Sunday, March 31, 2024

60 anos de nojo de 1964

Eu não aprendi sobre a ditadura imunda na TV, nem nos livros. Só a posteriori. Eu a vivi dentro da minha casa, desde que nasci, e até hoje carrego sequelas irrecuperáveis dela. 

Aos oito dias de VIDA, fui carregado por minha mãe desesperada. Ela saiu correndo de casa depois que soldados foram à nossa casa para prender meu tio, um jovem estudante de 23 anos. Um simples tropeço da minha mãe na rua, também uma jovem de 23 anos, teria sido a minha morte, mas felizmente não aconteceu. 

Tempos depois, novamente para prender meu tio, a ditadura simplesmente deteve meu pai para usá-lo como refém. Desesperado, o irmão se entregou. Nunca fez mais do que reuniões no Partido ou panfletar contra a ditadura em passeatas, mas ditadores são assim: covardes. Prenderam-no, deram-lhe o abominável "telefone" e lhe tiraram uma das audições. Não aguentando mais, um garoto que tinha sido criado em colégio interno, órfão, virou um jovem humilhado que teve como única saída o exílio. Nunca mais voltou. As sequelas da ditadura contribuíram para seu suicídio, anos mais tarde. 

Deprimido, aos poucos meu pai caiu no alcoolismo e isso nos provocou uma tragédia familiar e econômica que jamais superei. Só parou de beber quando não pôde mais andar, e isso foi o que lhe deu uma sobrevida de treze anos. 

Minha mãe sofreu demais. Jovem ainda, passou a ter vários problemas de saúde que abreviaram sua vida. Faleceu com 61 anos, mas uns 100 de sofrimento.

Além de destruir a harmonia da minha família, a ditadura ainda me expulsou de uma escola no jardim da infância. Numa excursão até à Praia Vermelha, simplesmente perguntei à Tia Diva porque a praia tinha aquele nome. Perto dela, estavam dois senhores de farda. Nunca me esqueci do olhar odioso que me dirigiram por uma pergunta da criança. Psicopatas, queriam saber quem era a criança de "traço comunista". Foram à escola, pegaram meu nome, encontraram o do meu tio, avisaram que eu deveria ser expulso para não contaminar as outras crianças. A diretora recebeu minha mãe e, chorando, comunicou minha expulsão. Uma semana depois, eu estava em outro colégio, sem saber de nada. 

Ah, muito provavelmente foi a ditadura que sumiu para sempre com a Lúcia, que era minha babá em 1973. Morávamos uma temporada bem no Largo de Cascadura. Ela desceu para comprar pão e nunca mais voltou. Meus pais desesperados foram em delegacias, hospitais, no IML, choravam o tempo todo, eu vivi aquela agonia. Isso tem 51 anos. Sou o único sobrevivente daquela casa. Nunca mais tive sinal de Lúcia. E por que teria sido a ditadura? Simples: porque naqueles anos e nos seguintes as pessoas simplesmente "sumiam" para sempre, num tempo em que o tráfico e a milícia engatinhavam. 

Perto de 1979, o Jorge sumiu. Trabalhava num depósito de bebidas que ficava na Figueiredo Magalhães, em Copacabana, perto da Vila. Nada disso existe mais: é o terreno do Metrô e do Batalhão da PM. Lá para 1981, quem sumiu foi o Carlos, jornaleiro. A banca de jornais simplesmente ficou sem abrir por dez dias, o dono apareceu, ninguém tinha notícias. Veio um novo jornaleiro. Carlos, nunca mais. 

Uma coisa que sempre me intrigou foi quando me tornei um torcedor mirim fanático. Eu ouvia todos os clássicos do Maracanã, meu pai me levava e tal. Pois bem: volta e meia noticiavam que alguém morreu na geral, tentando roubar alguém, teve troca de tiros. Estranho é pensar que alguém entrasse armado justamente no setor mais popular do estádio, com muitas pessoas pobres ou muito pobres, para roubar - os outros setores tinham gente com mais grana. Ao mesmo tempo, se sabia que muitos militantes de esquerda gostavam de ver jogos na geral para ficarem com o povo. Será uma coincidência a morte de tantas pessoas ali? É um assunto silenciado. 

A maldição da ditadura tirou a saúde dos meus pais. Doentes e sem renda, passei a sustentar a casa. Isso ajuda a entender minha penúria e minha ausência de bens. Mas eu não deixei de produzir: fiz muitas estatísticas e escrevi muitos livros. Mas é difícil, muito difícil viver com esse peso. 

Se a ditadura fez tanta coisa ruim para quem era literalmente inofensivo, imagine todo o resto que já descobrimos nos arquivos pavorosos. Em nome de uma farsa corrupta, torturaram, mataram, estupraram, incendiaram, esquartejaram e desintegraram muita gente. Vários dos crimes horríveis que você vê na TV, cometidos pela milícia e pelo tráfico, são reproduções de técnicas utilizadas pela ditadura. 

