Wednesday, January 01, 2014

cedo/ cor

1

o verão que se faz flor agora
tão cedo
corações civis mergulham n'água
despudoradamente
enquanto o posto seis é um cartório
a registrar seus amores de orla:
tênues, livres, definitivos, uma ocasião
há quem fale de calor, volúpia, bens
mas eles só querem amar
querem apenas um instante que valha
por mil
o verão nasceu tão cedo
e os corpos nus procuram suas paixões
em qualquer lugar onde haja céu e cor
os seres vivos derramando amor
adeus, rancor e drama!
corações a mil caçando cama

2

o fim do amor tem cor?
quem disse que o luto tem cor?
uma ilusão a ausência caber numa
aquarela
assim como a cor do amor que sequer nasceu
e foi sufocado, um natimorto à crista
o descaso não tem cor
a solidão não tem cor
tudo é o que fazemos por mera satisfação à cobrança das retinas
impor as cores às dores e ao feliz
num mundo branco e preto e gris
ouro, cobalto e véu, grená e violeta
o amor não tem cor
ele é coisa de muito além

3

quando você me convidar
para nos jogarmos no mundo
eu te abraço como se estivéssemos
em queda livre, salvos
pela perícia do para-quedas
e não solto nunca mais
mesmo quando estivermos sãos
e salvos com pés em terra firme
quando você me convidar
eu vou, eu vou, eu vou
só para entender o porque, o talvez
da imensidão do meu amor sem cor
que floresce à tua pele

@pauloandel

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