I
Um bate-papo de rua com um companheiro de trabalho, até deixá-lo no ponto de ônibus em frente ao Iaserj. A despedida, o até-segunda e resolvo voltar para casa. Passo pela porta do Inca e lembro do Xuru, como quase sempre. Fico estupefato: uma família se abraça e chora muito. Acabaram de perder alguém querido. Uma menina jovem e bonita explode em lágrimas. Penso que minhas pequenas dívidas, minha saudade, meus conflitos e tristezas são insignificantes perto da dor da morte, sempre a corroer quem fica. Passo em silêncio, como se fosse um réquiem ou minuto de condolências. A dor dói, bem escreveu o poeta. Somos pequenos e, às vezes, queremos ser muito maiores do que o mundo; ostentamos, subvertemos, vociferamos e não vamos a lugar nenhum. Que milhão ou bilhão de reais pode pagar a dor da perda de alguém querido? Nem em sonho. É que a vida não se resume a dinheiro ou poder. Existe sentimento, atitude, respeito e amor. O rsto é falácia para que o ser humano, em sua pobreza d'alma, tente justificar os muitos erros que comete. A família chora na porta do hospital. Eu choro por eles e meus pais, mas sigo em frente. Vivo meu drama. São quatro da tarde.
II
Bonitas as garotas que disputam espaço na próxima barca. Uma morena baixinha e graciosa de blusa vermelha, calça jeans e um chinelinho que permite ver a formosura de seus pés, com uhnas delicadíssimas. Uma loura com expressões sensuais. Talvez cinco jovens a caminho da UFF. Comentam sobre o que não pode ser consumido por ora: o podrão, a cachaça. Uma delas parece estar medicada. A juventude é uma multidão bebendo e gritando na porta de uma faculdade qualquer. A quarta-feira vira sexta, enquanto as pessoas se apertam no transporte marítimo das seis e meia, o famoso rush.
III
Eu e Bola na sala bem-refrigerada, falando de nossos sonhos. O que se perdeu e jamais voltará, o que renasce das cinzas, o que sempre ficou guardado numa caixinha da memória. Não sei se Irene vem lanchar conosco. Mais tarde verei o jogo com Leo, esperando o impossível virar fácil. Telefonar para Malu. Tentar resolver problemas meus e de outrem. É só mais um feriado. No fundo, estou ferido pela dor de morte daquela família. É que a dor dói. Não quero saber de virtualidades.
Olá meu caro Paulo Roberto
ReplyDeleteQue bom entrar aqui. Sabe daquelas intenções que vão ficando penduradas por razões, hora por algo externo, que segue e se transforma em interno.
Teu texto me remeteu a fatos em que pouco leio e pouco escrevo. Vida que segue em meio a perdas de familiares e doença (perigosas)de outras.
Mas aqui estou convivendo com essas dores em meio a rotina, assim como em teu texto.
Saudades, beijos
Eu que agradeço sempre a tua visitas e palavras, Salete. Beijoca.
ReplyDelete