Meio de março, águas a caminho, as duas prorrogações do Carnaval com seus super blocos já se foram, o verão começa a dar adeus.
A proximidade do outono parece trazer uma espécie de volta à realidade.
Você liga o jornal e a violência é cada vez mais intensa, não apenas dos grupos criminosos de sempre, mas do delinquente ocasional - aquele que nunca roubou uma tampinha de caneta e, de repente, mata alguém. Uma mulher busca uma faca e mata o namorado por ciúmes. Um monstro enche um garotinho de porradas, porque teria maltratado seu cachorro pitbull.
No Riachuelo, tradicional e esquecido bairro carioca, falta água no verão. As pessoas pagam as contas mas são humilhadas e ficam impotentes. Riachuelo, Sampaio, Rocha, Quintino, Água Santa, cheios de gente e problemas, mas completamente desprezados pelos poderes públicos. Geralmente são visitados em época eleitoral, candidatos em busca de votos e só. No fim, as pessoas são muito humilhadas.
Enquanto as zonas norte e oeste vivem o ocaso e o desprezo, a zona sul experimenta a miséria nas ruas como raras vezes se viu. Catete, Flamengo, Botafogo e Copacabana vivem a incoerência de prédios com PIB expressivo abrigando a indigência debaixo de suas marquises garbosas. Famílias inteiras choram e passam fome, mas o dar de ombros é a regra. Há quem lamente que a Covid-19 tenha matado "apenas" um ou dois milhões de pessoas.
Hoje Antônio Pedro será enterrado e, com ele, vai-se muito do riso carioca que alegrou nossos cinemas, teatros e o imaginário dos velhos botequins. A boemia que, aos poucos, fomos trocando pelo comodismo dos áudios no WhatsApp - porque escrever cansa.
Segunda no Rio, céu de gris, melancolia.
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