Quanta gente foi socada no sanatório de Barbacena para morrer em vida? Ou jogada na Baía de Guanabara? Ou enterrada na então deserta Zona Oeste do Rio há 40 ou 50 anos? 

E que ninguém seja ingênuo: houve muita corrupção. Muita. Essa é a principal motivação de todo golpista. Só verdadeiros otários acreditam nesse discurso de pátria, família e religião - é melhor trocar por hipocrisia, desfaçatez e corrupção. 

Há muitas pessoas feito eu por aí. Algumas não falam porque são traumatizadas. Outras, porque têm vergonha de se expor. E outros motivos. Só que muita gente sofre com isso. São dores na alma, no peito e na geladeira vazia. Na saudade das pessoas queridas, que poderiam ter mais tempo na Terra. 

Eu tenho o mais profundo nojo das pessoas que defendem a ditadura. A elas desejo as piores coisas. Essa não é uma causa de ricos contra pobres, de brancos contra negros, de conservadores contra progressistas, de direita contra esquerda, mas sim a causa dos seres humanos contra monstros que defendiam e defendem - ainda - o nazifascismo, e isso é intolerável. 

Há pouco o Brasil quase passou por mais um golpe. Que as pessoas tomem consciência dos fatos e pensem em suas famílias, em seus filhos. Não é mais possível que em 2024 as pessoas defendam uma aberração como a ditadura. É inaceitável e merece as piores reprimendas. 

Nenhuma criança deveria ter passado pelas coisas horríveis que eu passei, por causa dessa ditadura nojenta. E o pior é que, perto do que muitas sofreram, eu sou até um privilegiado. Não fiquei na primeira fila da sessão do horror. 

A você, que tolera ou defende isso, pense que as pessoas mutiladas, estupradas e covardemente assassinadas poderiam ser suas próximas, ou até da sua família. A ditadura começa eliminando seus alvos prioritários, depois ataca qualquer um. E se você vê algo parecido com a milícia e o tráfico, isso está longe de ser mera coincidência. 

@p.r.andel

Tuesday, March 26, 2024

03:00 AM IN NYC

Não há ninguém no Grant's a essa hora. Nem Grant's há. Não se come mais grandes pratos baratos de comida à noite.

O mesmo vale para o Five Spot. Nem pensar em esperar por Thelonious Monk batendo o pé no chão para marcar grandes temas de jazz. 

Agora é tarde.

JAZZ IS DEAD. 

Os velhos e bons beatniks que iam e vinham pelos bares à noite estão todos mortos, ou tão velhinhos que nem saem mais de casa. 

E se Thelonious não bate o pé, onde procurar os novos gênios do jazz? Gênios, gênios, nunca mais, mas há grandes músicos. É difícil alguém construir coisas para estar na mesma prateleira de Charles Mingus ou Miles Davis. Muito difícil. 

Nem jovens rapazes muito doidos do tipo que curtiam os primórdios do Velvet Underground. Rapazes de preto com sapatos de bico e cara de tédio. Jovens mulheres, lindas de qualquer maneira. O rock underground ainda resiste, algumas bandas que também herdaram o estilo do Joy Division: Interpol, The National e similares. 

Será que alguém ainda curte turmas da juventude? Somos ocupados demais, todos teclam o tempo inteiro em seus delicados smartphones e iPhones. Ou ficamos a escutar música rasa com fones vulgares. 

Todos vão mais cedo para casa agora. Quase todos. Não serei injusto: ainda existe arte e desafio na noite de Nova York, mas o problema é que ninguém mais vai escrever "Walk on the wild side". Até mesmo os escritores são outros: não há Kerouac ou Burroughs, nem a poesia de Ginsberg, nem Gregory Corso. Quem vai descobrir e contar as novas histórias do down by law? 

Tudo bem: vamos tentando de alguma forma. Se o melhor já passou, vamos tentar viver os tempos modernos da melhor forma possível. 

JAZZ IS NOT DEAD. 

Alguma coisa acontece nos corações sedentos quando procuram vestígios dos escombros do Grant's ou do Five Spot. Prosseguimos.

Sunday, March 24, 2024

Os 40 anos de 1984

Quarenta anos por extenso, 40 anos.  

Tudo passa tão rápido, mas ao mesmo tempo 40 anos parece tempo demais. 

É que vivemos ocupados, apressados, temos que lutar pela sobrevivência, nunca temos o tempo devido para viver. O jeito é tentar espiar a paisagem pela janela do trem ou o reflexo da janela no metrô. 

De repente, tô olhando para a televisão e acabou o verão de 2024. Alguma coisa me teletransporta para 1984. São 40 anos. 

Os 40 anos da estreia do Sambódromo maravilhoso no lugar do eterno entra e sai das ferragens de João Mendes na Marquês de Sapucaí.

