Saturday, September 07, 2024

Serious

Para mim, é a melhor e mais subestimada música já feita pelos ingleses do Duran Duran. Tem a coisa do fim dos anos 1980, que tinha sua mágica, algumas perdas e mudanças - remete imediatamente. A gente jogava muito botão na casa do Luizinho, que era um livro à parte - quem sabe? -, estava sempre no Bar Sniff's e também no nosso quartel general, que era a casa do Fred. Hoje, eu fico tentando entender como dava tempo para todos os lugares. E ainda tinha os jogos do Fluzão, corrida e futebol na praia, mais a faculdade de noite. 

Minhas aulas na UERJ começaram em 1988. Uma vez ou outra eu faltava ou não tinha aula mesmo. No Fred a gente começou a ter muitos encontros de tarde. Uma vez ou outra eu encontrava o Jorge e íamos para o treino do Flu - hoje é impossível. 

Eu frequentei o apartamento de 1978 a 1992. Nunca fiquei três dias sem ir lá. E o Fred era caseiro demais. Ele gostava muito. Depois a turma aumentou, vieram as garotas, as pequenas loucuras e tínhamos grandes momentos na nossa bolha particular. Jogando cartas, ouvindo LPs, vendo TV ou conversando sobre qualquer coisa. Filmes. Cotidiano. Aprendi muita coisa por lá. Não éramos intelectuais, mas antenados de alguma forma. 

Quando chegou a virada para os 1990, a faculdade começou a apertar, perdi as tardes livres com os estágios, o tempo encurtou. Fred foi trabalhar, o apartamento continuou um QG mas sem a presença diária. A gente não se deu conta, mas era o fim de uma era e o início de outra - como grupo, nunca mais nos reuniríamos, salvo por excepcionalidades, uma delas muito triste: a própria morte do Fred, há 15 anos, muito antes do razoável. Ele tinha 42 apenas. Eu contava com ele para ser meu amigo de conversa fiada na velhice que já se avizinha, mas não deu. Não tivemos últimas palavras: na cama do hospital, ele chorou com os abraços e sabia que era a despedida. Fui o último a cumprimentá-lo. Apertamos as mãos, nos olhamos e por uns dez segundos, atravessamos trinta anos. Ele faz muita falta. 

Perdemos os anos 1990. Em 2003, marcamos um encontro na Cobal. Todo mundo duvidava que Fred fosse, já que só saía de casa para trabalhar. Ele foi. Mesmo assim, mantivemos contatos esparsos. Tudo mudou no dia do velório da minha mãe, a quem ele chamava de tia. De janeiro de 2007 a março de 2009 voltamos a nos falar como nos velhos tempos, passei a encontrá-lo novamente em Copacabana. Ele me ajudou muito quando perdi minha família. Parecia tudo planejado: meses depois, ele é que se foi e levei mais um duro golpe. Desde então, fiz muitas coisas mas isso fica para depois. 

Agora, depois da meia noite, se fosse há quarenta anos estaríamos deixando o apartamento do velho bloco F, ou saindo da casa do Ricardinho (nosso QG alternativo, cuja vista da sala era um paraíso verde). Descer a Santa Clara, atravessar a Boca do Lobo, a praça do Bairro Peixoto, não fazer barulho na Anita Garibaldi para não atrapalhar o sono de Angela Rô-Rô, chegar a porta do prédio, abraço, tchau, amanhã começa tudo de novo. Não tínhamos um tostão nem grandes perspectivas, mas tínhamos grandes goles de felicidade diária. Devíamos estar todos juntos agora. Bem, não se pode vencer todas. Paciência. 

Duran Duran diz muitas coisas. 

@p.r.andel

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