em qualquer horário de almoço num restaurante perto de uma grande corporação econômica, numa grande cidade, uma metrópole, você pode enxergar o mesmo do mesmo. as pessoas com trajes sempre parecidos, falando dos mesmos assuntos, os pratos cuidadosos para não se engordar ou desenvolver câncer ou alguma doença letal. todos com os olhos cravados diante das telas, seja a da televisão com os gols e façanha do maior time da ficção esportiva, sejam as dos smartphones cheios de ois, olás, teadoros e táfazendoquês. os crachás são todos iguais. olhares tensos, de cobiça, desejos. ou conversas masculinas ansiosas pela próxima micareta, pequenas orgias que serão grandes troféus dos campeonatos de nada. uma jovem loura, bonita e delicada destoa de quase tudo, exceto o maldito crachá que não dá carta de alforria. eu, estrangeiro de mim mesmo, olho tudo em volta, sinto-me perdido demais nessa cidade linda e neurótica. alguém deveria ter me mandando uma linda mensagem eletrônica mas prefiro não olhar à mesa porque gostaria de ler outras coisas, ter outras palavras, viver outros pequenos momentos interessantes. o prato chega ao fim. a fila é cheia de pessoas parecidas pelas roupas, tons, perfis. eu queria falar de criatividade, mas tudo é uma inutilidade que beira o enorme. a moça da caixa agradece a preferência. lentamente, os adultos contemporâneos iniciam o caminho que os levará às baias, ao networking e o admirável mundo eletrônico - frio e rude, demais.
@pauloandel
No comments:
Post a Comment