital
as pessoas sofrendo nas macas
ou sob marquises, tanto faz
os senhores da verdade não se importam
com seus narizes empinados
o tom professoral e um indisfarçável
pedantismo oco, sujo, fétido
ao menos há humildes transeuntes
carregando amendoins, churrasquinhos, cachorro quente
numa estação central
ou rindo e conversando futebol
uma cerveja refrescante
ainda que quase ninguém ligue quando um mendigo
dança o ballet da morte
as crianças entorpecidas
sorvendo a droga da morte
em frente a um prédio milionário
ah, dor, tristeza!
o desamor é o sangue a correr nas veias de asfalto e terra
enquanto esperamos o jogo, o domingo
a próxima novela
a grande manchete manipulada
- a biblioteca está cheia de silêncio!
- por que perder tempo com bobagens?
a cidade e suas canções tristes, sexo barato e paixões condenadas à prisão perpétua:
somos imortais de merda!
não temos coragem de encarar o ridículo que nos traz existência
enquanto um idiota vai se vangloriar de posses porque nada tem a dizer.
a cidade e seu vazio:
partida, incompreensiva
e sedenta por migalhinhas
a cidade de finos traços e o cheiro descomunal das reticências
@pauloandel
numa cidade maravilhosa
nem as mais belas águas aliviam
a dor cravejada entre as pedras portuguesas da calçada
oh, somos importantes demais!
formiguinhas diante das grandes corporações de aço, pedra,
frieza e o grande capital
as pessoas sofrendo nas macas
ou sob marquises, tanto faz
os senhores da verdade não se importam
com seus narizes empinados
o tom professoral e um indisfarçável
pedantismo oco, sujo, fétido
ao menos há humildes transeuntes
carregando amendoins, churrasquinhos, cachorro quente
numa estação central
ou rindo e conversando futebol
uma cerveja refrescante
ainda que quase ninguém ligue quando um mendigo
dança o ballet da morte
as crianças entorpecidas
sorvendo a droga da morte
em frente a um prédio milionário
ah, dor, tristeza!
o desamor é o sangue a correr nas veias de asfalto e terra
enquanto esperamos o jogo, o domingo
a próxima novela
a grande manchete manipulada
- a biblioteca está cheia de silêncio!
- por que perder tempo com bobagens?
a cidade e suas canções tristes, sexo barato e paixões condenadas à prisão perpétua:
somos imortais de merda!
não temos coragem de encarar o ridículo que nos traz existência
enquanto um idiota vai se vangloriar de posses porque nada tem a dizer.
a cidade e seu vazio:
partida, incompreensiva
e sedenta por migalhinhas
a cidade de finos traços e o cheiro descomunal das reticências
@pauloandel
Saturday, October 11, 2014
copacabana city blues
esta cidade cheia de esquinas
e meninas cheias de sonhos
em vão
tal como a vida que todos rejeitamos
os libertários e os reacionários dividem céu e areia, mar também
nas manhãs de domingo
e os meninos perdidos sem rumo em trilhas de crack
as senhorinhas infalíveis na igreja
enquanto outras sob o crivo do pastor
e lindas putas tristes veem novela numa barraquinha da praça do lido
a juventude não vai mais voltar
o que perdemos não retornará
mas ainda há vida, seja em risos ou o pranto da sensatez
nossas pequenas sacolas de compras faz-se admirável decadência
orgias no inferninho, na barra pesada, em prédios respeitados
e endereços conhecidos -
as irmãs nordestinas da l'uomo foram embora
os queridos bebuns do bar sniff deram o fora
a mendiga lina não lê mais o new york times em voz alta na tenreiro aranha
onde mora renatinha?
e a casa de buja, onde fica?
a turma da ladeira agora vê pay per view
os meninos do copaville moram longe, longe
sem qualquer estação
senhoras de classe e seus waffles no cirandinha
quem descobriu o segredo sagrado de mister éter?
nenhuma aída curi?
uma jovem empregada doméstica deixou seu filho, desesperada
sob os cuidados da rica médica no igrejinha
e somos tão moralistas
moralistas demais: votamos nas marchas de deus, nos choques de ordem e tudo voa solto
feito a fumaça libertadora de maconha
perto da trave do juventus na madrugada
os travestis fazem a vida, vivem, morrem, trazem risos e fazem gozar
enquanto generais de pijama ainda resistem e sobrevivem
os bares morrem no começo da noite e o baile funk faz a trilha da menina lourinha
que beija o peito de um traficante
a billboard morreu
a modern sound morreu
a suprema desapareceu
ninguém namora mais no rian ou no cinema 2
e tudo isso é lenda diante de cinco minutos de ar puro num banco do bairro peixoto:
o sol, as crianças, a primavera
copacabana e um solo de blues
há solidão, fracasso, morte mas punhados inesquecíveis de la dolce vita com alguns trocados
e o charme de um mundo secreto
que outra terra não tem:
a nossa deliciosa desordem tropical
@pauloandel
e meninas cheias de sonhos
em vão
tal como a vida que todos rejeitamos
os libertários e os reacionários dividem céu e areia, mar também
nas manhãs de domingo
e os meninos perdidos sem rumo em trilhas de crack
as senhorinhas infalíveis na igreja
enquanto outras sob o crivo do pastor
e lindas putas tristes veem novela numa barraquinha da praça do lido
a juventude não vai mais voltar
o que perdemos não retornará
mas ainda há vida, seja em risos ou o pranto da sensatez
nossas pequenas sacolas de compras faz-se admirável decadência
orgias no inferninho, na barra pesada, em prédios respeitados
e endereços conhecidos -
as irmãs nordestinas da l'uomo foram embora
os queridos bebuns do bar sniff deram o fora
a mendiga lina não lê mais o new york times em voz alta na tenreiro aranha
onde mora renatinha?
e a casa de buja, onde fica?
a turma da ladeira agora vê pay per view
os meninos do copaville moram longe, longe
sem qualquer estação
senhoras de classe e seus waffles no cirandinha
quem descobriu o segredo sagrado de mister éter?
nenhuma aída curi?
uma jovem empregada doméstica deixou seu filho, desesperada
sob os cuidados da rica médica no igrejinha
e somos tão moralistas
moralistas demais: votamos nas marchas de deus, nos choques de ordem e tudo voa solto
feito a fumaça libertadora de maconha
perto da trave do juventus na madrugada
os travestis fazem a vida, vivem, morrem, trazem risos e fazem gozar
enquanto generais de pijama ainda resistem e sobrevivem
os bares morrem no começo da noite e o baile funk faz a trilha da menina lourinha
que beija o peito de um traficante
a billboard morreu
a modern sound morreu
a suprema desapareceu
ninguém namora mais no rian ou no cinema 2
e tudo isso é lenda diante de cinco minutos de ar puro num banco do bairro peixoto:
o sol, as crianças, a primavera
copacabana e um solo de blues
há solidão, fracasso, morte mas punhados inesquecíveis de la dolce vita com alguns trocados
e o charme de um mundo secreto
que outra terra não tem:
a nossa deliciosa desordem tropical
@pauloandel
Friday, October 10, 2014
Eleições 2014: números mágicos
73
Números mágicos –
10/10/2014
Terminado o primeiro turno das
eleições presidenciais, com 100% das urnas apuradas, Dilma Rousseff teve 41,59%
dos votos válidos, exatos 43.267.668 e Aécio Neves teve 33,55% dos votos
válidos, com também exatos 34.897.211. A terceira posição coube a Marina Silva,
com 21,32% dos votos válidos e número absoluto de 22.176.619.
