No assento do metrô há um livro, mas ninguém mexe nele nem senta ao lado. Diabos, pedir licença? O jeito é ficar em pé, ainda que a luva faça um fric-frac no suporte do vagão. Ninguém reclama.
Roça-roça na hora do rush, nunca mais teve. Se alguém ri, as máscaras não deixam ver: eis a lei marcial. Os rostos, outrora indiferentes, viraram mais do mesmo. Perdemos nosso tom informal. Beijo? Já era. Cotovelo e só.
Próxima estação: Central. A correria para a gare dá saudade. Lentamente, a mão de obra que suporta o Brasil deixa o metrô, sobe as rolantes sem pressa nem vizinhança, até avançar nas roletas em busca do subúrbio.
Perto, um menininho pede esmolas e ri por baixo do pano roto, sobra de uma camiseta do Flamengo. Nem tudo é novo nos tempos modernos.
@pauloandel
(Microconto em 800 caracteres devidamente desclassificado no concurso Itaú Cultural de Emergência, focado no pós pandemia. Não serviu lá, mas serve de post aqui. Talvez não tenham gostado do final, muito agressivo para o mundo neoliberal)
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