Lá se vão 40 anos dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Quem se lembra de Mary Lou Retton? E da bela canção tema do evento cantada por Christopher Cross, “A chance to heaven”?

Talvez 40 anos para se pensar no título do grande livro de George Orwell.

Ou quando eu era garoto de Copacabana, ainda ia à praia e gostava dos horários mais desertos possíveis, de preferência no comecinho da manhã. É uma das mais belas paisagens da natureza humana. 

Há 40 anos eu acampava num dos lugares mais lindos do Brasil, o Forte Imbuí. Numa tarde nublada de setembro, naveguei pelo semblante de uma garota linda, com seu olhar perdido vagando pelo Atlântico Sul.

Em 1984 eu também estava num dos meus melhores Réveillons. Coisa de garotos. Eu, Fredão, duas amigas lindas. A gente lanchando no Gordon. Nosso atendente predileto era um jovem negro magrinho. Seu nome era Misaque. Atendia todo mundo bem. Gente boa, carioca.  

Há 40 anos, meu Fluminense pintava e bordava no Maracanã, no Morumbi e em qualquer campo do mundo. Ganhou o campeonato brasileiro, o carioca e passava o trator. Era o Fluzão demolidor rei dos clássicos e dos títulos. Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo e Branco; Jandir, Deley e Assis; Romerito, Washington e Tato. E Vica, Leomir, Renê, Paulinho e Parreira, um monte de gente. 

Há 40 anos a gente descobriu um certo Ayrton Senna da Silva, que apareceu para o mundo com sua Toleman deixando todo mundo tonto. 

Ah sim, há 40 anos Mick Jagger estava no Brasil. Começava uma guerra fria dentro dos Rolling Stones que duraria alguns anos, até a volta apoteótica da banda no final dos anos 1980. 

Há 40 anos tinha o Canecão. Grandes shows a preços populares, era fácil para ir e voltar de ônibus. Tudo era mais tranquilo. Agora com os preços explosivos, o jeito é ficar vendo os festivais na televisão. E, claro, a qualidade das bandas caiu muito, mas justiça seja feita para não viver só de saudosismo: achei bem legal o show do Arcade Fire no Lollapalooza. 

Eis os 40 anos das multidões brasileiras nas ruas pedindo a volta à democracia, as Diretas Já. Um sonho que talvez até hoje a gente não tenha vivido direito. Tivemos bons momentos e outros, terríveis.

Senhor, como pode ter tanto tempo assim? Tudo foi outro dia, eu lembro dessas coisas todas com muita facilidade. Como podem ter escorrido 40 anos desse jeito? Bem disse o poeta: o tempo não para. 

Tubarões voadores de Copa

TUBARÕES VOADORES AMEAÇAM COPACABANA

Agência Estado Psicodélico 15/09/1988

Orley Maggalhaenz - da sucursal

RIO - Uma das cenas mais aterrorizantes dos últimos tempos foi testemunhada ontem por moradores de Copacabana. Diversos relatos dão conta de que, por volta das onze da noite, uma esquadrilha de tubarões voadores não apenas sobrevoou a Princesinha do Mar, mas também sentou praça na cavalaria do bairro que nunca dorme. 

O fenômeno tido como extraterrestre foi extremamente rápido, não passando de vinte e cinco minutos, mas suficiente para deixar a população local em pânico. No entanto, ao contrário do que se poderia imaginar, nenhum dos tubarões abocanhou ninguém, embora diversas ocorrências tenham sido registradas.

A peixaria do Posto Seis foi abalroada e teve sua vitrine quebrada, alguns peixes desapareceram. Dois toldos do bar e restaurante Transa, na esquina da rua Bolívar com a avenida Atlântica, foram rasgados. Moradores do famoso edifício Chopin, ao lado do Copacabana Palace, afirmaram que um tubarão lilás passou em voo rasante na altura do quinto andar e parecia dar uma gargalhada. E turistas do luxuoso hotel Le Meridien, na entrada do Leme, desceram imediatamente para a praia com máquinas fotográficas, mas um fenômeno desconhecido impediu os registros, conforme o depoimento da estudante portuguesa Maria Teresa Salgueiro, 20 anos, aos policiais: "Eles eram uns três ou quatro, fizeram piruetas e pareciam até sorrir. Quando preparei a máquina para fotografar e apontei para eles, uma grande nuvem de fumaça vermelha e preta nos sufocou. Caímos na areia e, quando nos levantamos, eles já tinham subido muito. Um era vermelho, o outro amarelo e os outros dois não me lembro".