Somados os três, 96,46% dos
votos e 100.341.498 em números absolutos.
Os demais candidatos na
disputa somaram os 3,54% complementares, num total de 3.682.304.
Natural a migração de votos no
segundo turno, onde há polaridade.
Natural também que o candidato
Aécio herde parte considerável dos votos de Marina Silva.
O mesmo não se esperaria no resíduo
de 3,54%, onde estão alguns candidatos de extrema esquerda, cujos eleitores tem
um perfil de voto mais rígido e, talvez, até intransferível.
É surpreendente o salto de
Aécio em menos de 72 horas após o primeiro pleito, a julgar serem corretos os
levantamentos dos institutos Ibope e Datafolha, que vem tropeçando em excesso
ultimamente.
Com mais de 13 pontos
percentuais, a virada em cima da candidata Dilma faz de Aécio um fenômeno
eleitoral como raras vezes visto na história da República, ainda mais em se
tratando da era com dois turnos.
Uma verdadeira máquina de
transferência de votos, mais de dez milhões deles num estalar de dedos, sem
nenhuma calculadora, tudo muito simples.
A propaganda eleitoral volta à
TV.
Em breve, os debates. Aí sim será
possível ter ideia do real encaminhamento do jogo eleitoral.
Por enquanto, a magia dos
números sugere o cenário do melhor realismo fantástico.
@pauloandel
Thursday, October 09, 2014
Monday, October 06, 2014
um bocado de amor e outras guerras
Livro da excelente poetisa Andressa Furtado.
Informações pelo e-mail andressa.furtado@gmail.com ou ainda em http://umaestranhanolivro.blogspot.com.br/
Informações pelo e-mail andressa.furtado@gmail.com ou ainda em http://umaestranhanolivro.blogspot.com.br/
Friday, October 03, 2014
macalé & andel - só morto - burning night
jards
Nessa manhã de louco
O olho do morto
Reflete o fogo
Nessa manhã de louco
Todo mistério é pouco
Pedras rolam pro mar
Nessa manhã de louco
Todo mistério é pouco
Nessa manhã de louco
Todo mistério é pouco
Espuma de sangue a brilhar
Nessa manhã de louco
Todo mistério é pouco
Esse sol tão forte
É um sol de morte
Esse sol tão forte
De mil mortes
Esse sol
Há quanto tempo
Eu não via
Um dia...
Um dia...
Tão bonito, tão...
Tão maldito, tão...
Um dia... Um dia...
Oh, see the city lights
I never seen you so brigh
Let this burning
Let this burning
Burning night
xxxx
paulo
a noite e o negrume, o silêncio e a sexta
poemas de sangue ao lua
uma beleza morta, a última dança morta
um beijo via smartphone
e os pensamentos se estupram
com inimaginável doçura
onde moram meus amores mortos?
virá um sábado, um novo dia
as crianças vão brincar sozinhas
e nem a noite triste há de voltar nvamente
e nem a vida triste vai negar um novamente
poemas exangues vão germinar
todos falando num mesmo desejo
que range, dança, brilha
mora ao longe e cativa
já que a distância não faz o lugar
acordamos e subitamente choramos:
distância é drama, dor e ausência
http://youtu.be/vrLiI9wv5oE
@pauloandel
Nessa manhã de louco
O olho do morto
Reflete o fogo
Nessa manhã de louco
Todo mistério é pouco
Pedras rolam pro mar
Nessa manhã de louco
Todo mistério é pouco
Nessa manhã de louco
Todo mistério é pouco
Espuma de sangue a brilhar
Nessa manhã de louco
Todo mistério é pouco
Esse sol tão forte
É um sol de morte
Esse sol tão forte
De mil mortes
Esse sol
Há quanto tempo
Eu não via
Um dia...
Um dia...
Tão bonito, tão...
Tão maldito, tão...
Um dia... Um dia...
Oh, see the city lights
I never seen you so brigh
Let this burning
Let this burning
Burning night
xxxx
paulo
a noite e o negrume, o silêncio e a sexta
poemas de sangue ao lua
uma beleza morta, a última dança morta
um beijo via smartphone
e os pensamentos se estupram
com inimaginável doçura
onde moram meus amores mortos?
virá um sábado, um novo dia
as crianças vão brincar sozinhas
e nem a noite triste há de voltar nvamente
e nem a vida triste vai negar um novamente
poemas exangues vão germinar
todos falando num mesmo desejo
que range, dança, brilha
mora ao longe e cativa
já que a distância não faz o lugar
acordamos e subitamente choramos:
distância é drama, dor e ausência
http://youtu.be/vrLiI9wv5oE
@pauloandel
Tuesday, September 30, 2014
corporativo s.a.
em qualquer horário de almoço num restaurante perto de uma grande corporação econômica, numa grande cidade, uma metrópole, você pode enxergar o mesmo do mesmo. as pessoas com trajes sempre parecidos, falando dos mesmos assuntos, os pratos cuidadosos para não se engordar ou desenvolver câncer ou alguma doença letal. todos com os olhos cravados diante das telas, seja a da televisão com os gols e façanha do maior time da ficção esportiva, sejam as dos smartphones cheios de ois, olás, teadoros e táfazendoquês. os crachás são todos iguais. olhares tensos, de cobiça, desejos. ou conversas masculinas ansiosas pela próxima micareta, pequenas orgias que serão grandes troféus dos campeonatos de nada. uma jovem loura, bonita e delicada destoa de quase tudo, exceto o maldito crachá que não dá carta de alforria. eu, estrangeiro de mim mesmo, olho tudo em volta, sinto-me perdido demais nessa cidade linda e neurótica. alguém deveria ter me mandando uma linda mensagem eletrônica mas prefiro não olhar à mesa porque gostaria de ler outras coisas, ter outras palavras, viver outros pequenos momentos interessantes. o prato chega ao fim. a fila é cheia de pessoas parecidas pelas roupas, tons, perfis. eu queria falar de criatividade, mas tudo é uma inutilidade que beira o enorme. a moça da caixa agradece a preferência. lentamente, os adultos contemporâneos iniciam o caminho que os levará às baias, ao networking e o admirável mundo eletrônico - frio e rude, demais.
