o inferno é aqui
lindas praias e montanhas vistosas
mulheres arrebatadoras
esportes, corridas e verão
mas acredite: você está no caldeirão!
a mesma terra de grande beleza
é a que faz suas crianças chorarem
pelos amigos mortos
pelos pais desaparecidos
a terra de paz, amor e carnaval
onde as marquises são cemitérios
a terra das meninas lindas
também sabota, explora, estupra:
abecedário das mutilações
a linda geografia que esconde
o ódio, a violência, a opressão
teu deus, o rio é lindo demais!
o ser humano é que estraga tudo
com seu egoísmo, a ignorância
o inferno é aqui
morando nas crianças abandonadas
nos mortos de uma guerra inútil
exceto para a televisão
que precisa de audiência
bons e maus morrem à toa
grandes empresários sorriem:
- vamos lucrar! vamos sonegar!
chega de sustentar estes vagabundos!
o inferno é aqui
vivendo nas caixinhas de doces
das crianças esfomeados
no delírio enlouquecido
dos corações torturados pelo crack
nas balas perdidas e corpos carbonizados
na prostituição do futebol
nenhum diabo sorri, nem faz propaganda
o marketing é desnecessário
não é preciso identificar o inferno
nos hospitais falidos
nas bocas de fumo
no fascismo odioso à caça
do comunismo que nunca existiu
o inferno é aqui
ou em qualquer lugar dessa terra
mariana, bataclan ou boate Kiss,
tanto faz
a força da grana corrompe e fuzila
querem chico de geni
e a gente suja longe do leblon
daqui a pouco pedem a morte do papa
em nome do senhor
querem o sangue dos refugiados
a plaza de mayo, o dops ou a ss
passam a ser distrações eletrônicas num fim de tarde
o diabo parece tenso
seus súbitos são bem piores do que ele
o pior pode ser bem pior
em vez de dar o peixe ou ensinar a pescar, que tal o arpão na cabeça dos nativos?
que tal uma bomba na favela?
vamos superfaturar as obras em paz, justiça e liberdade!
o inferno é aqui
lúcifer ri das cabeças primitivas
a idade média é agora
mas ela não triunfará impune
os livros não serão destruídos
o fascismo terá seus dias contados
vai haver poesia, poesia!
não vamos escapar das labaredas
nem do calor insuportável
mas até este inferno não precisa
ser tão odioso e excludente
já que não seremos todos bons
que não sejamos monstros cruéis
o mendigo na calçada também é gente
a puta bêbada no banco da praia também é gente
e até onde se sabe, deus não autorizou procuração para matar em seu nome
o inferno é aqui
em cada coração egoísta
@pauloandel
Sunday, December 27, 2015
Sunday, December 20, 2015
grã elegância
muito mais
longe do começo
do que do fim
muito mais
perto da descrença
do que da fé
muito mais
dores lancinantes
do que alívios
muito mais
vã realidade
do que esperança
muito mais
momentos breves
do que vida inteira
muito mais
nacos de saudade
do que vivência
muito mais
desacerto
do que a grã elegância
@pauloandel
longe do começo
do que do fim
muito mais
perto da descrença
do que da fé
muito mais
dores lancinantes
do que alívios
muito mais
vã realidade
do que esperança
muito mais
momentos breves
do que vida inteira
muito mais
nacos de saudade
do que vivência
muito mais
desacerto
do que a grã elegância
@pauloandel
Saturday, December 19, 2015
seis da manhã, feliz natal
quase todos estão surdos, individualistas, indiferentes, alheios ao próximo e ao mundo, feliz natal. brasileiros contra brasileiros, um golpe fajuto, o caos pelo caos, feliz natal. ódio no mundo, ódio na américa, ódio na esquina, feliz natal. violência, estupro e morte, descaso e drama, abismo e carnaval, feliz natal. a imprensa vendida, a lavagem assegurada, a pequenez de espírito, feliz natal. livros que ninguém vai ler, canções que não serão aprendidas, a desatenção consagrada, grandes audiências inúteis, feliz natal. vamos celebrar a estupidez humana, os mortos vivos debaixo das marquises, os zumbis assassinos do crack, os índices da bolsa, o certificado de bom pagador, feliz natal. os shoppings estão cheios, as salas de aula vazias, alunos arrogantes, professores prepotentes, gente boa e má, o brasil entorpecido, feliz natal. madrugadas imsones, amores destruídos, gente filhadaputa oprimindo gente boa, o poder do dinheiro, feliz natal. são seis horas da manhã no inferno, o mundo é moderno, o ser humano é a província, a pátria é o pib, feliz natal. a meritocracia dos filhinhos de papai é a casa grande da marmita dos sem nome, sábado é um lindo dia, ninguém se lembra do filho da puta de ontem, somos todos estatística, feliz natal. o amor está morto, a casa está suja, a bandeira está dobrada, os discos estão empilhados, ordem e progresso, feliz natal. a desagradável sensação de que o novo é começar tudo outra vez com os mesmos defeitos, a sobrevivência é cumprir a pena em liberdade depois das cinco da tarde, de segunda a sexta, feliz natal. a matemática não se entende com nada do que aí está, minha dor é perceber o navio negreiro na calçada à espera da morte ou de remendos, feliz natal. a etimologia do filho da puta contemporâneo no brasil, os versos em vão frente à singeleza da pátria varonil, feliz natal. o fluminense acorrentado, a rádio em silêncio, a tevê desligada, nenhuma alegria no teto do quarto, feliz natal. amanhã vai ser outro dia, talvez o dia em que seremos todos inúteis, feliz natal. a procissão, a garota sozinha, as guerras do mundo, o desamor, feliz natal. deixe seu recado após o sinal.
