Friday, June 16, 2017

midnight copacabana II

depois de ter visto a miséria e a prosperidade esmolando no mesmo balcão de botequim

e as doces tristes putas aguardando o carro que lhes sirva de sobrevivência

os garotos negros sentados no chão em posição de ataque em frente à porta das Casas da Banha, ignorados por senhoras respeitáveis e marombeiros com esponjas nas mãos

depois de ter visto e ouvido a esquina mais barulhenta do mundo na janela da casa de Marcelo Conde

os garotos fumando maconha e depois jogando football de praia com os operários da grande obra da Avenida Atlântica

e entender que Copacabana não é simples assim

nosso lorde das ruas é um mendigo com seis metros de altura, duzentos quilos e um cheiro indefectível de éter que atravessava três quadras

e que rivalizava com Ramiro, que picava mil papéis na rua Siqueira Campos e, certa vez, acertou um belo soco num reacionário debochado

os quitinetes estão cheios de dor, de luta, mas luxúria quando for o caso raro

generais de pijamas jogam cartas e cheiram pó na varanda de um grande apartamento do Bairro Peixoto

e garotos moderninhos vestidos de preto com camisetas do The Cult, passam apressados com seus copos de bebida alcoólica 

a caminho do Crepúsculo de Cubatão

o jovem poeta Fausto Fawcett cria rapa e poesias no Cervantes, quartel-general da avenida Prado Júnior

e belas garotas passam de carro a caminho do Leme, na Pizzaria Sorrento, perto da casa do ator e lutador Ted Boy Marino

já no outro lado do bairro, no Forte de Copacabana, impera um silêncio austero, enorme, que até finge imprimir um tom sóbrio aos arredores

mas como, se a Galeria Alaska ferve solta com seu interminável carnaval homoerótico? 

eu vi a calma à beira do mar que precede qualquer assassinato por motivo torpe - eu vi os sóis - eu vi três mundos 

todos eles pensativos na calçada do edifício Ritz

amanhã é um outro dia 

No comments:

Post a Comment