O caso mais inacreditável foi contado por José Roberto, o Mussum, 25 anos, figura marcante do futebol de praia e das noites de Copacabana. Ele bebia um pacífico chope no restaurante Rondinella, na praia e esquina com Siqueira Campos quando, num súbito, viu uma grande barbatana e não teve como reagir: um tubarão roxo em poucos segundos roubou sua tulipa e evadiu-se em direção ao Atlântico Sul. Disse Mussum: "Aí mané, veio o tubarão cheio de pantominági (sic) e levou meu chope novinho. Safado! Sai dessa maresia, era só o que me faltava.". Também foi deixada uma enorme cartolina, com mais de três metros de comprimento onde se lia "Free Solana Star", nas imediações da trave do Juventus, na areia, em frente à rua Figueiredo Magalhães. 

No entanto, a passagem da esquadrilha de tubarões não causou exclusivamente medo. Na boate Bolero, famoso reduto da boemia copacabanense à beira-mar, Lady K, 23 anos, requisitada garota de programa, quase suspirou pela inusitada esquadrilha marítima: "Um deles era amarelo, tão bonito, parecia que estava com a camisa da Seleção. Passou aqui pertinho mas não entrou. Eu agarrava ele!". Para o jornaleiro local Mahmoud Avahskninkar, 47 anos, há suspeita de acerto de contas: "Cê acha que o verão da lata foi de graça? Os caras mandaram recado que querem a compensação do prejuízo". Houve quem nem ligasse, tal como a senhora Wanda Wildner, 75 anos bem vividos, segundo a própria: "Meu filho, esse bairro é um zoológico. Tem urubu, pavão, veado, piranha, pomba rola, jararaca, tudo na rua, e eu vou me preocupar com tubarão? Me chama quando o elefante e a girafa estiverem no botequim da Prado Júnior, ou na pracinha do Bairro Peixoto". Por fim, o veterano DJ Monsieur Limá, ícone do bairro, vaticinou: "São tubarões malandros, vieram onde tem muita gatinha". 

As ocorrências foram registradas na 12a DP. Na ausência do delegado titular, o experiente detetive Cler Bonelli garantiu a devida averiguação do insólito atentado extra-marinho em Copacabana. 


@pauloandel

Wednesday, March 20, 2024

Sobredeus

Há  anos, muita gente diz que eu carrego Deus comigo mas não nos encontramos. Eu não consigo vê-lo nos cheiros de rua triste e faminta, com gente se decompondo a céu aberto com seus corações nas mãos. Ele não existe. Talvez ele não exista. É um tema de profunda contradição. Justamente por isso, há indícios de Deus na prática humana. Por exemplo, nas artes. Deus não existe, mas quando Michael McDonald canta ele é uma expressão de Deus. O mesmo vale para as canções entoadas por Cartola - Deus não existe mas criou aquilo. Viva a contradição. Ausente, Deus está por todo canto: nos sopros de Pixinguinha, que se consagraram no salão nobre do Fluminense - cujo uniforme todo branco, hoje quase impossível, é também uma representação divina -; nas fotos de Sebastião Salgado, nos pianos de McCoy Tyner e Tom Jobim; na beleza dos sorrisos das atrizes Fernanda Vasconcellos e Nathalia Dill - esta em cartaz na TV atualmente, ajudando o mundo a ficar mais leve - ela me lembra Juliana em algo que não sei dizer, nem cabe agora. Alessandra? Não. Gabriella? Sim. Katia? Também.

Ao mesmo tempo em que descreio de Deus num mundo cheio de ódio, guerras e desilusão, ele se faz contradição e aparece em várias sessões da tarde, como num biscoito de polvilho nas mãos de um garotinho aprendendo a andar em Copacabana, ou de mãe e filha de mãos dadas num trem da Central a caminho do culto que lhes fará bem, distante dos pastores tubarões voadores que saqueiam a alma de pessoas boas e ingênuas. 

Inexistente, Deus insiste em seus indícios. Sem vê-lo, desconfiei muitas vezes dele na praia de Copacabana pela manhãzinha, deserta, ainda segura. E nos sábados à tarde no grupo de escoteiros nos anos 1980, quando éramos pobres e ricos juntos de verdade dividindo comida, canções e abraços nos acampamentos. Também desconfiei de Deus quando passei no vestibular, porque sabia que de certa forma ele garantiria a sobrevida da minha família, o que acabou acontecendo por vários anos, até que me tornei um viajante solitário, mesmo casado. 

Eu procuro e não encontro Deus nas lágrimas diárias dos familiares dos mortos pela violência, essa estupidez que nos corrói. Também não o encontrei no mundo corporativo por onde vivi quase trinta anos, cheio de mesquinharias e maledicências, mas me livrei daquele fel. Hoje sou um homem maduro, falido e infeliz à espera da morte, e tão contraditório quanto Deus, escrevo quase que diariamente, trabalho, produzo coisas que não dão dinheiro mas deixam as pessoas felizes. 

Por muitos anos, entre os 1980 e 1990, eu achei que Deus pudesse estar entre os silêncios e o vento de Arraial do Cabo, ainda com sua entrada a asfaltar, cheio de belezas de areia e mar, com ruas calmas. Não, não encontrei, mas tive momentos felizes por lá e beijos gloriosos. Tive risadas com amigos queridos, hoje desaparecidos pela tonelada de obrigações do dia a dia. 

