Wednesday, August 30, 2023

Fragmentos sobre Copacabana II

[Perto da meia noite de sexta-feira, jovens do bairro deixam o Edifício Pampeiro na Rua Toneleiro rumo às Casas da Banha, esquina de Siqueira Campos com Barata Ribeiro. Interromperam um campeonato de botão para comprar lanche - os jogos vão até às três da manhã. No tradicional supermercado 24 horas, compram pão, frios e refrigerante. Depois voltam, fazem sanduíches e se divertem a valer enquanto os craques redondos dominam o campo de compensado. 

[Perto da meia noite de sexta-feira, o Bar Sniff's está prestes a cerrar suas portas. Alguns boêmios ainda bebem o último copo de cerveja, tanto próceres locais como Fred, Paulinho Cana e Márcio Pô quanto celebridades como o jornalista Arthur Laranjeira, nome fundamental na produção de shows da Tropicália no Teatro Teresa Raquel, o "Teresão". 

[Perto da meia noite de sexta-feira, os últimos craques da pelota deixam a praia e encerram a jornada de futebol do dia. Tudo recomeça no dia seguinte porque o futebol é sagrado e não tem fim. Descem a Figueiredo Magalhães de ponta a ponta. Alguns entram na Siqueira e sobem Tabajaras. O morro e o asfalto sempre fazem tabelinhas na dupla de praia e no futevôlei de Copacabana. 

[Uma jovem mulher no esplendor de sua forma está deitada na cama, com a luz acima, vestindo apenas uma calcinha preta, tudo perto do Bairro Peixoto. A beleza de seu corpo nem sempre pode ser vista seis ou sete andares acima, mas um grupo de adolescentes se espreme na janela da sala para admirá-la ou, de longe, sonhar com a admiração. Desejar a juventude de sua pele alva e fresca, sua beleza diante do charme do mundo, seu futuro que tanto promete. Perto da força de uma jovem mulher, os jovens homens não passam de súditos indefesos. 

[Num outro boteco do Shopping dos Antiquários, o compositor Billy Blanco bate papo com outros frequentadores, alguns do estilo low profile. 

[De longe, um forte cheiro de éter denuncia a chegada de um dos maiores enigmas de Copacabana: Mister Éter, morador em situação de rua na esquina de Constante Ramos com Barata Ribeiro. Dono de um corpanzil de quase dois metros com 150 quilos, Mister Éter anda pelo bairro sem pedir esmolas, apenas cachaça pelos botequins. Talvez o segredo de sua longevidade numa vida tão sofrida esteja nisso mesmo: os botecos não lhe dão cachaça, mas sim doses de água. O sabor não importa: ele sempre traga e faz um ahhhhh de satisfeito com a purinha, que só existe em seu pensamento. 

@pauloandel

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