@pauloandel
Friday, September 26, 2014
cruz vermelha
desconcertante o silêncio da fila de mendigos
pontualmente formada
à espera da comida em caixas de leite
ao fim da tarde
enquanto jovens bem empregados, bem criados em famílias de sucesso
sugerem indiferença sem sinceridade:
percebem o que acontece, há os que se comovem mas é melhor
fingir não ver
também desconcertante é ver os três negrinhos descalços expulsos da porta traseira do ônibus
pelo motorista nervoso
na outra esquina transeuntes comem churrasquinhos
cantam sambas, espiam mulheres bonitas
e a sexta feira nasce em forma de alívio
num apartamento humilde e bagunçado, um obscuro poeta redige versos de amor que não serão publicados
e observa tudo da janela de sua sala
ainda que ela esteja fechada:
é preciso ver com alma!
@pauloandel
pontualmente formada
à espera da comida em caixas de leite
ao fim da tarde
enquanto jovens bem empregados, bem criados em famílias de sucesso
sugerem indiferença sem sinceridade:
percebem o que acontece, há os que se comovem mas é melhor
fingir não ver
também desconcertante é ver os três negrinhos descalços expulsos da porta traseira do ônibus
pelo motorista nervoso
na outra esquina transeuntes comem churrasquinhos
cantam sambas, espiam mulheres bonitas
e a sexta feira nasce em forma de alívio
num apartamento humilde e bagunçado, um obscuro poeta redige versos de amor que não serão publicados
e observa tudo da janela de sua sala
ainda que ela esteja fechada:
é preciso ver com alma!
@pauloandel
Thursday, September 25, 2014
américa 1
não quero ser o primeiro lugar em nada - abomino as medalhas e cartilhas de honra ao mérito
não me interessam o salário mais alto
o topo do mundo
o topo do poder
status, fama, relevância
o meu apogeu está descrito nas mais profundas desimportâncias
quero ser noves fora, nada
nenhum troco a mais
nem de longe um contracheque robusto
a minha vida está em pequenas praças e conversas mendigas de amor
fúteis jogos de futebol
e a poesia paupérrima
a vida em discos de música, livros humildes, letras faiscantes
e sentimentos de sexo solene
vistos a olhos claros:
salve oxumaré nagô, todos os tambores e caixas de folia, atabaques, flautas doces
os cânticos ateus
a nova bossa nova e a velha política velha, os bons e maus com dinheiros e miséria
as mulatas alucinantes do samba
a linda bailarina branquinha
meus boêmios de bar, onde morrem?
quero ser paz na cidade - estou condenado a um fracasso retumbante
e isso nem de longe quer deixar
de ser felicidade
eu não quero nenhum primeiro lugar
que não seja o do amor em mim
mesmo
@pauloandel
não me interessam o salário mais alto
o topo do mundo
o topo do poder
status, fama, relevância
o meu apogeu está descrito nas mais profundas desimportâncias
quero ser noves fora, nada
nenhum troco a mais
nem de longe um contracheque robusto
a minha vida está em pequenas praças e conversas mendigas de amor
fúteis jogos de futebol
e a poesia paupérrima
a vida em discos de música, livros humildes, letras faiscantes
e sentimentos de sexo solene
vistos a olhos claros:
salve oxumaré nagô, todos os tambores e caixas de folia, atabaques, flautas doces
os cânticos ateus
a nova bossa nova e a velha política velha, os bons e maus com dinheiros e miséria
as mulatas alucinantes do samba
a linda bailarina branquinha
meus boêmios de bar, onde morrem?
quero ser paz na cidade - estou condenado a um fracasso retumbante
e isso nem de longe quer deixar
de ser felicidade
eu não quero nenhum primeiro lugar
que não seja o do amor em mim
mesmo
@pauloandel
Friday, September 12, 2014
Thursday, September 11, 2014
ácida lua
eu e meu pequeno mundo
debaixo dos meus chinelões
carregando um corpo cansado
e suas dores, tristezas, uma fé
as procissões
são o longe, o perdido
meu pecado: um beijo de amor
debaixo da ácida lua cheia, livre
eu penso no que perdi
e o que não se materializará
- o trabalho seja nosso ópio
- o calor seja firme esperança
eu e meu pequeno mundo
canções de amor em vão
poemas fracassados e incompreendidos
enquanto a noite crua mora
longe do sol:
amanhã será primavera!
@pauloandel
debaixo dos meus chinelões
carregando um corpo cansado
e suas dores, tristezas, uma fé
as procissões
são o longe, o perdido
meu pecado: um beijo de amor
debaixo da ácida lua cheia, livre
eu penso no que perdi
e o que não se materializará
- o trabalho seja nosso ópio
- o calor seja firme esperança
eu e meu pequeno mundo
canções de amor em vão
poemas fracassados e incompreendidos
enquanto a noite crua mora
longe do sol:
amanhã será primavera!
@pauloandel
Tuesday, September 09, 2014
Friday, September 05, 2014
Thursday, September 04, 2014
os dorsos
todos os corações do mundo
e nenhum me atiça
feito o teu
os sonhos, gostos
os dorsos nus
as peles à prova
nada é tão convidativo
como o teu eu
a noite longa e fria
com seus pecados inomináveis
a vida em ritos, práticas
e o pouco do mundo é meu desejo:
ser tão seu, seu
mil vezes meu sabor no teu seu
tão seu
@pauloandel
e nenhum me atiça
feito o teu
os sonhos, gostos
os dorsos nus
as peles à prova
nada é tão convidativo
como o teu eu
a noite longa e fria
com seus pecados inomináveis
a vida em ritos, práticas
e o pouco do mundo é meu desejo:
ser tão seu, seu
mil vezes meu sabor no teu seu
tão seu
@pauloandel
doçura sexo
1
o beijo de fazer
crescer
suar
intumescer
o beijo
crescer
suar
intumescer
o beijo
de despertar
e provocar
beijo de chupar
enternecer
e provocar
beijo de chupar
enternecer
o beijo
é a recíproca do desejo
onde
é a recíproca do desejo
onde
o desejo
está
2
ACORDOU assustado às três da
manhã, num misto de delícia e decepção. O coração disparatado e o pau duro. Sonhara
com a mulher que sempre havia desejado, mas jamais possuíra em nada. Ali, no
inexplicável e sedutor mundo dos sonhos, tinha mergulhado na ilusão de que
fizera o merecido sexo ansiado com sua promessa erótica. Nos segundos seguintes
do despertar súbito, olhava para as formas e objetos no escuro do quarto, a luz
da televisão, o silêncio de rejeição e ainda via num cadafalso da memória
entorpecida pelo cansaço aquela bela mulher em cenas de tesão e foda – e a
fudia, fudia, mas em segundos o êxtase virou a má realidade. Era só uma excitação,
um sonho, uma vontade. A bela mulher que lhe atiça os instintos mais profundos
não estava a seu lado, nem abaixo, nem de quatro ou relaxada depois de uma
chupada profunda. Eram só a coberta esverdeada, o lençol laranja novo e aquilo
que não se explica, nem precisa ser exercício de beleza ou perfeição: tesão.
Ainda bêbado de sono, foi ao banheiro, viu-se no espelho, lamentou a solidão,
pensou na desejada e, sem mais delongas, começou a se masturbar; pensou em seus
seios pequenos de bicos saltados, seu corpo delicado, morder a nuca, beijar por
dentro da calcinha. Não que fosse novidade, pelo contrário: já o fizera
centenas de vezes sempre buscando o mesmo alvo. No entanto, diante da
madrugada, constituiu-se numa brincadeira diferente – no prazer solitário,
viu-se apaixonado por uma personagem que insiste em não se realizar. De toda
forma, gozou como sempre e ainda espera. São outros os amores, são outras as
fodas, o verdadeiro amor irrompe à madrugada.
