Virei um transeunte
estrangeiro.
As ruas não me dizem mais a
razão do meu amor.
Não, existe amor, mas ele é longe, longe, como se eu tivesse
morrido e fosse a testemunha de meu próprio cadáver caminhando nas calçadas de
pedra.
Espio grandes edifícios que
não são Copacabana à pele. Como pode?
Não tem mais a mendiga Lina,
nem Fred, nem Gordon, nem Clóvis Bornay sorrindo no Coruja Bar.
Não tem ice cream soda nos
Supermercados Leão, nem mesmo Supermercados Leão.
E Patrícia, com jabuticabas
no olhar? E Anna Paula? Tininha?
Meus olhos molhados e
saudosos miram as coberturas, as portarias, os pequenos grandes personagens. Ninguém
me conhece. Sou um estrangeiro.
O Cine Condor morreu, o
Metro também, nenhum misto-quente na Akay. Jogo de botão no Dom Pixote e na
papelaria Dália? Nem pensar.
Billboard e discos dos
Rolling Stones na vitrine? Modern
Sound? Crepúsculo de Cubatão? There´s no more lips like sugar!
Mr. Éter deitado à porta da
Farmácia Piauí? A velha loja de frutas?
Estou triste e perdido.
Morri.
O que vejo são lembranças de
algo que jamais voltará.
Pelo menos ainda não mexeram
na esfiha do Baalbeck, nem no Cirandinha e ainda restam os escombros da Suprema
no Leme.
Quando vejo o Parque Peter
Pan penso no que penso sempre: minha amada mãe. Hoje, seis anos e seis meses de
morte, minha prisão perpétua.
Não mexeram no velho Sniff
da Siqueira Campos, embora eu não reconheça mais ninguém.
Na verdade, não morri.
Apenas fiquei sozinho diante de outro dia cuja ampulheta já virou. E pensei que
éramos tão jovens, jovens e tudo seria sempre carteado na sala da casa do Buja.
Mas Katia vai salvar a minha vida. Vida?
Ah, Copacabana, eu ainda
serei a tua última grande canção.
@pauloandel
Caro Paulin, sinto a mesma coisa não só quanto a Copa, mas em tudo o que me cerca, o bairro é outro, o mundo é outro, eu sou outro, sou um fantasma perambulando sem destino esperando o fim da minha penitência.
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