Sunday, October 27, 2024

Brasil, república dos biscoitos

O Brasil. Eu nasci no Brasil há muitos anos. É um país gigantesco, que conheço bem menos do que gostaria. Geograficamente, é uma terra linda, cheia de pontos culminantes. O problema é o homem poderoso, que destrói tudo, humilha e esfola. 

O Brasil é uma terra linda que pouquíssimos brasileiros podem desfrutar, já que a maioria ainda vive num regime análogo a escravidão, porém enrustido de liberdade. Nas grandes capitais, milhões de brasileiros são submetidos aos desejos do crime ou das grandes corporações - e esses desejos muitas vezes se encontram, quando não andam de mãos dadas. 

Como a maioria dos brasileiros é permanentemente humilhada, não há tempo para muita coisa além da própria sobrevivência. Não há tempo para reflexão. A única saída para uma vida humilhante e opressora é buscar um lugar no céu, sonhar com uma hipótese já que a vida real é perturbadora e cruel. Isso explica a força de tantos pastores e bispos calhordas pedindo Pix na TV. 

Não há como refletir. As oportunidades são escassas. Não há interesse por leituras, conversas, trocas. Não importa aprender: para quem tem o privilégio da escola, o que importa é passar de ano. E quando vem o grande funil à frente, o que importa é ter o diploma. 

É difícil quantificar, mas o Brasil certamente tem uma das maiores produções artísticas da humanidade. Incontáveis livros, discos, peças, filmes, obras, instalações, shows, produções diversas. Só que 99% disso vive no subsolo, se muito. Não há acesso, divulgação, políticas públicas adequadas e suficientes, afora o descaso do mundo corporativo que, salvo exceções, só tem compromisso com o lucro. Se milhões de pessoas vivem em função de lutar pela sofrida sobrevivência, muitas vezes só almoçando biscoitos, como vão buscar acesso a equipamentos culturais? 

Os números não mentem: vivemos uma das maiores desigualdades econômicas do planeta. Boa parte da população não tem acesso a bens de consumo, uma casa decente, às vezes não há luz nem água. 

Para segurar esse rojão, temos duas fontes da juventude: futebol e carnaval, com todos os problemas que os dois ambientes em questão possuem. É um paliativo, ok. 

(Continua, talvez)

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