3
duas cabeças deitadas perto lado a lado
e os pensamentos que decolam em ventos de sudoeste
você do lado de alguém que não é teu alguém
você do lado de alguém que quer alguém
duas cabeças coladas no escuro do cinema
alguém pensa no beijo longe de outro alguém
o outro gosto, o outro pêlo, a outra carne
e os pensamentos que decolam em ventos de sudoeste
você do lado de alguém que não é teu alguém
você do lado de alguém que quer alguém
duas cabeças coladas no escuro do cinema
alguém pensa no beijo longe de outro alguém
o outro gosto, o outro pêlo, a outra carne
duas cabeças de pensamentos que voam rasantes
nunca foram tão pecadoras
quem puder, as perdoe: densas, sedentas, despudoradas}
elas só pedem breves instantes de felicidade profana
nunca foram tão pecadoras
quem puder, as perdoe: densas, sedentas, despudoradas}
elas só pedem breves instantes de felicidade profana
4
queria ser tua
mas não tive o dom da coragem
ainda penso
não sei se quero
embora devesse te experimentar
ser tua, tua, completamente tua
até que inundes meu ventre à custa de beijos
e dedos e passes
penso em ser tua
quando sou solitária e o melhor de ti se faria
dentro de mim
queria teus defeitos, tua velhice
mas não sei se posso enfrentar
o mundo que me condena – aqui
apenas me entorpeço de penetra
penetra
penetra
mas não tive o dom da coragem
ainda penso
não sei se quero
embora devesse te experimentar
ser tua, tua, completamente tua
até que inundes meu ventre à custa de beijos
e dedos e passes
penso em ser tua
quando sou solitária e o melhor de ti se faria
dentro de mim
queria teus defeitos, tua velhice
mas não sei se posso enfrentar
o mundo que me condena – aqui
apenas me entorpeço de penetra
penetra
penetra
@pauloandel
Tuesday, September 02, 2014
O voto de Jorge Furtado
Cineasta explica os motivos que o fizeram apoiar a reeleição de Dilma Rousseff
Se alguém me dissesse, em 2004 – quando o primeiro governo Lula sofria a oposição feroz de toda a mídia brasileira e tinha pouco ou nada para mostrar de resultados – que em dez anos o segundo turno da eleição presidencial seria disputado entre duas ex-ministras do governo Lula, uma pelo Partido dos Trabalhadores e uma pelo Partido Socialista Brasileiro, eu diria ao meu suposto interlocutor que a sua fé na democracia era um comovente delírio. A provável ausência, pela primeira vez no segundo turno das eleições presidenciais, de candidatos da direita autêntica, do PSDB, do DEM e do PTB, é mais uma boa notícia que a democracia nos traz. Imagina-se que, vença quem vença, muitos dos derrotados voltarão correndo para os braços confortáveis do novo governo, esta é a má notícia.
Tenho familiares e bons amigos que vão votar na Marina e também no Aécio. Eu vou votar na Dilma. Acho que foi o Todorov quem disse (mais ou menos assim) que a democracia nos reúne para que a gente resolva qual é a melhor maneira de nos separar. Não sou nem nunca fui filiado a qualquer partido, já votei em vários, tenho amigos em alguns. Neste que é o maior período democrático da nossa história (25 anos, sete eleições consecutivas), o Brasil não parou de melhorar e não há nada que indique que vá parar de melhorar agora.
Votei no Lula, desde sempre até ajudar a elegê-lo em 2002, com o palpite de que um governo popular, o primeiro em 502 anos, talvez pudesse enfrentar com mais vigor o grande problema brasileiro: a desigualdade social. Achei que, talvez, substituindo a ideia de que o bolo deve primeiro crescer para depois ser divido pela ideia de incentivar o crescimento do país com melhor distribuição de farinha, ovos, manteiga, fogões, casas com luz elétrica, empregos e vagas nas escolas e nas universidades, finalmente poderíamos começar a nos livrar da nossa cruel e petrificada divisão entre a casa grande e a senzala. Meu palpite estava certo. A desigualdade brasileira continua grande e cruel mas está, finalmente, diminuindo.
Voto, ainda, primeiro contra a desigualdade social, ainda o maior problema do país, um dos mais injustos do planeta, em poucos lugares há uma diferença tão grande entre pobres e ricos. A elite brasileira (sim, ela existe, esta aí), fundada e perpetuada no escravismo, luta para manter seus privilégios a qualquer custo. Eles são donos dos bancos, das grandes construtoras, fábricas e empresas, das tevês, rádios, jornais e portais da internet e defendem ferozmente sua agradável posição. A única maneira de enfrentar seu enorme poder é no voto.
Voto contra o poder crescente do capital sobre as políticas públicas. Quem vive de rendas pensa sempre mais no centro da meta da inflação e menos nos níveis de emprego, mais na taxa dos juros e menos no poder aquisitivo dos salários. O poder do capital especulativo, rentista, é gigante, mora na casa dos bilhões de dólares. Voto contra, muito contra, a autonomia do Banco Central, que tira do governante, eleito pelo nosso voto, o poder de guiar o desenvolvimento segundo critérios sociais, protegendo o país do ataque de especuladores e garantindo renda e empregos, e entrega este poder ao tal mercado, hereditário e eleito por si mesmo, sempre predador e zeloso em garantir a sua parte antes de lamentar os danos sociais causados por seus lucros. (Ver Espanha, Grécia, EUA, Finlândia, etc.)
Voto contra submeter os critérios de uso dos nossos recursos naturais não renováveis, como o petróleo, ao interesse de grandes empresas estrangeiras. O petróleo brasileiro e seu destino é o grande assunto não mencionado nas campanhas eleitorais. Os ataques contra a Petrobras, que acontecem invariavelmente às vésperas de cada eleição, atendem interesses das grandes empresas petroleiras, especialmente as americanas, que querem a volta do velho e bom sistema de concessões na exploração dos campos de petróleo, sistema que, na opinião delas, deveria ser extensivo às reservas do pré-sal. Aqui o interesse chega na casa do trilhão. Garantir que o uso da riqueza proveniente da exploração de nossos recursos não-renováveis tenha critérios sociais, definidos por governantes eleitos, me parece uma ideia excelente da qual o país não deveria abrir mão.
