E você, hein? Já fez sexo várias
vezes com uma mulher pensando intensamente em outra que sequer havia beijado
antes? E gozou e fez gozar intensamente enquanto tudo o que pensava era outra
coisa, outra carne, outra entrega? E quantas vezes teve em seu colo a outra, a
querida, a preferida? Pois bem, alguém me disse certa vez algo que parecia uma
lição, mas que não soube utilizar na vida prática: “Não fique com quem você
gosta, fique com quem é possível”. Um tanto pragmático, um tanto vazio, um
tanto real. Mergulhamos no mundo real, a vida real, de pequenos prazeres
efêmeros. O admirável mundo novo das carnes, formas e desejos, que buscamos
saciar através do sexo, muitas vezes disfarçado de paixão, casamento, namoro e
a mais indesejada das palavras neste tema: “relacionamento”. E você, hein? Quantas
vezes você se permitiu – nem sempre - solitário prazer da masturbação enquanto
sonhava com outra mulher, a outra, sempre a outra, não propriamente aquela que
te falou de amor e querer para sempre e ficar a dois sempre? Então você falou
de amor eterno, de sentimento eterno e fingiu que não olhava para o lado quando
a outra passou num vestido provocante, de modo que a imaginou completamente nua
a seu lado? E você? E você? E a sua admirável vocação para tangenciar determinadas
hipocrisias que não sabemos toleram bem numa sociedade respeitável? Você fingiu
em algum momento que era um cavalheiro respeitável, enquanto tudo o que queria era
mergulhar nas mais loucas perversões sexuais possíveis, onde tudo fosse o
underground de Copacabana misturado aos mafuás do centro e uma hipotética New
York? E desejou namorar aquela puta deliciosa, que tinha o sorriso moreno e
provocante feito fosse Nanda Costa à tela do cinema, ardente, provocante e, ao
mesmo tempo, incrivelmente romântica? Você sonhou em tirá-la daquele puteiro quase
sofisticado, quase elegante, mas temperado com o licor de decadência que todo
puteiro exige? Vamos, diga! Faça das palavras um vão central, faça dos
pensamentos um trem de metrô que passa sob nossos pés tremendo o chão na Treze
de Maio e seguindo seu inevitável caminho de vida e morte – o início e o fim da
linha, para depois voltar tranquilamente. O que você está sonhando, hein? E pensando? A mesma
mulher de carne alva e tenra que jamais lhe será o maior dos pecados? A mesma
vizinha excitante no prédio? O ex-amor que nunca foi necessariamente um
ex-amor? Mas afinal, do que estou falando tanto se sexo acaba ficando tão
pequeno diante do vazio da alma humana? Como posso condenar quem vive como eu?
O que me resta além dos pequenos sonhos e momentos, diante de tudo o que se foi
e parece tão distante, perdido noutra galáxia? Eis o sexo: maravilhoso
combustível para arrancarmos pela estrada afora sem pensarmos na imensidão das
coisas. Prazer para se esquecer das mazelas do mundo. Prazer para entorpecer os
malditos sentimentos que nos atordoam. Prazer para tentar entender o que
significam o princípio e o fim daquela mesma estrada, gigante e tortuosa, que
denominamos vida.
Paulo-Roberto Andel
@pauloandel
08082012
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