Friday, February 17, 2023

números

No fim, somos números e só. Com riqueza, importantes; insignificantes sem ela. Número do registro, número da identidade, número da matrícula, número da carteira de trabalho, da conta corrente, do contracheque. Número da casa, do prédio, do apartamento. Com sorte, número da aposentadoria. Sem sorte, talvez sem números, exceto o da geladeira do IML. A lápide tem um número, o último. Em meio a isso tudo, números de vaivém, de sucesso para poucos - mas o que é o sucesso, afinal? - e de anonimato para muitos. 

Eu sempre gostei de números desde criança, mas não queria ser um número. Eu preferia ser uma pessoa, um cidadão, um ser humano tratado com dignidade, mas a sociedade e o estado fazem tudo para me oprimir e humilhar a ponto de eu não passar de um número, desprezível, descartável, absolutamente desimportante. 

Eu preferia ser um cachorro bem tratado  numa família, ou um gato ou um passarinho, apesar da gaiola - que é opressora, mas nesse mundo de ruindade pode até ser bom negócio como residência. Bom mesmo deve ser morar nesse novo parque do Rio. Mas não, sou um número. E se eu me tornar zero ou infinito logo mais, para essa máquina de moer gente não faz a menor diferença. Troca-se um número por outro com grande facilidade. E alguém se importa com um número descartado? Somou, diminuiu, trocou, tchau e bênção. 

O próximo número, por favor.

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