02/2022
Cai a noite no coração da melancólica Guanabara, que perdeu até suas papelarias tão encantadoras para o poeta Carlito Azevedo.
A Leiteria Mineira quase sucumbiu mas resistiu, para a alegria do cineasta Luiz Carlos Lacerda.
O Copacabana Palace abre suas portas para uma noite de latin jazz, bem perto do Beco das Garrafas, palco de histórias da arte.
E eu escuto Albert Ayler, vejo Leandra Leal na TV em silêncio e penso nas derrotas do dia.
Um garoto preto pobre preso com um pacote de mão e uma camisa do Flamengo.
Um garoto triste e sofrido dormindo na estação Sete de Setembro do VLT.
Olho para o WhatsApp e leio as falas cínicas de um homem de Deus.
Que ora, jejua, sobe montes e mente também.
Troco Ayler por Prince e lamento sua morte tão precoce.
Lendo Ruy Castro e Assunção, apoiando o embate.
A linda baiana Emily há muito se foi da vizinhança.
E Dona Marina está longe, bem longe em Paciência.
Então revejo haicais do poeta Jocemar Barros e cartões postais de Ana Klein também.
Onde está Keith Jarrett? Onde está Joe Jackson? Onde está Ben Harper? O mago Wayne Shorter se recolhe muito bem.
Penso no pré-sal que roubaram do povo triste e usaram em bel prazer.
Os hipócritas são felizes demais e não se importam com o mal que criam.
Eu quero a baleia do Parque Peter Pan de volta ou pelo menos a minha prancha de isopor para turistas.
Eu quero meus doze ou quinze anos de idade numa terra com bem menos ódio.
Eu quero o fim das guerras, da escrotidão contemporânea.
O maestro Gerald Thomas redime minhas tardes com seu contrabaixo arisco.
E penso em gente amontoada debaixo de marquises vizinhas.
Choro pela minha pátria mãe em prantos diante de tanta covardia.
O poeta Allen Ginsberg ainda está vivo por sua obra tão devastadora.
Deus não está desatento dos pastores covardes, nem pretende baixar na esquina.
A TV num súbito encerra a série e pouco se tem a dizer de Leandra tão linda.
@pauloandel
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