Friday, February 21, 2014

porta-retratos e humildes relíquias

1

olhar no céu e encontrar
um desenho de amor
num rosto de mulher
- os traços são os poemas! -
- duas ametistas brilham! -
algum olhar severo enternece
enquanto a beleza é tesão:
desejo incandescente - volúpia
ardor que desmerece desatino
meu amor de cores tão leves -
o céu parece uma bonequinha
uma Audrey, cena de gran luxo
e paixão e vontade noutra cama -
meu amor tem cor! voa rasante
e traz palpitações, ardência atroz
certa alma apaixonada não dorme
a sós, mas namora ao longe: jazz

2

você, meu jazz - você, meu verso
não me satisfaz um amor supérfluo
passatempo sem eira nem beira
você, já não disfarço que te quero
você, meu sonho, meu chão e teto
você, um quadro, a foto e um gesto
a flor que tanto venero, sem tempo
você, meu sexo - gozo e jorro certo
o longe que tanto me corrói às veias
o nunca onde o talvez já é afeto

3

os outros não pensam nosotros
rústicos caiporas com tom inglês
querem ser belos e eternos - truque
a breguice jamais se regenera!
os outros só pensam em si mesmos
e fodem sem brilho!
e morrem sozinhos
os outros são egoístas até demais
e perdem as boas histórias
com seus troféus de carne às mãos -
são rústicos caiporas, capangas
falsos retratos de um mundo falho

@pauloandel


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