Todo dia tem alguém falando mal do biscoito recheado na TV.
É um alimento maldito, que faz mal à saúde, que cria uma legião de obesos - o pessoal jura que se preocupa com a qualidade de vida da rapaziada, mas tem uma cara de gordofobia... -, um inferno. Ok, faz mal, é um alimento multiprocessado (como tantos outros) etc.
Bom, acontece o seguinte: o Brasil é um país onde você tem como uma das únicas diversões a TV. A maior parte da população é muito pobre, e passa os dias vendo o massacre do biscoito recheado. Essa mesma população muitas vezes trabalha longe de casa, leva horas no trânsito, ganha mal, trabalha em condições precárias e, por fim, dificilmente tem um almoço que atenda suas necessidades. O que o pessoal acaba fazendo? Lanchando no fim do expediente, entre a saída do trampo e a chegada ao ponto de ônibus ou estação de trem. Lanchando biscoito recheado.
Agro é pop. Agro é Globo. Agro é tudo. A mesma televisão que massacra, com relativa justiça, o biscoito recheado faz a digna ode a frutas e legumes, muito mais saudáveis (não pensemos nos agrotóxicos) e convidativas. Com as frutas, todos seremos esbeltos, acabará a maldita gordura per capita do brasileiro e a felicidade será abundante.
O problema é que aquele mesmo trabalhador oprimido, que vê seu almoço ser esculachado na TV diariamente, e come biscoito recheado porque não tem alternativa, vê as lindas frutas mas constata que seu minúsculo salário não lhe permite comprá-las, porque qualquer lote ou meia dúzia de peças custa o dobro ou o triplo do biscoito recheado.
Pobre do pobre trabalhador que não trair o biscoito recheado: será um relapso, um gordo sem força de vontade, jamais como uma vítima dessa porra de sistema que só serve para humilhar, massacrar e frustrar.
No comments:
Post a Comment