Sunday, September 24, 2023

FIGUEIREDO MAGALHÃES, 00:47H, PRIMAVERA DE 1989

[A praia está vazia e silenciosa, algo incomum para a madrugada do fim de semana. Geralmente vem o pessoal de outros bairros e, claro, os turistas. 

Não tem mais ninguém na rede de vôlei. Futevôlei. No campo de areia, nem pensar. 

Estranho. 

[Na esquina de Figueiredo com Domingos Ferreira tem sempre uma galera dormindo na rua. São uns dez. Não mexem com morador, mas se sacarem outra procedência vai dar zebra

[Na quadra seguinte, do outro lado da rua, tem as duas drogarias e, numa delas, o letreiro tem o Pepe Corta-Zeros. Um pequeno símbolo da rua. 

No prédio da esquina moram Marcelo e Hermínio. Talvez no quarto andar. Bem, não é uma esquina qualquer, mas a mais barulhenta do mundo. Dizem que até entrou para o Guiness. 

Se você atravessar a Avenida Copacabana e utilizar a primeira entrada, perto da mitológica Galeria Ritz, cujo terreno já abrigou a fantástica faquiresa Suzy King - que o poeta e cineasta Luiz Carlos Lacerda, menor de idade, espiava pela fresta da porta -, vai adentrar as Lojas Americanas, paraíso das crianças com suas balas e brinquedos. A loja tem formato de L e você pode sair pela Figueiredo Magalhães, onde não encontrará mais vestígios da lanchonete de rua - que vendia cachorro quente e refresco de côco no copo de cone -, apenas a sorveteria Akay do outro lado da rua, bem em frente, que tem um misto quente imperdível: pão crocante, queijo derretendo e fatias finas de bom presunto. 

Cine Condor, dentro da galeria. Minha amiga Katia morava ali. São mais de 800 lugares no ótimo cinema refrigerado. Tenho visto muitos filmes, exceto "Psicose" - dormi e depois explico o motivo.

Ainda poderia voltar à esquina anterior, a mais barulhenta do planeta, bem na diagonal do prédio do Hermínio. Casa Nelson, roupas finas para senhores exigentes - especialmente para quem não quer sair do armário, se é me entendem.

[Figueiredo e Barata Ribeiro é Varese, loja esportiva. Lindos e caros botões, tênis fascinantes, artigos de primeira. A vitrine é uma beleza. E é também Sumol, lanchonete querida do bairro que aguenta o tranco até três da manhã. Salada de frango, belo bife de hamburger da casa, grandes sucos e a maravilhosa fatia de pizza muçarela, verdadeira salvação depois dos jogos noturnos no Maracanã. Ai, Jesus!  

Ainda o futebol. Passando pelo Sumol (alguns chamam por a Sumol), tem a Kayat Esportes, outra loja de artigos esportivos que faz a festa da garotada: vende escudos bordados, números de camisa que se prende com ferro de passar e bolas, bolas, maravilhosas bolas de futebol. 

Na esquina da Edmundo Lins incrivelmente não tem ninguém. É um dos alvoroços de Copacabana por causa da turma que ali convive, pessoal da praia, das lutas e da noite. Uns trinta garotos ou mais. Eles são a GEL e a sigla é óbvia: Galera da Edmundo Lins. 

Esquina de Figueiredo com Toneleiro, resta o único estabelecimento aberto da quadra, o velho botequim pé-sujo sem letreiro, onde os últimos boêmios tomam goles de cerveja e cachaça, afogando mágoas e melancolias. Mas não por muito tempo: uma das portas já foi baixada e em pouco tempo só restará um único bem, raro em Copacabana e na rua Figueiredo Magalhães mesmo de madrugada - o silêncio.

@p.r.andel

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