Publicado por aí, um pretenso intelectual com infinitamente mais likes e dinheiro do que eu decretou: a crônica morrerá. E todo pretenso intelectual com muitos likes e dinheiro é louvado por sua corte a qualquer manifestação, mesmo que ela se pareça por exemplo com um flato.
Para o dito cujo, não há mais tempo a se perder com o gênero essencialmente brasileiro.
Há muito tempo, li e ouvi sobre o fim do rádio. Depois, o fim do jornal, das revistas, dos livros, agora da crônica e também da televisão. Ok, o mundo muda muito, mas não a ponto de desintegrar certas coisas.
Comecei a escrever para mim mesmo, há 40 anos. Ninguém leu, eu tinha vergonha do que escrevia e joguei tudo fora. Assim fiquei até 1993, com 25 anos, quando passei a colaborar com o jornal da faculdade e recebi elogios de colegas que hoje nem sabem da minha existência - ou seja, as palavras foram sinceras. Poucos anos depois, um escritor premiado internacionalmente me convidou para colaborar em sua revista. Comemorei como se tivesse feito um gol no Maracanã e nunca enviei nada, por vergonha. Essa tolice me custou uma década até ser finalmente publicado em 2010 e, sete anos depois, também fora do futebol.
Publiquei alguns livros lidos por milhares de pessoas e outros que ninguém leu. Continuei pobre. Tenho uma vida de sofrimentos. Contudo, escrever é meu oxigênio. Por isso, meu nome está na autoria e coautoria de mais de 40 livros. Gosto de todos, especialmente os menos lidos. Semanalmente escrevo em blogs, sites e num jornal de grande circulação no Rio.
Por que eu deveria parar de escrever, fazendo o que sei? Por que eu mesmo deveria sabotar uma das únicas alegrias da minha vida?
Escrevo, não obrigo ninguém a ler. É uma experiência voluntária de quem se interessa pelo meu trabalho. Tirando alguns livros, as pessoas leem meus escritos gratuitamente. Hoje, mais do que meu prazer, é praticamente uma tentativa de sobrevivência nesse mundo injusto, cruel e opressor.
A internet é um dos grandes inventos da história. Graças a ela, muitos escritores puderam ser descobertos e lidos, pessoas se aproximaram e interagiram, tanta coisa boa aconteceu, não há o menor sentido em se acreditar no fim da crônica. Ela viverá, porque conta as pequenas histórias de tudo que vivemos, mesmo quando já não estivermos mais aqui.
Simples ou profunda, divertida ou pesada, apaixonada ou fria, esperançosa ou cética, a crônica veio para ficar. Pode não chegar mais a milhões ou centenas de milhares, mas terá o que dizer mesmo que para um só leitor. É o que basta.
@pauloandel
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