Wednesday, July 10, 2013

Pra quê

Por Susan Sontag e Miles Davis

Cai o dia e penso numa pergunta inevitável, demolidora, feito aquelas que agradariam na réplica uma mulher genial como Susan Sontag - The only interesting answers are those that destroy the questions – ou qualquer pessoa genial. Susan gostaria de uma grande pergunta porque a resposta seria irresistível e avassaladora. Então olho para o teto do quarto, nenhuma estrela, uma tristeza enorme por vários motivos e penso mais: que pergunta poderia ser tão demolidora a ponto de exigir uma resposta mortífera? Pois bem, cheguei a uma simples, mas que tem me feito matutar: “Pra quê?”. É que se chega a um ponto da dialética onde o “pra quê?” é definitivo: um sinal claro da desnecessidade, da desimportância do que se está fazendo ou querendo. Mas não é apenas um “pra quê?” no sentido de se estabelecer a compreensão das coisas ou pessoas, mas sim para investigar a utilidade, a importância delas, principalmente quando investimos tempo e energia demais. Uma certa hora, você se dá conta do tempo que está perdendo com uma coisa, pessoa, ideia ou sentimento e questiona: pra quê? Uma briga, uma cantada, uma troca de ideias, uma tentativa de aproximação ou conquista de harmonia, uma reconciliação, uma busca de amizade, uma integração intelectual, qualquer conversa fiada e tudo sai ao contrário, tudo é longe do que se queria, muitas milhas depois, nada tem a liga necessária, é como se você se olhasse diante do espelho: pra quê? A amizade, o carinho, o amor, a atenção, o cuidado, a preocupação, o respeito, o interesse no outro, na outra ideia, na outra compreensão, tudo sobre coisas que não oferecem contrapartida, retorno ou mínimo cuidado do outro lado daquela dialética, você respira fundo, reflete, caminha nos pensamentos e a pergunta é inevitável: pra quê? O futuro é o próximo segundo, os planos que não são realizados, os sonhos que não vão virar realidade mesmo por que nada indica isso, as ideias que não têm chance de sair do papel, os anseios que não tomam corpo e tudo se dilui numa modesta pergunta, à beira do simplório: pra quê? Que ninguém se engane: esta reflexão típica de um bebum em seu habitat natural não é amarga nem fria e nem oca – ela tem a ver com o que fazemos de nosso tempo até ele se tornar perdido e inútil – e nos tempos modernos o tempo é tudo – eu não tenho mais o tempo de antes e cada segundo meu precisa agora durar um dia – pra quê? Pra quê? A vida é hoje, o futuro é a morte e você perde preciosos minutos ou horas no meio do nada em busca do lugar nenhum? Pra quê? Agora estou triste, o tempo não é mais o mesmo e, olhando para trás, vejo quanto tempo gastei em minha vida com dialéticas inúteis e sem sentido quando tudo o que eu precisava, bem antes, era ter olhado naquele mesmo espelho e perguntado: pra quê? Agora não tenho esperanças, o mundo é uma tarde de inverno, a vida é em vão, o que resta é esmolar o tempo, os segundos, subir à lua, dez anos a mil ou a um milhão, o sol nascerá e tudo teria sido poupado se eu tivesse feito a pergunta definitiva a mim mesmo, aquela que nenhuma pergunta destrói e desapontaria Susan Sontag: pra quê? Agora é só uma tarde de inverno, ensinar procedimentos a uma linda estagiária, ver o céu de gris e réstias do sol, chorar pelos mendigos sofridos no centro de uma grande capital, ver os prédios das grandes corporações abarrotados com números e gente como figurantes de um cenário qualquer, pagar contas, correr pelo trabalho, estudar o que não se quer, namorar quem não se ama, engolir compromissos à toa, tudo é bonito ou lindo de morrer, mas falta charme e nada ocupa minha cabeça que não seja uma mísera e fugaz pergunta: pra quê? Pra quê? Pra quê? The only interesting answers are those that destroy the questions – The only interesting questions have no answers away.



@pauloandel

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