SEPAREI O DINHEIRO para um picolé e um copo de mate, botei meu par de chinelos e desci. Todo mundo ainda estava dormindo em casa, algo perto de seis e meia da manhã.
A Figueiredo praticamente não tinha carros nem gente, ao contrário de 99% do tempo. É que o domingo de manhã tem certo gosto de ressaca, de noite por dormir.
Quase na esquina com Barata Ribeiro, jovens vindos da Lapa, o underground carioca, saltam do ônibus no ponto e há quem cogite um lanche no Sumol, um suco e sanduíche, talvez uma fatia de pizza napolitana que eles vendem toda hora.
Caminhe menos de cem metros e, na porta da galeria, dá para saber as próximas atrações do Cine Condor Copacabana. Bem na porta fica meu ponto de ônibus preferido para ir ao Maracanã. Na pequena galeria tem uma loja que vende camisas bem confortáveis.
[Avenida Copacabana versus Figueiredo Magalhães, a esquina mais barulhenta do mundo. Marcelo Conde e Hermínio moravam ali. Garotos extenuados pela noite virada deixam o Gordon, lendária lanchonete famosa pelas partidas de mau-mau e truco disputadas no segundo andar da loja. Os sanduíches eram imperdíveis.
O símbolo da drogaria na Figueiredo é um dos colossos de Copacabana: Pepe Corta Zeros, um tucano - ou arara? - combatente da inflação de 70% ao mês, porque a vida é assim na Era Sarney. É um tucano bem grande na logomarca, antes de chegar a agência do Banco Econômico.
Na transversal, tem a loja da Gênova com os melhores salgados e a melhor pizza brotinho do mundo, senhor! Gostosa demais. A Domingos Ferreira é uma rua discreta, de pouco movimento. Uma quadra antes do temível Edifício Master - eu e Xuru passamos sempre do outro lado da rua.
Na quadra do Camões é fácil ver Júnior, um dos melhores jogadores brasileiros. Volta e meia está por ali com seus ex-vizinhos, apaixonado que é pelo Juventus, o time mais popular de futebol de areia do Rio.
Atravesso a Atlântica, desço a escadinha de dois degraus e meu par de chinelos Katina Surf protege meus pés do calor da areia. A praia ainda está deserta. Manhãzinha de domingo, todo mundo tem um pouco de ressaca, seja etílica, seja sentimental.
Um garotinho sentado mais adiante mexe com a pá num balde, brincando com a areia. Sua mãe o observa atenta e orgulhosa. São uma linda e pequena família. Noves fora, estou sozinho bem aos pés do Atlântico Sul, então me sento, olho para um lado e outro, escuto o breve som do mar e nem quero pensar no vestibular, nos problemas e nas soluções que ainda não tenho. Por enquanto é tentar sair do quartel, passar na prova, estudar e arrumar um emprego. Os raios solares parecem mais fortes, já deve estar perto de oito da manhã. Daqui a pouco eu compro um picolé de limão ou côco.
O mate fica para depois. A praia ainda está deserta, mas ao longe já tem um senhor vendendo o Dragão Chinês e outro com a chamada inesquecível: "É Maria Teresa Weiss!"
@pauloandel
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