hoje eu tenho a madrugada longa e quente, solitária estrela no céu
mais um ventilador que lembra a turbina de um avião e silêncios quase imaginários
eu tenho um dia novinho em folha
cheio de medos razoáveis, inseguranças e natural descrença no projeto do ser humano - eu tenho um lindo dia novo em folha
ao longe, ouço vozes chorosas e sofridas e recados sonoros de violência crua no asfalto que os carros abandonaram pouco antes das três da manhã: descansa em paz um dia novo em folha
penso na beleza do cinema, o rio e nas mãos dadas que me desprezam e nos abraços mortos que me desprezam
- foi-se embora uma segunda-feira tensa
e daqui a pouco terei um dia novo em folha
uau! o shopping center abarrotado que parece até outro planeta até encontrar um menino negro à porta com sua caixa de doces e um recado:
"senhor, como podemos ser tão estúpidos?"
e o vento quente corta pesadelos, parece um cutucão dizendo "fique atento, pois você tem na mão um dia novo em folha"
[os minutos correm como se aqui fosse o inferno
[eu tenho um punhado de paixões soterradas e amores sob os escombros de um desabamento admirável, mas e daí? ninguém liga
minha cabeça dói feito um berço esplêndido ou meu sobrenome desimportante
todos estão dormindo ou surdos
a cidade é um templo dos cemitérios
eu tenho um dia novinho em folha e nenhum futuro me aguarda na sala ao lado
esqueça qualquer final feliz: é apenas um novo dia que se abre pelo azul escuro do céu
um dia novinho, novinho em folha
feito um lindo filme à beira da lagoa
(livre adaptação sobre a poesia de Sting)
@pauloandel.
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