Por Susan Sontag e Miles Davis
Cai o dia e penso numa
pergunta inevitável, demolidora, feito aquelas que agradariam na réplica uma
mulher genial como Susan Sontag - The
only interesting answers are those that destroy the questions – ou qualquer
pessoa genial. Susan gostaria de uma grande pergunta porque a resposta seria
irresistível e avassaladora. Então olho para o teto do quarto, nenhuma estrela,
uma tristeza enorme por vários motivos e penso mais: que pergunta poderia ser
tão demolidora a ponto de exigir uma resposta mortífera? Pois bem, cheguei a
uma simples, mas que tem me feito matutar: “Pra quê?”. É que se chega a um
ponto da dialética onde o “pra quê?” é definitivo: um sinal claro da desnecessidade,
da desimportância do que se está fazendo ou querendo. Mas não é apenas um “pra
quê?” no sentido de se estabelecer a compreensão das coisas ou pessoas, mas sim
para investigar a utilidade, a importância delas, principalmente quando
investimos tempo e energia demais. Uma certa hora, você se dá conta do tempo
que está perdendo com uma coisa, pessoa, ideia ou sentimento e questiona: pra
quê? Uma briga, uma cantada, uma troca de ideias, uma tentativa de aproximação
ou conquista de harmonia, uma reconciliação, uma busca de amizade, uma integração
intelectual, qualquer conversa fiada e tudo sai ao contrário, tudo é longe do que se queria, muitas
milhas depois, nada tem a liga necessária, é como se você se olhasse diante do
espelho: pra quê? A amizade, o carinho, o amor, a atenção, o cuidado, a
preocupação, o respeito, o interesse no outro, na outra ideia, na outra compreensão,
tudo sobre coisas que não oferecem contrapartida, retorno ou mínimo cuidado do
outro lado daquela dialética, você respira fundo, reflete, caminha nos
pensamentos e a pergunta é inevitável: pra quê? O futuro é o próximo segundo,
os planos que não são realizados, os sonhos que não vão virar realidade mesmo
por que nada indica isso, as ideias que não têm chance de sair do papel, os anseios
que não tomam corpo e tudo se dilui numa modesta pergunta, à beira do
simplório: pra quê? Que ninguém se engane: esta reflexão típica de um bebum em
seu habitat natural não é amarga nem
fria e nem oca – ela tem a ver com o que fazemos de nosso tempo até ele se
tornar perdido e inútil – e nos tempos modernos o tempo é tudo – eu não tenho
mais o tempo de antes e cada segundo meu precisa agora durar um dia – pra quê? Pra
quê? A vida é hoje, o futuro é a morte e você perde preciosos minutos ou horas
no meio do nada em busca do lugar nenhum? Pra quê? Agora estou triste, o tempo
não é mais o mesmo e, olhando para trás, vejo quanto tempo gastei em minha vida
com dialéticas inúteis e sem sentido quando tudo o que eu precisava, bem antes,
era ter olhado naquele mesmo espelho e perguntado: pra quê? Agora não tenho
esperanças, o mundo é uma tarde de inverno, a vida é em vão, o que resta é
esmolar o tempo, os segundos, subir à lua, dez anos a mil ou a um milhão, o sol
nascerá e tudo teria sido poupado se eu tivesse feito a pergunta definitiva a
mim mesmo, aquela que nenhuma pergunta destrói e desapontaria Susan Sontag: pra
quê? Agora é só uma tarde de inverno, ensinar procedimentos a uma linda
estagiária, ver o céu de gris e réstias do sol, chorar pelos mendigos sofridos
no centro de uma grande capital, ver os prédios das grandes corporações
abarrotados com números e gente como figurantes de um cenário qualquer, pagar
contas, correr pelo trabalho, estudar o que não se quer, namorar quem não se
ama, engolir compromissos à toa, tudo é bonito ou lindo de morrer, mas falta charme e nada ocupa
minha cabeça que não seja uma mísera e fugaz pergunta: pra quê? Pra quê? Pra quê? The
only interesting answers are those that destroy the questions – The only
interesting questions have no answers away.
@pauloandel
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