Sunday, January 14, 2024

Fred, my friend

Fred teria feito 57 anos hoje. Foi meu primeiro amigo regular, daqueles de ver quase todo dia. Ficamos amigos na escola, eu tinha nove anos e ele ia fazer 11. 

Desde criança, ele odiava sair de casa e, por isso, todos nos reuníamos lá. Ouvíamos rock, jogávamos botão, vimos Flavio Cavalcanti, "Grande sertão: veredas", vimos o Kiss no Maracanã. Entre 1977 e 1992, sua casa foi uma espécie de laboratório intelectual, artístico e sentimental da nossa turma. Fomos felizes para sempre por quinze anos, era uma turma da pesada. Ah, fomos escoteiros também. Ah, jogávamos bola na praia também. Jogávamos cartas, ouvíamos discos, quase sempre ríamos muito, embora hoje eu pense que, de algum jeito, o nosso grupo carregasse uma pequena melancolia típica do nosso tempo: precisávamos estudar, trabalhar, progredir, tudo isso sem as ferramentas necessárias. 

Quando ele se mudou de seu ótimo apartamento no Bloco F do Shopping dos Antiquários, vivemos uma diáspora por quase dez anos e nos reencontramos lentamente, às vezes, a partir de 2003 - eu tinha sido expulso de Copacabana, tudo era muito diferente de hoje - mal tínhamos telefone. Tudo mudou no dia em que minha mãe morreu em 2007, se é que isso realmente aconteceu: voltamos a nos falar diariamente, passei a visitá-lo semanalmente em Copacabana. Tudo era diferente dos anos 1980 e 1990, mas o velho espírito da nossa amizade estava lá. Quando perdi minha família e o Xuru, achei que ele ia ser meu ponto de apoio mas não deu: ele morreria rapidamente em abril de 2009. Foi enterrado no dia do aniversário de meu pai, 17. E quando voltei do enterro, arrasado, para o escritório onde trabalhava, soube que Cler tinha encontrado o corpo de nosso amigo Alex, no Jardim Botânico. Foi um dia bem difícil. 

Sempre tivemos muitos pontos em comum, outros bastante divergentes, mas conseguimos algo raro nessa terra: fomos amigos de verdade. Mesmo. Ele faz muita falta agora. Chamava minha mãe de tia e foi a primeira pessoa a me acudir quando meu pai morreu. Escrevi um livro inteiro sobre o tempo de nosso convívio, joguei fora mas farei outro: estava pesado demais, não à altura devida do sujeito divertido que ele era. 

Fred faz muita falta. Na sala de sua casa vivi vários momentos divertidos de minha vida, alguns dos melhores. Em momentos onde tudo parece perdido, ele chegaria de alguma forma só para dar uma força. Nós nos ajudamos em momentos cruciais, quando um só podia contar com o outro. Um nunca deixou o outro na mão.

Muita falta.

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