@pauloandel
Wednesday, December 16, 2015
cinco mil amores
cinco mil amores para dizer
adeus
cinco suspiros e gozos
em vão
o que é a paixão?
é um poema esculpido em escarlate
enquanto nossa bandeira
é cinza, cinza opaca
celebremos, irmãos! somos inocentes calouros! ninguém
sabia de nada
adeus
cinco suspiros e gozos
em vão
o que é a paixão?
é um poema esculpido em escarlate
enquanto nossa bandeira
é cinza, cinza opaca
celebremos, irmãos! somos inocentes calouros! ninguém
sabia de nada
Monday, December 14, 2015
o fim da musa
estão todos tristes, desgovernados
ao lado da caixa de morte que abriga
o corpo da musa
nunca mais uma palavra, um sorriso
nunca mais beleza à vista
nenhuma poesia comparada
todos murmuram, atônitos
diante do inevitável caminho final:
quem levou a musa embora?
muito antes do justo e razoável
tão em vão diante do imponderável
enquanto cantam o réquiem baixo
- é inaceitável! - tamanha desgraça não há!
- onde vai viver o nosso amor dilacerado?
houve quem não viesse e risse
por rancor, inveja, pequenez
a musa dorme para sempre
com sua pele alva, os traços finos
e a imensidão do mistério
a musa que dorme, o amor que morre
a finitude que nos cega - queremos explicações que não existem
enquanto a moça fala de deus
e somos uns inconformados!
a eternidade é negligente com as musas!
@pauloandel
ao lado da caixa de morte que abriga
o corpo da musa
nunca mais uma palavra, um sorriso
nunca mais beleza à vista
nenhuma poesia comparada
todos murmuram, atônitos
diante do inevitável caminho final:
quem levou a musa embora?
muito antes do justo e razoável
tão em vão diante do imponderável
enquanto cantam o réquiem baixo
- é inaceitável! - tamanha desgraça não há!
- onde vai viver o nosso amor dilacerado?
houve quem não viesse e risse
por rancor, inveja, pequenez
a musa dorme para sempre
com sua pele alva, os traços finos
e a imensidão do mistério
a musa que dorme, o amor que morre
a finitude que nos cega - queremos explicações que não existem
enquanto a moça fala de deus
e somos uns inconformados!
a eternidade é negligente com as musas!
@pauloandel
Friday, December 11, 2015
Monday, December 07, 2015
o outono de dezembro
segunda-feira de manhã nublada
tudo é bonito demais
somos um outono!
o ir e vir dos proletários
os jovens e velhos engravatados
a morte e a miséria, a dominação
os garotos só querem escolas
as pessoas passam apressadas
a vida não para, não para
é preciso fazer, correr, trabalhar
mesmo que tudo seja em vão
e que o fim mostre tudo tão inútil
somos o outono de dezembro!
vamos para o shopping!
feliz natal, boas festas e 2016
tudo novo de tão novo e velhas novidades para passar o tempo
tudo é bonito demais
se você conseguir abstrair do mundo
tudo é uma bobagem sem sentido
- o resto é miséria, descaso e indiferença:
ordem e progresso! oh, hipocrisia!
estamos ocupados demais
@pauloandel
Saturday, December 05, 2015
amor estranho
e eu te amo
pelas ausências, o calor do corpo
que não sinto
meu amor pela ausência
é te procurar no silêncio, nos espaços vazios
nos poemas que não te declamei
amar-te é procurar pelas mensagens que não chegam
os encontros que não acontecem
a intimidade de mundo algum
nenhuma voz ao telefone
nenhum e-mail convidativo
torpedo nenhum!