Os amigos que vão embora são fruto da ausência de Deus, ou suas vindas representam a mão de Deus? Quem sabe dizer com razão absoluta, sem fanatismo? 

Tudo é contradição. Ao mesmo tempo em que estou muito mais próximo do fim do que do começo, sinto que o mesmo fim parece longe porque há muito a ser feito. Acho que dá. Será? Será que vamos conseguir vencer? Deus está num canto da sala cheia de entulho, livros e discos? 

Sinto dores mas tenho certa saúde. Sinto amores inúteis e tudo bem. Sinto que a minha cidade está cada vez mais opressora e excludente, mal o sol tendo raiado - e ainda bem que perderemos 12 graus nos próximos dias, porque ninguém aguenta mais derreter em vão. 

Não são nem cinco e meia mas sinto uma fome dos diabos. Daqui a pouco vou escrever sobre o Fluminense - time para o qual torço contra, segundo os mais desalinhados, porque não acredito que Fernando Diniz chegue à unha de Deus. Eu torço contra o time que me fez escrever 25 livros...

Agora estou um pouco tonto e posso cochilar a qualquer momento. Espero que a Marina esteja vindo bem para o trabalho. Espero que o mundo seja menos opressor para as pessoas, que as crianças não morram em Gaza e que todos os criminosos de guerra sejam punidos. Sonho com um sanduíche em breve. Em ter uma casa, em pagar as dúvidas e ter saúde para escrever mais livros. Tenho o sonho beat de alguns livros atrás, pois. E procuro por Deus em vão porque sei que essa é a única chance de reencontrar meus pais. 

Lá fora o azul do céu está mudando de tonalidade. Nada de novo debaixo do sol. Os primeiros banhistas começam a chegar à orla de Copacabana, imaginários ou não.  

(Livre inspiração sobre "Obrigado, Deus", de Ricardo Soares, originalmente publicado em todoprosa.blogspot.com)

Tuesday, March 12, 2024

No que eu estou pensando?

Todo dia, há anos, o Facebook me faz essa pergunta. Eu penso em muitas coisas, eu penso o tempo todo até me cansar. Boa parte do que eu penso não desperta o interesse de ninguém, ou quase ninguém. Eu fico muito tempo sozinho e praticamente só falo com as pessoas in loco na loja. Hoje não fui, só falei pela internet. Meu pé tava doendo demais, ainda está, então precisei faltar ao trabalho. Meu sócio cobriu. Então fiquei em casa, pensei em muitas coisas e por motivo justo algumas me deixam triste demais. Não é drama, mas tristeza mesmo. Engraçado que quando falo dessas coisas muita gente se irrita. Quando falo que estou triste, quem também está mas não quer admitir às vezes se irrita. A gente vive num país estranho: o egoísta não gosta de se reconhecer nem ser reconhecido como egoísta. Isso vale também para o hipócrita e o escr0t0. Falando o que sente, você fragiliza muita gente. Só um verdadeiro amigo respeita a tua verdade, mas eles são tão poucos, poucos... Enfim, o fato é que se você fala o que realmente está sentindo, muita gente se irrita porque está pior do que você, mas jamais admitirá. Sofrem em silêncio.

Monday, March 11, 2024

Vespertina

Era sexta-feira, quase três da tarde. Entrei no VLT com destino à Praça XV. Perto da estação Sete de Setembro, uma mulher começou a falar bem alto. Disse que achou o fiscal bem bonito. Ela tinha a voz de uma senhora, daquelas que chamamos "de pigarro". E falava alto, ninguém reagia. No ponto final saltamos todos, uns a caminho de Niterói, outros para Paquetá e Ilha. Eu fui para a loteria, apenas para tentar escapar da morte. Em certo momento ficamos bem perto, eu e a senhora, e então me dei conta da avaliação equivocada. Na verdade era uma mulher dez ou vinte anos mais jovem do que eu, mas carregando sob os ombros todo o sofrimento do mundo. Amputada completamente do braço esquerdo, carregava uma garrafinha de cachaça na mão direita e sorria com sua boca desdentada. Ao contrário de todos no VLT, ela não tinha um destino: estava apenas de passagem, vagando pelas vias de dor e indiferença. Cinco ou seis segundos depois, já havia desaparecido no horizonte. Uma jovem mulher preta, amputada, alcoólatra talvez por necessidade, vivendo o auge de sua tragédia em meio à mais completa indiferença, enquanto batalhões de estranhos vêm e vão. Num súbito, me bateu uma reflexão: se dependesse de algumas pessoas que conheço, e que incrivelmente dizem ser minhas amigas, se eu fosse a exata versão daquela mulher em chamas de sofrimento, elas não fariam absolutamente nada. Seguiriam indiferentes para seus rumos. São daquelas que não querem se envolver, que se despedem de gente sofrendo dizendo "fique bem" ou "se cuida", expressões clássicas da amizade sob distância regulamentar. Escrotas, enfim. Fui para a loteria tentar escapar da morte e salvar alguns colegas. Não consegui e morri. Como os problemas não param, hoje é dia de tentar a ressurreição antes que todo mundo acorde. É madrugada de segunda-feira. Vem aí uma semana de lutas. O Fluminense perdeu. Veremos novas famílias chorando pelos corpos de seus entes queridos no IML. Garotos esfomeados com suas caixinhas de Mentos tentando vendê-las para transeuntes do Centro. A concentração de renda será cada vez pior. Enquanto isso, aquela jovem mulher negra, curtida pela dor, amputada e sem casa, continuará a vagar sem rumo, às vezes gritando no VLT para que ninguém ouça, fazendo de sua vida trágica uma pequena expressão artística. 

