Onze e meia da noite de sábado, o mundo inteiro está atrás da Blitz no Circo Voador - igualzinho há 40 anos - e eu, um dos últimos otários que pensa no próximo e evita aglomerações mesmo com três vacinas, encerro meu expediente de trabalho, tomo banho, deito, falo com meu amor pelo WhatsApp e, para me distrair, espio a Orquestra de Duke Ellington tocando na Sala São Paulo. O show é excelente - e olhe que o meu jazz ideal é 1959-1980. Gravaram na Sala em outubro de 2019. Ellington, que antes de ganhar o mundo vendia amendoins em jogos de beisebol.
Aquele som tem um charme, uma elegância difícil de definir. Duke era realmente um gênio, um sujeito especial e não é à toa que outro gênio era completamente louco por ele: Charles Mingus. Dois craques completamente distintos: Duke, um lorde e Mingus, bem, porrada pra toda obra. Ambos já se foram há décadas mas continuam vivos demais, com suas artes demolidoras.
Para quem é do ramo, pouco importando se é especialista ou simpatizante, o fato é que o jazz instiga e apaixona: quem ouve uma vez e gosta, não larga nunca mais. Você vai procurando um músico, outro, outro e outro numa busca interminável é gente demais.
A Sala São Paulo é linda. O mar de sopros ataca para todo lado. O ventilador turbo me oferece um ventinho confortável antes do lanche. É um fim de sábado, neste domingo tem Fla x Flu. Meu amor tá longe. Sinto uma tristeza enorme pelo garotinho do Marrocos, tão pequenininho, sofreu tanto em sua curtíssima vida, Jô, ninguém deveria passar por isso - nem ele nem a família.
O jazz da TV é minha igreja, minha oração e pregação - é o que sobrou desde os tempos em que eu era rapazote, estudando na UERJ e ouvindo o programa do Jô Soares na Rádio JB FM num walkman vermelho - faz 30 anos. Jô sempre curtiu o jazz da velha guarda, Gene Krupa, Buddy Rich, Jack Old Teagarden, as feras de sua juventude. Aprendi muito com ele, ainda aprendo.
@pauloandel.
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