Voto contra o poder crescente das religiões sobre a vida civil. Respeito inteiramente a fé e a religião de cada um, gosto de muitos aspectos de várias religiões, sei do importante trabalho social de várias igrejas, mas não aceito o uso de argumentos ou critérios religiosos na administração pública. Mesmo para os que professam alguma fé religiosa a divisão entre os poderes da terra e do céu deveria ser clara. Diz a Bíblia, em Eclesiástico, XV, 14: “Deus criou o homem e o entregou ao poder de sua própria decisão”. (Esta é a versão grega, a versão latina fala em “de sua própria inclinação” ou “ao seu próprio juízo”.) Erasmo faz uma boa síntese desta ideia: “Deus criou o livre-arbítrio”. Ele, se nos criou a sua imagem e semelhança e criou também as árvores, haveria de imaginar que, criadores como ele, criaríamos o serrote, e com ele cadeiras, mesas e casas, e ainda, Deus queira!, a ciência que nos permita usar com sabedoria os recursos naturais e viver bem, com saúde. O poder crescente das igrejas, com suas tevês e bancadas no congresso, deve ser contido por um estado laico.
Voto contra o preconceito contra os homossexuais. O estado não tem nada a ver com o desejo dos indivíduos. Ninguém (seriamente) está falando que o sacramento religioso do casamento, em qualquer igreja, deva ser definido por políticas públicas, mas os direitos e deveres sociais devem ser iguais para todos, ponto. Os preconceituosos e mistificadores, que vendem a cura gay ou bradam sua lucrativa intolerância contra os homossexuais, devem ser combatidos sem vacilação ou mensagens dúbias.
Voto contra a criminalização do aborto. A hipocrisia brasileira concede às filhas da elite o direito ao aborto assistido por bons médicos, em boas condições de higiene, e deixa para as filhas dos pobres os métodos cruéis e o risco de vida, milhares de meninas pobres morrem de abortos clandestinos todos os anos. A mulher deve ter direito ao seu corpo, independente de vontades do estado ou de dogmas religiosos.
Voto contra o obscurantismo que impede avanços científicos. Há quem se compadeça com os embriões que serão jogados no lixo das clínicas de fertilização e ignore o sofrimento de milhares de seres humanos, portadores de doenças graves como a distrofia muscular, a diabetes, a esclerose, o infarto, o Alzheimer, o mal de Parkinson e muitas outras, cuja esperança de cura ou melhor qualidade de vida está na pesquisa com as células tronco.
Voto contra palavras vazias. Nossa era da mídia transformou a oralidade num valor em si, esquecendo que há canalhas articulados e bem falantes e pessoas de bem e muito competentes que são de pouca conversa, ou até mesmo mudas. Tzvetan Todorov: “A democracia é constantemente ameaçada pela demagogia, o bem-falante pode obter a convicção (e o voto) da maioria, em detrimento de um conselheiro mais razoável, porém menos eloquente”. (1) Há quem diga de tudo e também o seu oposto, dependendo do público ouvinte a quem se pretende agradar, há quem decore frases feitas repetíveis em qualquer ocasião, há quem não fale coisa com coisa. Prefiro julgar os governantes e aspirantes a cargos públicos menos por suas palavras e mais por seus atos, seus compromissos e sua capacidade de trabalho em equipe, ninguém governa sozinho.
Voto contra os salvadores da pátria. Pelo menos em duas ocasiões o Brasil apostou em candidatos de si mesmos, filiados a partidos nanicos, sem base parlamentar, surfando numa repentina notoriedade inflada pela mídia e alimentada pelo discurso “contra a política”, prometendo varrer a corrupção e as “velhas raposas”. No primeiro caso, a aventura personalista de Jânio Quadros acabou num golpe militar e numa ditadura que durou 25 anos. No segundo, a aventura personalista de Fernando Collor, sem base parlamentar e passada a euforia inicial, terminou em impeachment, bem antes do fim de seu mandato.
Voto na Dilma e contra tudo isso que ainda está aí: a desigualdade social, o poder crescente do capital, a cobiça sobre nossos recursos naturais, o preconceito contra os homossexuais, a criminalização do aborto, o obscurantismo que impede avanços científicos, a criminalização da política, as palavras vazias, os salvadores da pátria. Com a direita autêntica fora do jogo podemos, sem grandes riscos de voltar ao passado, debater o melhor caminho para seguir avançando. Ponto para a democracia.
(1) Tzvetan Todorov, Os inimigos íntimos da democracia, tradução Joana Angelica DÁvila Melo, Companhia das Letras, 2012.
Se alguém me dissesse, em 2004 – quando o primeiro governo Lula sofria a oposição feroz de toda a mídia brasileira e tinha pouco ou nada para mostrar de resultados – que em dez anos o segundo turno da eleição presidencial seria disputado entre duas ex-ministras do governo Lula, uma pelo Partido dos Trabalhadores e uma pelo Partido Socialista Brasileiro, eu diria ao meu suposto interlocutor que a sua fé na democracia era um comovente delírio. A provável ausência, pela primeira vez no segundo turno das eleições presidenciais, de candidatos da direita autêntica, do PSDB, do DEM e do PTB, é mais uma boa notícia que a democracia nos traz. Imagina-se que, vença quem vença, muitos dos derrotados voltarão correndo para os braços confortáveis do novo governo, esta é a má notícia.
Tenho familiares e bons amigos que vão votar na Marina e também no Aécio. Eu vou votar na Dilma. Acho que foi o Todorov quem disse (mais ou menos assim) que a democracia nos reúne para que a gente resolva qual é a melhor maneira de nos separar. Não sou nem nunca fui filiado a qualquer partido, já votei em vários, tenho amigos em alguns. Neste que é o maior período democrático da nossa história (25 anos, sete eleições consecutivas), o Brasil não parou de melhorar e não há nada que indique que vá parar de melhorar agora.
Votei no Lula, desde sempre até ajudar a elegê-lo em 2002, com o palpite de que um governo popular, o primeiro em 502 anos, talvez pudesse enfrentar com mais vigor o grande problema brasileiro: a desigualdade social. Achei que, talvez, substituindo a ideia de que o bolo deve primeiro crescer para depois ser divido pela ideia de incentivar o crescimento do país com melhor distribuição de farinha, ovos, manteiga, fogões, casas com luz elétrica, empregos e vagas nas escolas e nas universidades, finalmente poderíamos começar a nos livrar da nossa cruel e petrificada divisão entre a casa grande e a senzala. Meu palpite estava certo. A desigualdade brasileira continua grande e cruel mas está, finalmente, diminuindo.
Voto, ainda, primeiro contra a desigualdade social, ainda o maior problema do país, um dos mais injustos do planeta, em poucos lugares há uma diferença tão grande entre pobres e ricos. A elite brasileira (sim, ela existe, esta aí), fundada e perpetuada no escravismo, luta para manter seus privilégios a qualquer custo. Eles são donos dos bancos, das grandes construtoras, fábricas e empresas, das tevês, rádios, jornais e portais da internet e defendem ferozmente sua agradável posição. A única maneira de enfrentar seu enorme poder é no voto.
Voto contra o poder crescente do capital sobre as políticas públicas. Quem vive de rendas pensa sempre mais no centro da meta da inflação e menos nos níveis de emprego, mais na taxa dos juros e menos no poder aquisitivo dos salários. O poder do capital especulativo, rentista, é gigante, mora na casa dos bilhões de dólares. Voto contra, muito contra, a autonomia do Banco Central, que tira do governante, eleito pelo nosso voto, o poder de guiar o desenvolvimento segundo critérios sociais, protegendo o país do ataque de especuladores e garantindo renda e empregos, e entrega este poder ao tal mercado, hereditário e eleito por si mesmo, sempre predador e zeloso em garantir a sua parte antes de lamentar os danos sociais causados por seus lucros. (Ver Espanha, Grécia, EUA, Finlândia, etc.)