@p.r. andel

Tuesday, March 05, 2024

S2C

Estamos em 2034. Scarlett Siqueira Campos é uma travesti cibernética que passa dias e noites fazendo antropologia de boteco pelas ruas de Copacabana. A Inteligência Artificial abre caminho para novas interações e interpretações dentro do bairro que nunca dorme. 

Pesquisando em antigas casas de saliência de Copacabana, Scarlett tenta mapear sua árvore genealógica mutante, buscando compreender sua criação, como foi concebida e se carrega vestígios humanos alem de sua aparência física. 

Bela, ambígua, multissex e misteriosa, Scarlett transita nas altas rodas de Copacabana, nas baixas, no underground e na segurança. Habitué nas delegacias do bairro, sempre alerta para todas as possibilidades, ela tem muitos amigos nas instituições de Copa. Uma de suas fieira é Lady Miss Kler, uma sagaz policial trans aposentada que agora mora no Riachuelo, mas está sempre presente nos babados de Copacabana, gozando firme seus polpudos proventos previdenciários e outras rendas de negocinhos alternativos.

As águas de março vão trazer novos paradigmas socioculturais para os embates cotidianos do bairro. Scarlett tem a missão de mapear todas as intervenções possíveis na balzaquiana Princesinha do Mar, emitindo relatórios transatlânticos e transcendentais,  encaminhando-os para as autoridades competentes de ocasião. 

@p.r. andel

Lancheira

À época eu não tinha a menor ideia, mas uma das melhores coisas de todos os tempos era pegar a malinha com olho de gato, a lancheira e ir para a escola. 

Infelizmente, ainda é uma experiência pouco comum para a criançada brasileira. Está tudo errado e não terei tempo de ver a correção. 

Lembro perfeitamente da alegria que eu sentia na hora do lanche. Um sanduíche qualquer, um refresco e tudo bem. 

O grande problema era tirar notas altas. Só depois a gente entende o que é a vida.

Monday, March 04, 2024

Bichos

Se eu pudesse voltar no tempo, trabalharia com bichos. Não sei se toparia vê-los sofrer, mas cada vez mais o mundo só faz sentido por causa de crianças e bichos.

Durante certo tempo na infância eu tinha medo de cachorro, o bicho oficial de Copacabana. Eu era pequenininho, estava na praia, um cachorrão grandão veio e me derrubou, pulou em cima de mim. Ele era grandão e fiquei com medo. Isso durou até a adolescência e passou.  Bem antes disso, tinha a Diana, cachorrinha pequinesa da minha mãe que ela deu para uma amiga quando nasci. Toda vez que visitávamos a amiga, a Diana vinha correndo e não saía do pé da minha mãe. Que saudade. 

Tive um amigo de escola que há muito não vejo. Ele tinha vários bichos em casa: passarinho, papagaio, cachorro, gato e jabuti. Ri muito no dia em que o papagaio estava tomando banho de gotinha no tanque de roupas. 

Quando fui escoteiro (há quem diga que ninguém deixa de ser), me deparei com vários bichos. A vaca era sempre a mais legal, às vezes micos, às vezes lagartos ou uma cobra sinistra. A vaca fica na dela, vai lá, muge, volta, faz seu rango natural e anda lentamente. Enfim, era uma vida maravilhosa de garoto, natureza, silêncios, paz. Nunca mais acampei, mas lembro como se fosse ontem. 

Meu ex-vizinho tinha um jabuti e um cachorrão bem grandão que gostava de mim. O jabuti às vezes andava no corredor, era um barato. O cachorrão já latia quando o elevador estava no sétimo andar: ele me reconhecia de longe. 

Outro dia fomos em Paquetá, na Casa de José Bonifácio. Tinha outro jabuti, caminhando numa boa, rangando folhas do chão, arrancando com força a cada bocada. Uma alegria. 