a chama do meu amor é voluntária
e não te pede nada mas cobiça
cobiça loucamente
desejo, tesão e lascívia em vão
por um sentimento permanente
@pauloandel
pelas ausências, o calor do corpo
que não sinto
meu amor pela ausência
é te procurar no silêncio, nos espaços vazios
nos poemas que não te declamei
amar-te é procurar pelas mensagens que não chegam
os encontros que não acontecem
a intimidade de mundo algum
nenhuma voz ao telefone
nenhum e-mail convidativo
torpedo nenhum!
a chama do meu amor é voluntária
e não te pede nada mas cobiça
cobiça loucamente
desejo, tesão e lascívia em vão
por um sentimento permanente
@pauloandel
farrapo humano
eu sou a tristeza
a miséria, a desesperança
e vivo em túmulos
nos olhinhos juvenis da pobreza
debaixo das marquises
ou entorpecidos demais
num arrastão à porta do teatro
eu vivo em túmulos
nas rugas precoces das operárias
em trens fétidos, lotados
também em suas varizes proeminentes
o meu sangue frio jorra em balas perdidas
e crânios inocentes despedaçados
eu sou a tristeza da fome nas ruas
a sujeira sem banho e roupas limpas
a indiferença das almas indignas
encarnadas em ternos finos
e pastas de dólares ilegais
eu sou a sede dos mendigos
o choro da criancinha com sua caixa de chicletes em vão
eu vivo em túmulos
nas canetas inescrupulosas
que assinam as sentenças de morte
nos açougues humanos, nas filas da ilusão
eu sou a tristeza de quem vê
a hipocrisia dos porcos golpistas
o cinismo dos traidores
o preconceito e a exclusão
eu sou o desprezo, a limpeza étnica
num sofisticado hall
sem transeuntes de chinelos
eu sou a decadência
de quem não percebe a dor do outro
de quem desdenha da mais nova vítima
as trapaças combinadas a priori
eu sou a festa da minoria
numa cobertura chique
enquanto a esquina mostra suas cicatrizes
meninas prostitutas, constrangidas
colocando a infância numa câmara de gás - eu sou a monstruosidade do deputado nazista
e o mundo é a república de oswald:
árvores, frutos e gente dizendo adeus - a isso chamam humanidade
pátria madrasta gentil!
@pauloandel
a miséria, a desesperança
e vivo em túmulos
nos olhinhos juvenis da pobreza
debaixo das marquises
ou entorpecidos demais
num arrastão à porta do teatro
eu vivo em túmulos
nas rugas precoces das operárias
em trens fétidos, lotados
também em suas varizes proeminentes
o meu sangue frio jorra em balas perdidas
e crânios inocentes despedaçados
eu sou a tristeza da fome nas ruas
a sujeira sem banho e roupas limpas
a indiferença das almas indignas
encarnadas em ternos finos
e pastas de dólares ilegais
eu sou a sede dos mendigos
o choro da criancinha com sua caixa de chicletes em vão
eu vivo em túmulos
nas canetas inescrupulosas
que assinam as sentenças de morte
nos açougues humanos, nas filas da ilusão
eu sou a tristeza de quem vê
a hipocrisia dos porcos golpistas
o cinismo dos traidores
o preconceito e a exclusão
eu sou o desprezo, a limpeza étnica
num sofisticado hall
sem transeuntes de chinelos
eu sou a decadência
de quem não percebe a dor do outro
de quem desdenha da mais nova vítima
as trapaças combinadas a priori
eu sou a festa da minoria
numa cobertura chique
enquanto a esquina mostra suas cicatrizes
meninas prostitutas, constrangidas
colocando a infância numa câmara de gás - eu sou a monstruosidade do deputado nazista
e o mundo é a república de oswald:
árvores, frutos e gente dizendo adeus - a isso chamam humanidade
pátria madrasta gentil!
@pauloandel
Thursday, December 03, 2015
estrebuchando
ah, o amor
estrebuchando no chão
enquanto os ódios sorriem
felizes
com abraços siameses
o nocaute do amor
é o cinturão de ouro
da raiva
o golpe de sorte da empáfia
- eu não tenho nada com isso!
- sacripanta! sacripanta!
o amor não dorme
em corações reacionários
- ele precisa de peitos abertos
e proletários da paixão
o amor surrado, socado
cheio de equimoses
enquanto o ódio, irmão
há de morrer sozinho
sem velas acesas e sequer compaixão
@pauloandel
estrebuchando no chão
enquanto os ódios sorriem
felizes
com abraços siameses
o nocaute do amor
é o cinturão de ouro
da raiva
o golpe de sorte da empáfia
- eu não tenho nada com isso!
- sacripanta! sacripanta!
o amor não dorme
em corações reacionários
- ele precisa de peitos abertos
e proletários da paixão
o amor surrado, socado
cheio de equimoses
enquanto o ódio, irmão
há de morrer sozinho
sem velas acesas e sequer compaixão
@pauloandel