Museu de grandes novidades (ruins)
Sou do tempo em que, pra te assaltar, o pivete num ônibus perguntava antes qual era a tua rua de residência ou a rua da tua turma. Fosse de "aliados", isenção do crime. Não fosse, e grana captada, ele saía correndo. Isso não tem cinquenta anos, nem trinta. Uns vinte talvez.
Pouco tempo para justificar a era de barbáries que vivemos hoje no Rio.
Praticamente ninguém mais fala que, nove meses atrás, queimaram gente viva dentro de veículos coletivos na avenida Brasil. Inhúma, um pouco antes.
O menino João Helio, assassinado estupidamente, será lembrado hoje pois, há poucos minutos, morreu uma enfermeira da mesma maneira na rua - arrastada por um carro com bandidos em fuga. A mesma triste sina, amparada pelo descaso do poder público e de boa parte da população - aquela que acredita estar tudo "resolvido" porque "paga impostos".
Esse tipo de situação, a repetição de assassinatos cruéis sem a menor justificativa, o prazer em matar, destruir, é muito assustador para mim. Creio que seja também para milhões de outras pessoas.
O que eu tenho feito para impedir isso?
E você?
As coisas pioram e estamos todos dentro de um museu de grandes novidades, aquele de Cazuza.
A morte da enfermeira vai ajudar a vender jornal e excitar a audiência televisiva.
Que mais?
Mais do mesmo, feito Renato Russo.
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Menos inacreditável do que a crueldade dos frios assassinos cariocas, mas inacreditavelmente também, foi o desfecho do caso Renan Calheiros.
Ele tinha a força. E sabia disso.
Não deixou a presidência do Senado, tinha certeza da absolvição.
Tenta-se vender a falsa imagem de que a vitória de Renan é também do PT - embora, claro, outro presidente poderia trazer problemas aos anseios do Governo Federal nas votações do Senado.
Renan já está há muitos anos nisso.
Quando a sessão secreta iniciou-se, certamente muitos dos que abstiveram-se ou votaram pela absolvição tiveram o que ouvir de Renan.
O que foi dito, jamais se saberá.
Mas os quarenta e um votos não foram à toa. E nem somente do PT. Ou da coalisão.
É incrível. Mas as cartas já estavam marcadas, marcadíssimas.
E o final do jogo, vergonhoso.
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Onze de setembro.
Enquanto Bush apropria-se do petróleo de uma terra sem lei, sob a singela justificativa da força de paz, Osama ostenta sua nova barba e "aparenta boa forma", parafraseando texto típico de revista de fotos muito "lida" no Brasil.
Falava-se muito de segurança, mas a verdade é que, na noite de dez de setembro de 2001, não havia um só americano que pudesse crer em toda a tragédia que aconteceu, ainda mais organizada por um milionário saudita que fora treinado no passado pelos próprios EUA.
A soberba de Sam custou caro. E custa.
Na ausência de galhos, Osama pula de pedra em pedra afegã (ou não) e continua a ser uma ferida aberta para todo o mundo.
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Toda forma, Nova York tem muita coisa boa. Um de seus grandes produtos é o Steely Dan, grande banda setestista que apostou numa fórmula quase única - misturar jazz com música pop.
Donald Fagen, um dos Steelers, lançou ano passado o disco "Morph the cat", vigoroso passeio no que há de mais bem-feito na música "comercial" nova-iorquina. Steely Dan puro, para quem conhece.
Ed Motta deve ter vibrado.
Quem gostar da fina iguaria musical, deve ser bem fácil o dáumlôadi.
Ou mesmo comprá-lo no original, tranquilo, por bons dez reais, encalhado que anda pelos sebos do centro do Rio.
Grade novidade de verdade. E boa.
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