Voto contra submeter os critérios de uso dos nossos recursos naturais não renováveis, como o petróleo, ao interesse de grandes empresas estrangeiras. O petróleo brasileiro e seu destino é o grande assunto não mencionado nas campanhas eleitorais. Os ataques contra a Petrobras, que acontecem invariavelmente às vésperas de cada eleição, atendem interesses das grandes empresas petroleiras, especialmente as americanas, que querem a volta do velho e bom sistema de concessões na exploração dos campos de petróleo, sistema que, na opinião delas, deveria ser extensivo às reservas do pré-sal. Aqui o interesse chega na casa do trilhão. Garantir que o uso da riqueza proveniente da exploração de nossos recursos não-renováveis tenha critérios sociais, definidos por governantes eleitos, me parece uma ideia excelente da qual o país não deveria abrir mão.
Voto contra o poder crescente das religiões sobre a vida civil. Respeito inteiramente a fé e a religião de cada um, gosto de muitos aspectos de várias religiões, sei do importante trabalho social de várias igrejas, mas não aceito o uso de argumentos ou critérios religiosos na administração pública. Mesmo para os que professam alguma fé religiosa a divisão entre os poderes da terra e do céu deveria ser clara. Diz a Bíblia, em Eclesiástico, XV, 14: “Deus criou o homem e o entregou ao poder de sua própria decisão”. (Esta é a versão grega, a versão latina fala em “de sua própria inclinação” ou “ao seu próprio juízo”.) Erasmo faz uma boa síntese desta ideia: “Deus criou o livre-arbítrio”. Ele, se nos criou a sua imagem e semelhança e criou também as árvores, haveria de imaginar que, criadores como ele, criaríamos o serrote, e com ele cadeiras, mesas e casas, e ainda, Deus queira!, a ciência que nos permita usar com sabedoria os recursos naturais e viver bem, com saúde. O poder crescente das igrejas, com suas tevês e bancadas no congresso, deve ser contido por um estado laico.
Voto contra o preconceito contra os homossexuais. O estado não tem nada a ver com o desejo dos indivíduos. Ninguém (seriamente) está falando que o sacramento religioso do casamento, em qualquer igreja, deva ser definido por políticas públicas, mas os direitos e deveres sociais devem ser iguais para todos, ponto. Os preconceituosos e mistificadores, que vendem a cura gay ou bradam sua lucrativa intolerância contra os homossexuais, devem ser combatidos sem vacilação ou mensagens dúbias.
Voto contra a criminalização do aborto. A hipocrisia brasileira concede às filhas da elite o direito ao aborto assistido por bons médicos, em boas condições de higiene, e deixa para as filhas dos pobres os métodos cruéis e o risco de vida, milhares de meninas pobres morrem de abortos clandestinos todos os anos. A mulher deve ter direito ao seu corpo, independente de vontades do estado ou de dogmas religiosos.
Voto contra o obscurantismo que impede avanços científicos. Há quem se compadeça com os embriões que serão jogados no lixo das clínicas de fertilização e ignore o sofrimento de milhares de seres humanos, portadores de doenças graves como a distrofia muscular, a diabetes, a esclerose, o infarto, o Alzheimer, o mal de Parkinson e muitas outras, cuja esperança de cura ou melhor qualidade de vida está na pesquisa com as células tronco.
Voto contra palavras vazias. Nossa era da mídia transformou a oralidade num valor em si, esquecendo que há canalhas articulados e bem falantes e pessoas de bem e muito competentes que são de pouca conversa, ou até mesmo mudas. Tzvetan Todorov: “A democracia é constantemente ameaçada pela demagogia, o bem-falante pode obter a convicção (e o voto) da maioria, em detrimento de um conselheiro mais razoável, porém menos eloquente”. (1) Há quem diga de tudo e também o seu oposto, dependendo do público ouvinte a quem se pretende agradar, há quem decore frases feitas repetíveis em qualquer ocasião, há quem não fale coisa com coisa. Prefiro julgar os governantes e aspirantes a cargos públicos menos por suas palavras e mais por seus atos, seus compromissos e sua capacidade de trabalho em equipe, ninguém governa sozinho.
Voto contra os salvadores da pátria. Pelo menos em duas ocasiões o Brasil apostou em candidatos de si mesmos, filiados a partidos nanicos, sem base parlamentar, surfando numa repentina notoriedade inflada pela mídia e alimentada pelo discurso “contra a política”, prometendo varrer a corrupção e as “velhas raposas”. No primeiro caso, a aventura personalista de Jânio Quadros acabou num golpe militar e numa ditadura que durou 25 anos. No segundo, a aventura personalista de Fernando Collor, sem base parlamentar e passada a euforia inicial, terminou em impeachment, bem antes do fim de seu mandato.
Voto na Dilma e contra tudo isso que ainda está aí: a desigualdade social, o poder crescente do capital, a cobiça sobre nossos recursos naturais, o preconceito contra os homossexuais, a criminalização do aborto, o obscurantismo que impede avanços científicos, a criminalização da política, as palavras vazias, os salvadores da pátria. Com a direita autêntica fora do jogo podemos, sem grandes riscos de voltar ao passado, debater o melhor caminho para seguir avançando. Ponto para a democracia.
(1) Tzvetan Todorov, Os inimigos íntimos da democracia, tradução Joana Angelica DÁvila Melo, Companhia das Letras, 2012.
Thursday, August 28, 2014
a nova bossa nova
a nova bossa nova ergue-se frente às grandes corporações
os grandes esqueletos concretos
salas aconchegantes e atendentes refinadas
a pujança econômica mas poucos livros
de verdade:
aqueles que não são céu ou inferno somente nem noite e dia
que não são bons ou maus
mas apenas reflexo
livros de amor, poesia e vida
poucos livros são poucos horizontes livres
a nova bossa nova precisa das mãos de deus e um coração mendigo
que se alimente das pequeninas coisas
a pequena fé, solidariedade
ver que o outro pode ser bom e livre
e que não somos nada
diante de nossas monumentais criações
@pauloandel
os grandes esqueletos concretos
salas aconchegantes e atendentes refinadas
a pujança econômica mas poucos livros
de verdade:
aqueles que não são céu ou inferno somente nem noite e dia
que não são bons ou maus
mas apenas reflexo
livros de amor, poesia e vida
poucos livros são poucos horizontes livres
a nova bossa nova precisa das mãos de deus e um coração mendigo
que se alimente das pequeninas coisas
a pequena fé, solidariedade
ver que o outro pode ser bom e livre
e que não somos nada
diante de nossas monumentais criações
@pauloandel
Sunday, August 24, 2014
desejo
você pensa no desejo
meu da tua carne bela
em plena madrugada? pensa?
