O que eu fazia quando tinha dezessete anos? Procurava emprego que nem um louco em vão, tomando todas as portas possíveis na cara. Ficava apaixonado, desapontado e desapaixonava. Sofria todo dia por ver meu pai triste e bêbado. Minha alegria era o meu time, os acampamentos, as conversas na casa do Fred ou na calçada de casa, os sons do mar sentado na areia da praia, o rádio cheio de boas músicas, o jogo de botão. Era uma vida dura como a de hoje, descontadas as vantagens inevitáveis: eu ainda tinha todo o tempo do mundo pela frente, tinha minha família e achava que tinha amigos - de onde foi que eu tirei isso, senhor? E andava pelas ruas do meu bairro, o mesmo que os imbecis chamam de elite zona sul porque não conhecem suas vielas, suas quitinetes miseráveis, seus botequins cheios de mágoa e tristeza, suas favelas escondidas atrás de prédios belos e sujos, seus garotos pobres cheios de sonhos sentados na areia vendo o movimento da beira-mar. E chorava ao ver o sofrimento das pessoas debaixo das marquises - o que nunca mais passou. E sonhava em ter um emprego que permitisse que minha mãe nunca mais chorasse com medo do despejo. Eu me sentia feliz quando podia lanchar na rua um hamburguer e uma fatia de pizza. O vestibular, senhor, o que ia ser de mim? Vinte, trinta, cinquenta candidatos por vaga, eu não tenho chance, eu não fiz cursinho, eu não vou passar. Passei. Depois eu continuei pobre, beijei garotas lindas, senti um suicida bater em minha mão antes do corte final, corri muitas milhas, vi os veteranos chamando uns aos outros de maconheiros, aprendi coisas incríveis e fiz inimigos para sempre. Desde então, perdi todos os meus vínculos, nunca mais encontrei minha casa, minha família, meu amor e deixei que o tempo escorresse, porque não somos donos de nada, não temos controle sobre nada e não somos os autores do livro dos dias, no máximo personagens. Tenho ouvido vozes há muito tempo que gritam em inglês "doesn't have to be serious" ou "even better than the real thing". Muitas vezes me perguntei: será que um dia serei um escritor publicado? E será que vou ver um livro meu em prateleiras de livrarias? Nunca se sabe.
No comments:
Post a Comment