Quando minha mãe deu a Diana, tempos depois morreu um papagaio lá em casa: a funcionária o detestava e o deixou no sol. O coitado morreu estorricado. Minha mãe chorou muito e nunca mais quis ter um bicho de estimação para não sofrer. Tempos antes de sua morte, falávamos de ter um passarinho, mas era muito cruel tê-lo numa gaiola. Ela foi embora e fiquei só para sempre. Aqui em casa é tudo bagunçado, não dá pra ter um cachorro ou um gato, e eu não aguento mais perder ninguém. 

Os cachorros da Kátia, o Antônio e o Cesare, eram sensacionais. Gostavam muito de mim. Convivemos bem entre 2007 e 2010. 

Sendo prático, só preciso do dinheiro que me permita sobreviver nessa terra injusta até a hora da partida. Tirando o aluguel, minha vida é muito barata, não tenho bens, não tenho nada. Mas eu gostaria de ser rico se fosse para também ajudar muita gente, planejar algo. E para ter uma fazenda bem grande, onde pudesse ter meu elefante e meu hipopótamo. Acho os dois muito legais. Gosto de ver no programa de TV a solidariedade dos elefantes. E acho muito maneiro quando limpam a orelha deles com um super cotonete de algodão. Peixe também é muito legal. 

Sei lá, trabalhar num pet shop, ter sido veterinário ou feito Zootecnia. Ou até levar os bichos para dar uma volta. Gosto deles. Gosto muito. Até a aranha do banheiro eu evito incomodar quando ela desce pela teia no frio azulejo branco. E a formiga? Pequenininha da Silva. Ser formiga é muito difícil: você pode ser assassinado o tempo inteiro por qualquer coisa. 

Queria poder cuidar dos bichos. 

Eu seria feliz.

(originalmente publicado em setembro de 2019)

Saudades da graça

Lá pelos tempos de oitenta e nove, coisa de uns dezessete anos, eu era apenas um rapaz latino-americano, sem parentes importantes e nativo da Nova York brasileira, Copacabana. Uma década antes, eu gargalhava sozinho ao ler os textos de Ivan Lessa no então vivo Pasquim, e sentia-me chateado porque nenhum outro amigo sabia sequer do que eu ria com o jornal de “oposição”, assim falavam. Adorava os palavrões, os insultos aos leitores, tudo coisas que eu não tinha a plena noção, assim como a de que Ivan é um gênio e que, se um dia eu aprender a escrever direito, devo tudo a ele, velho Ivan.


Volto aos oitenta, quase noventa. Uma dureza danada, começo de faculdade, pai contra, dificuldades. Houve um dia em que paralisaram a faculdade, voltei para casa, perto de nove da manhã, resolvi caminhar pela beira do mar em dia nublado. Desci a Figueiredo velha de guerra, rumo ao Sumol, esquina com Barata Ribeiro, Varese em frente, lanchódromo do bairro ao lado de próceres como o Gordon e o popular Cervantes. Provavelmente Ferôncio e Luiz estariam jogando bola, Rubinho ao menos. Antes de pedir meu tradicional eggcheeseburger, vi um carro parado, não sei se uma Brasília, daquelas que os Mamonas iriam imortalizar anos depois. Fato era o de ser um carro da antiga. Quando olho para o motorista, me vem uma sonora gargalhada, uma seqüência delas – o interlocutor, melhor, interobservador retrucou-me com risos idem, e não trocamos uma palavra, até que o carro partiu e eu cheguei ao balcão para pedir o sanduíche.

Era Bussunda.

Não se tratava de uma celebridade televisiva, mas já tinha seu fan club. Ano antes, tinham feito um show histórico no Circo Voador, em campanha para o macaco Tião, hóspede do zoológico e candidato informal a prefeito que conseguiu medalha de prata no pleito – Xuru foi ao show e fez campanha para o Macaco Tião; adorava contar que Bussunda tinha sido jurado em um concurso do qual ele, Xuru, tinha participando como...vocalista da Troncomóvel Band. Redator de um programa de tevê que tinha acabado de alcançar índices alarmantes de audiência, a TV Pirata. Engraçadíssimo, pois. Escrevia também numa revista sensacional, a Casseta Popular, que fez – merecidamente - gato e sapato de Collor. Vendiam camisetas com deboche e cartuns marcantes, frases, comprei duas para Alessandra e uma para Klein.

Tempos depois, fizeram outro show hilário no Teatro Ipanema, todos vestidos de Leopardos, Luizinho me chamou para ir. Bussunda, em certo momento, causava alvoroço de risos na platéia – imitava simplesmente Deus numa parte da peça, caminhando por entre os expectadores, com seu sorriso ímpar, sem dizer uma só palavra.

Universidade do Estado, 1991. Show de Oswaldo Montenegro para a TVE, beta-boca com um aluno, OM irou-se, referência ao fato de Bussunda ter comentado no Salão Carioca de Humor, na Santa Úrsula, que o “Museu do Babaca” ia ser inaugurado no Casseta Shopping Show, simpático bar da rua Paulino Fernandes...com um móbile em tamanho natural do trovador citado, na porta.

