Friday, December 23, 2022

Desencontro

Tudo passa rápido demais. Dia desses, por acaso, reencontrei meu querido amigo Leo depois de muitos e muitos anos, no Santos Dumont num domingo de manhã. Algo absolutamente improvável, mas acontecido porque fui encontrar meu outro amigo, Eric, no aeroporto. 

Leo jogou botão comigo no Estrelão. Curtimos o nascimento do grande Fluminense de 1980. Estudamos juntos por três anos no colégio e, anos mais tarde, na UERJ. 

Não sei ao certo o motivo, mas para mim Leo, Augusto, Luis e Jorge Pinto conhecem todas as pessoas do mundo, especialmente as que conheci lá longe e que a vida acabou afastando - talvez, no fundo, esta seja a sina de todos nós: navegarmos sozinhos, mesmo cercados de gente - a solidão é oxigênio, puro ou poluído. Então fiz algo raro: fui ao perfil do Leo para procurar o André. Nem sei se eram amigos, mas o Leo podia saber porque conhece todo mundo. Ah, sim, o André (Cabeça) não era meu amigo próximo, mas conhecido da rua, da praia, do Bairro Peixoto. Tive curiosidade em saber. Aqueles ícones particulares de Copacabana que só nós, eternos moradores e exilados, sabemos que existem. 

Foi justamente quando me deparei com o perfil de outro André, o irmão mais da Daniela, que estudou comigo e com Leo da quarta à sexta série, e que me lembro que era um amor de garota, educada, doce, daquela cheia de grandes notas. Eu nunca mais a vi e mantive essa imagem em minha memória de menino. Queria ter passado mais tempo com eles, mas perdi a bolsa de estudos na escola e tive que sair - até hoje não me conformo e, sinceramente, desconfio de que tenha sido uma nota plantada com o único intuito de retirar a bolsa (e que pode ter me estimulado a me formar em Estatística e estudar mais dois anos de Matemática...). Enfim, a Daniela era um doce e eu nunca mais a vi, mas eu lembrava do André, seu irmão, que  sempre me cumprimentava simpaticamente na rua, até que fui demitido de Copacabana em 1993 e até hoje acuso o nocaute. 

Olhei o perfil e tomei um susto: André, que era mais novo do que eu, faleceu há três anos. Desci o cursor e vi as palavras generosas de sua esposa e amigos, confirmando tudo que ele era em nossos tempos de criança. Muitos elogios pessoais e profissionais. Fiquei pensando naquela efêmera ligação do passado, em como foi sua bela trajetória por aqui e, diante da tristeza por sua passagem precoce, ao menos pude me solidarizar em pensamento com os que o queriam tão bem. 

Às vezes tenho medo dessa busca que realizei quase involuntariamente. Quando você fica muito tempo sem ver alguém, pode ter decepções terríveis. Lembro outro dia de uma conversa com meu amigo e ídolo Carlos Lopes, quando falamos de pessoas próximas a nós que enveredaram pelo crime. Mas no caso do André a decepção foi mesmo por sua juventude abatida em pleno voo. Ainda me lembro dele na Toneleiro dando oi e rindo, dando tchau e rindo. 

Eu, que estou fora de órbita no planeta Terra às vésperas do Natal, espero que o André esteja bem em algum lugar que não sei dizer. Ele, Fred, Luiz Magno, Valério, a irmã do Jorge, o irmão do Conde, acho que o Ciley também, todos vizinhos de duas quadras, muitos que se conheceram ou não, todos tijolinhos das lembranças da minha infância, juventude, vida e, quem sabe?, fé. 

Ao mesmo tempo, me lembro de Simonard ontem lá no Sebo X, quando conversávamos com o Marcelo Lessa: "É assim. Todo mundo morre. Passa". Tudo é efêmero demais, porém creio que, como em alguns dos casos acima, o inevitável tenha vindo muito antes da hora justa e razoável. Ok, a velha sentença afirma: a vida não é justa. Mas precisa ser tão injusta? 

@pauloandel

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