Saturday, November 18, 2023

Orla

Antigamente eu gostava de ir à praia, bem cedinho feito agora. Dava para ouvir todos os sons do mar, se refrescar e experimentar a doce solidão diante da natureza. Ainda gosto da praia, meu problema é com o calor enlouquecedor, com queimar a pele e me sentir bem mal. Não consigo mais, mas adorava. 

O mar é apaixonante, a praia também, mas prefiro sem sol. Pra mim, claro: eu sei que quase todos querem se queimar e compreendo. Só não serve pra mim. Mas tenho saudade daquele silêncio matinal de Copacabana, com quase ninguém na areia, a água geladíssima que parecia energizada. Já gostava disso com 13 anos de idade, sempre fui meio off de algum jeito. 

Depois, a corrida. Demorei a gostar e praticar, mas quando gostei... Eu praticava vários esportes com bola e achava suficiente, mas as cobranças da adolescência vieram e eu precisava ser menos gordinho para atender às exigências de não sei quem. Rapidamente perdi 15 kg e comecei a treinar feito um louco. O futebol é uma parte muito importante da minha vida, maravilhosa, mas posso dizer que alguns dos meus melhores momentos no esporte foram correndo. E quando você treina vendo o Oceano Atlântico, tudo melhora. Naquele tempo eu tinha recomeçado a faculdade: corria, tomava banho, pegava o ônibus e chegava na aula a 300 km/h. O pessoal ficava atônito comigo. 

Foi uma pena que minha vida de atleta tenha se encerrado tão cedo por problemas de saúde. É uma das poucas coisas que realmente lamento, mas sinceramente eu não mexeria no roteiro original. Foi o que tinha que ser. All things must pass. A tristeza foi sendo trocada aos poucos pela observação e eu, que já gostava muito de música, mergulhei em outros interesses artísticos até que anos depois assumi a persona de escritor, poeta, cronista ou talvez isso tudo junto. A corrida e os livros cairiam muito bem juntos, mas de longe eu continuo a espiar os trajetos solitários de homens e mulheres com seus tênis e disposição. 

Nem são sete horas da manhã de sábado. Há quarenta anos, eu já teria passado pela padaria, traçado um pão de queijo e estaria a caminho do mar de Copacabana, preferencialmente na Figueiredo Magalhães ou no Posto Seis. Agora, não: é só um calor enorme, banho frio, Renitec, ventilador e a (ainda) estranha  sensação de ter acabado meus dois livros, prontos e a caminho da gráfica. Pensando bem, outras coisas também mudaram pra pior mas deixa pra lá: não se pode ganhar todas. 

Relembrando o futebol: partidaços na areia, campo do Juventus ou Bairro Peixoto. Disputas de dupla de praia à noite, golzinho, de fora. Cobranças de falta, de escanteio. A bola se espatifando no travessão. O voo solitário do goleiro. 

Que muitos tenham um bom sábado. A maioria não terá porque sofre naturalmente. Isso é a vida. Vida. 


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