Com o passar dos tempos, a turba toda se reuniu, a Casseta Popular, o Planeta Diário – maravilhoso, com suas manchetes surreais. Livros, discos, programa em horário nobre, virou indústria das boas. Fiquei sabendo que alguns dos membros da turma foram estagiários do Pasquim – e conseqüentemente, do Ivan, que muito inspira muito do que fizeram de melhor.

Os veteranos da Uerj que divertiram-se a valer nos folguedos e eventos promovidos pelo alto clero estudantil do Instituto de Matemática deve, em algum momento, ter percebido a influência Bussundiana no grupo. Tivemos um grupo de humoristas famoso por lá, hoje finado, chamado Cecrime e que nada tinha a ver com crime, só com gargalhadas.

Não gostei quando Bussunda resolveu distratar o Fluminense em suas crônicas esportivas – ressalte-se, eu e uns dois milhões de torcedores que muito o xingaram. Pediu desculpas: era craque, percebeu que o humor tinha extrapolado a conta. A vida seguiu, sem mágoas. Bem disse Rinus Michels, também desaparecido, que era e é, sempre, somente mais um jogo de futebol. Enquanto isso, os Cassetas fizeram as turbas rirem e rirem.

Vem uma bobagem e splaft! Tira o Bussunda do caminho. Muito antes dos acréscimos do árbitro. Errradamente. Esse negócio do grande palhaço, do humorista, morrer antes da hora, dá um gosto de cabo de guarda-chuva danado. Parece que a festa não vai ter vela soprada porque o aniversariante não veio.

Eu, sabe-se lá porque, recentemente voltei a ver os Cassetas antes do outro programa de terça, que considero muito bom, coisa deste ano. Dia desses, vi um quadro divertido e fiquei recordando, meus flashbacks imaginários na cachola, dos tempos do Casseta Shopping Show. Tempos do Collor, quando achávamos que a coisa ia dar certo, pobres de nós....Tempos da faculdade, que voam ligeiros e não deixam rastros. Tempos da Alessandra e da Klein.

Luizinho foi embora. Xuru, idem. Cecrime, ausente. Bussunda também.

O Sumol já não é mais o mesmo. Não posso ir mais à praia de manhã. Não tem mais nenhum motorista gargalhando na esquina.

Tenho saudades da graça.

(originalmente publicado em julho de 2006)

Sunday, March 03, 2024

3 x 4, LAPA, 5AM

(Até quando esperar?)

Estamos nos últimos minutos do primeiro sábado de março, devidamente esticado para a alvorada de domingo. 

Quatro quintos da multidão já deram o fora, mas os 20% restantes querem mais uma dose, um tapa, um alívio da alma. 

Duas travestis lancham cachorro quente numa barraca bem aos pés dos Arcos da Lapa. 

Jovens multissex dividem mesas nos bares ainda abertos na primeira quadra da Mem de Sá.

Apesar do cuidado sempre necessário, agora há pouquíssimos meliantes na região. É que eles também se cansam e dormem. Alguns fizeram suas férias com o produto predileto: smartphones.

Quase na esquina com a Gomes Freire, um veterano traficante sempre alerta espera pelos últimos clientes, e também tem poucos narcóticos. Com o início do mês, a clientela chegou junto. 

Carros particulares e táxis carregam os lapeiros para seus destinos. A exceção fica por conta da população em situação de rua: estão entregues ao deus dará de sempre. Quase ninguém liga. 

Um transeunte perto do Nova Capela espia suas mensagens de WhatsApp e percebe que só recebeu bobagens, então estica o braço direito e pede um carro amarelinho, louco para se mandar. 

[Onde estão as lindas piranhas que nos fazem sonhar? 

Um garotinho negro, com suas roupas humildes e caixa de engraxate, conta os trocados que levará para casa e então ajudar nas despesas da mãe. Um gesto de honradez vindo de quem deveria ter dias de liberdade e alegria, mas que só tem uma luta gigantesca. 

Na próxima quadra fica o aterrorizante esqueleto do Instituto Médico-Legal. Há um clima sombrio, um cheiro de morte. O poder público não se mexe para mudar o cenário. É sempre assim. Vamos às ruas buscar drogas legais e ilegais para aliviar nosso dia a dia. 

Perto da Cruz Vermelha, uma senhorinha passa com seu cachorro, tentando não atrapalhar o sono desmaiado e sofrido das calçadas.

Agora é domingo. Poucos acordam para as compras de padaria, muitos vão para o sono da madrugada, outros permanecem insones de tanto stress. 

Vai ter clássico no Maracanã, mas virou amistoso para cumprimento de tabela. 

Um amigo será enterrado. 

@p. r. andel