e quando
deita sente no ventre
a minha língua quente
a te namorar sem fim? sente?
quando se toca, lembra
que queria a minha mão
te alisando, o dorso, o colo? toca?
você pensa no que me instiga
excita, atiça
a tua pele nua, cobiçada
roçando em meus calores
até sermos um só, teu, tua
@pauloandel
meu da tua carne bela
em plena madrugada? pensa?
e quando
deita sente no ventre
a minha língua quente
a te namorar sem fim? sente?
quando se toca, lembra
que queria a minha mão
te alisando, o dorso, o colo? toca?
você pensa no que me instiga
excita, atiça
a tua pele nua, cobiçada
roçando em meus calores
até sermos um só, teu, tua
@pauloandel
Sunday, August 17, 2014
quando você quiser amor
quando você quiser amor
e se lembrar de mim
e me chamar
serei muito mais do que mensagens
de bolso
recados e frases:
posso fazer de mim mesmo
o sol fosco que te banhe
ou mesmo a noite incontável
de luar
quando você quiser amor
e me falar
posso ser mais que desencontro
passatempo barato
passeios perto de vitrines
muito do muito mais
quando você quiser amor
faço-me corpo e beijo e gosto
nos toques mais profundos
nos carinhos mais excitantes
e será difícil crer que alguém
não saia extenuado
quando você quiser amor, não permaneça à beira do mar:
vamos mergulhar um na outra
e comprovar tudo aquilo
que já sentimos antes, agora e sempre
mas não nos permitimos
@pauloandel
a feiúra da alma atormentada
era arrogante a ponto de parecer estupidez que as veias fizessem o sangue de seu corpo circular. um inútil trabalho de abastecimento visando alimentar um corpo de alma fútil, deslumbrada com a ingenuidade das palavras difíceis mas ocas, o peito estufado a sugerir a imponência de um corpo amorfo em plena harmonia com um rosto horrível, repugnante e fiel em sorrisos aos rococós travestidos de sofisticação, tudo para esconder a dor que sentia diante do espelho.
era arrogante a ponto de ser incapaz do exercício das pequenas coisas, usando a intolerância, o sarcasmo e o deboche como principais armas de auto afirmação, em vez do progresso próprio, da capacidade de realizações, da construção de um caminho confortável e harmonioso. a falsa intelectualidade que ostentava, fruto de orelhas de livro em vez de miolos, não enganava qualquer observador dotado de argúcia.
era arrogante, sem talento, com as mãos no estandarte da feiúra, carente de brilho próprio, mas dispunha-se a ofender o próximo pela incapacidade de enxergar as próprias limitações, tão evidentes a qualquer um.
no fim das contas, era de uma tristeza infinita: não há pessoa capaz de enganar a si mesma, exceto os loucos, os psicopatas. nem a esse extremo chegava: até para se ter os piores predicados, a mediocridade não basta.
a feiúra própria lhe arreganhava as vísceras. mas não apenas a de um rosto horrível, que poderia ser menos horrível dependendo de quem visse; como atenuar uma alma horripilante? não há dinheiro que pague. não há fama ou notoriedade que conforte.
@pauloandel
Saturday, August 16, 2014
canções para aprender e cantar
Enquanto ouvia agruras e risos de certa morena simpática e amiga num botequim familiar e vazio, coisa de poucas horas, espiava a foto de outra mulher linda e ausente, intensa e presente de alguma forma. Entre garrafas de Malzbier, nada fazia sentido e, ao mesmo tempo, tudo parecia tão conectado e lógico. Você ouve ao longe uma mulher que viveu o amor em vão. Você ouve a indiferença travestida de romance. Alguém carrega o celular na tomada perto do caixa só para não perder de vista mensagens desejosas. Estou cansado demais e preciso de uma cerveja. Sono, cansaço, tesão incubado, namoro de trem e a mesa ao lado se comove na prosa a respeito de duas belíssimas bailarinas à ribalta. Futebol não há, os bares morrem no frio de um sábado à noite. Nenhum dos admiráveis bebuns do balcão está de plantão. Frio, frio, os velhos botequins não merecem o frio de Agosto, nem o silêncio do Robertão, falecido quando menos se esperava. ENTÃO levanto de minha mesa solitária, pago a conta, caminho a largos passos em direção de casa, tomo o elevador por vários andares, ligo a televisão que faz cinema com o santo guerreiro contra o dragão da maldade. Grandes atores na tela abençoada. Estou sozinho e penso em pequenas devassidões, múltiplas. O amor é uma solidão fascinante. O mundo é solitário e defeituoso com suas cicatrizes, suas veias doloridas e sempre alguém estará do lado de quem vai vencer, fingindo comemorar a vitória do outro. O amor, o desencanto e a perda no passo delicado de duas bailarinas, enquanto o trem da história está paralisado na gare imaginária da Central do Brazyl. O Brasil não conhece o Brasil. O resto é uma enorme desimportância
@pauloandel.
Thursday, August 14, 2014
poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Tuesday, August 12, 2014
Monday, August 11, 2014
gosto
gosto meu
sobre teu gosto
meu
corpo teu gozo
meu
teu rosto lindo
gozo meu
teu gosto liso
teu
o sexo úmido
e a cada sempre eu
quero teu gosto
o meu
corpo quer gosto
teu
o prazer todo
eu deitado
num beijo teu
lambendo o teu
corpo incandescente
rijo e molhado
teu
par de seios
meus
que acaricio
hoje eu deitado
só sem ter
o teu calor aqui
como queria
um beijo meu
em pleno ventre teu
você tão lisa e eu
te arrepiando
o sexo meu tão quente
num beijo teu
e o mundo gira
o gosto teu que penso
e quero ter
e posso e gosto
ter a tua vida
lamber teu, te penetrar
ao fim e tremular-te em vez
a cada beijo
@pauloandel
sobre teu gosto
meu
corpo teu gozo
meu
teu rosto lindo
gozo meu
teu gosto liso
teu
o sexo úmido
e a cada sempre eu
quero teu gosto
o meu
corpo quer gosto
teu
o prazer todo
eu deitado
num beijo teu
lambendo o teu
corpo incandescente
rijo e molhado
teu
par de seios
meus
que acaricio
hoje eu deitado
só sem ter
o teu calor aqui
como queria
um beijo meu
em pleno ventre teu
você tão lisa e eu
te arrepiando
o sexo meu tão quente
num beijo teu
e o mundo gira
o gosto teu que penso
e quero ter
e posso e gosto
ter a tua vida
lamber teu, te penetrar
ao fim e tremular-te em vez
a cada beijo
@pauloandel
os garotos do 238
Peguei o 238 na Mem de Sá e espiei não somente o movimento das ruas mas também o dos passageiros. Gente trabalhadora, mulheres bonitas, vovôs, jovens yuppies e perto da porta, quatro estudantes do Cefet - inevitável lembrar de Elika. Foi uma viagem rápida, talvez uns vinte minutos, mas que me fez navegar no tempo. Um dia proveitoso e até prazeroso em alguns sentidos: rir bastante, olhar o passado com serenidade, recordar poesias, algumas leves promessas eróticas, contas a pagar e receber. Voltando ao ônibus, os garotos riam e brincavam, enquanto falavam de seus pequenos medos: a troca de matérias, a necessidade de estagiar, algumas aulas desimportantes, outras essenciais. As gatonas da sala, a incerteza do futuro. Os quatro de mochilas, camisetas, jeans e tênis. Um falava do longo caminho de volta para Belford Roxo, o outro sonhava com uma boa janta, o terceiro falava dos seus temores com Estatística - do mesmo jeito que certa bela mulher me disse - e o quarto, o mais grandão e tímido, alternava risos contidos e pequenos silêncios. Calado, pensei que, há muitos anos, quando eu tinha o futuro e a esperança nas mãos, fui exatamente um deles, podia ser perfeitamente o quinto daquela turma. Senti saudades, ainda que fale com alguns daqueles amigos da faculdade até hoje. Na verdade, também hoje eu ainda sonho como eles, mas sem o futuro que só a juventude proporciona. Quando chegaram no Cefet e saltaram, foi como se eu descesse com eles, fosse até o hall da faculdade e ganhasse o beijo de alguma amiga bonita. Dali fui até o Shopping Tijuca pensando naqueles quatro jovens lutadores em busca de sonhos - eu fui um deles, acertei, errei muito e talvez não mudasse uma vírgula se pudesse voltar no tempo - a vida é para ser vivida e não trocada só porque não foi perfeita. Logo passei pelo querido Maracanã, a avenida feito uma artéria de puro sangue, carros para todos os lados, meu pensamento apontando para onde não devia. Saltei do 238 e imediatamente comprei um cachorro quente pra ainda me sentir um jovem estudante. A seguir, já no centro de compras, entrei na Saraiva e comprei o primeiro cd dos Racionais, com os grandes raps do tempo em que eu era mochila, camiseta, sonho e esperança. Quando caminhei para meu trabalho de estúdio, espiei a Saens Peña e revi na alma os cinemas do fim dos anos 80: éramos jovens demais, víamos filmes entre as aulas, um excelente pretexto para beijar as garotas. O poeta Cazuza foi implacável: "eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades, o tempo não para". Os museus são vida. Horas depois, já deitado em meu quarto, a televisão falando desimportâncias e servindo de companheira, o futuro tão incerto, pensei em quem não devia mas tanto gosto, houve quem me chamasse para o bate papo virtual e eu imaginei como foi o fim de noite daqueles meninos com todo o futuro nas vísceras: um jantar, um banho, uma noite de sono, o sonho de um dia melhor. Quis ser de novo como eles. Na verdade, ainda sou. Comprovadamente, nunca deixei de ser. Provavelmente, sou um eterno estrangeiro de meu tempo e espaço. Sempre foi assim; só me bastava uma vida melhor para as pessoas. Tomara que eles descansem bem, continuem amigos e driblem as intempéries deste mundo injusto e egoísta. Sou um deles e nunca deixarei de ser. Entretanto, Robin Williams tinha que morrer logo agora? Ele era uma estrela nas telas tijucanas que eu tanto admirava dia desses.
@pauloandel
Thursday, August 07, 2014
miséria
a miséria de braços abertos
e sorriso largo nas calçadas
nas grandes avenidas iluminadas
comove, entorpece e aflige:
nas grandes cabeças falantes
e também nas falsas, que fingem
riqueza de pensamento em vão
- a miséria do argumento - a miséria da solidão - o fracasso da sociedade
decadentes roqueiros reacionários
são estandartes da miséria
herdeiros arrogantes de velhas capitanias
são brisa firme da miséria
a miséria da dicotomia rasteira
é maior do que as infinitas luzinhas
dos barracos de sempre
risíveis caçadores de comunistas, tão indiferentes
aos milionários donos das palavras
de deus
aos respeitáveis sobrenomes tradicionais:
nós somos silvas, pereiras, sousas
e também temos outros nomes estrangeiros
a miséria é o desprezo, a indiferença
a ganância
intelectuais de orelhas de livros
são tatuagens da miséria
eu não estou isento:
também sou um miserável
mas as minhas esmolas d'alma
não vem das manchetes mofadas
nem dos velhos discursos piegas
sou velho a ponto de não me iludir
com eternos oportunismos
mas novo o suficiente para sonhar
com o fim das misérias
e dos verdadeiros miseráveis:
isso não é dinheiro
mas poder e amar
@pauloandel
Tuesday, August 05, 2014
o rosto do brasil
poetas de calçada tentam em vão
descrever o rosto do Brasil
neste inverno de dias
estranhos
o céu mendigo das marquises
enquanto vaidades ocas
aconchegam-se em escritórios
presidentes de porra nenhuma
assistentes de porra louca
assessores de franca inutilidade
qual é a cor do rosto do Brasil?
serão suas rugas idade ou sofrimento?
o rosto de um amor perdido
ou das perdas sem volta
eu queria ver o rosto do Brasil
a tez, as curvas, o ventre livre
mas tudo é muito distante
poetas de calçada namoram as conquistas do país
eu sinto fome, sono e tristeza
mas amanhã será dia novo
passageiros de nós mesmos
enquanto o samba e o amor
ficam de mãos dadas e dedicadas:
aqui, somos distantes demais
@pauloandel
descrever o rosto do Brasil
neste inverno de dias
estranhos
o céu mendigo das marquises
enquanto vaidades ocas
aconchegam-se em escritórios
presidentes de porra nenhuma
assistentes de porra louca
assessores de franca inutilidade
qual é a cor do rosto do Brasil?
serão suas rugas idade ou sofrimento?
o rosto de um amor perdido
ou das perdas sem volta
eu queria ver o rosto do Brasil
a tez, as curvas, o ventre livre
mas tudo é muito distante
poetas de calçada namoram as conquistas do país
eu sinto fome, sono e tristeza
mas amanhã será dia novo
passageiros de nós mesmos
enquanto o samba e o amor
ficam de mãos dadas e dedicadas:
aqui, somos distantes demais
@pauloandel
Friday, August 01, 2014
o país distante
o meu país é o sonho
distante
um suspiro estrangeiro
entre ruas
miséria
tristeza
e boas pessoas
também pessoas ruins demais:
sempre a minoria
o meu país tão longe
perdido em interesses
mesquinhos
egoísmo, covardia
súplicas de fé
e pequenas esmolas
o meu país solitário
com suas grandes terras e estradas
intermináveis
os valentes nordestinos nos canteiros de obras
suburbanos em trens apinhados
o meu país não tem rancores
mas uma injustiça enorme
em cadernos amarrotados
cemitérios clandestinos
leitos descuidados
e garotos indo e vindo, zumbis
intoxicados
o país que grita gol!
o país que esculpe o samba
e tanta gente boa
sem perceber os metaesquemas
meu país: cor
poema sem final feliz
vida a escorrer em valões
o sorriso de uma garotinha
vendendo chicletes no sinal
o sorriso de uma criança
em dias e noites de escravidão
o meu país
num humilde prato de comida
caseira
@pauloandel