Acompanho futebol regularmente desde 1978, o que totaliza praticamente trinta e três anos, dependendo do mês de referência. Nos últimos dezessete ou dezoito, invariavelmente alguma conversa sobre o esporte fazia surgir o nome do então Ronaldinho, depois Fenômeno e, mais à frente, Ronaldo; para finalizar, o acréscimo do sobrenome: Nazário.
Diga-se o que disser, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos.
O maior artilheiro da história das Copas.
O jogador que, com seu talento, fez rever a imposição de um estilo europeizado ao nosso futebol. Em alguns momentos, fez com que lembrássemos de outros craques do passado e de como era bom quando nosso futebol era diferente dos outros: talento, técnica, apuro.
Um sujeito que desafiou definições e paradigmas, conseguindo dar a volta por cima depois de situações que beiravam o impossível. Quem podia imaginar que, depois da rótula solta atuando pela Internazionale de Milano, ele ainda faria a diferença, seria artilheiro de um campeonato mundial e pentacampeão?
No limiar da carreira, a vontade de jogar pelo Flamengo não se materializou. Culpa da dirigência da Gávea, que fique bem claro. O Corinthians era uma despedida à altura e ainda houve lampejos de genialidade absoluta, alguns contra o meu amado Fluminense, outros como naquele golaço contra o Santos pelo campeonato paulista, encobrindo Fábio Costa.
Todos temos vivido ao vivo a trajetória de Ronaldo, com seus inúmeros acertos e alguns erros, muitos prós e alguns contra. Uma vida humana, de um garoto que saiu da miséria para dominar o mundo com sua profissão. É certo que queríamos dele uma perfeição impossível em nosso imaginário popular. Há como imaginar um garoto de 25 ou 28 anos multimilionário e com todos os títulos possíveis no esporte que pratica? Ninguém fica impune a isso, o que ajuda de certa forma a busca pelos prazeres da noite, alguns incompatíveis com a vida atlética. Mas aqui não sou um juiz.
Muitas vezes Ronaldo fez rir e chorar. Sofremos com aquela derrota de 1998, mas vibramos muito com 2002. Os europeus o chamaram de fenômeno, com razão. E as poucas – mas fantásticas – vezes que Ronaldo tabelou com Romário? Outras mais, com Rivaldo (mesmo que talvez contra a vontade) e o Ronaldinho, que lhe tirou o diminutivo? Os deuses da arte e do futebol agradecem.
Aos trinta e quatro anos, é bastante provável que, dentro de uma hora, Ronaldo dê adeus ao esporte mais amado e consumido em todo o planeta. Não sejamos tolos de olhar um único ponto numa reta enorme: a história desse garoto dá filme e livro. E digo garoto porque eu gostaria de ter trinta e quatro anos e olhar tudo o que ainda teria pela frente. Maravilhoso, provocante e apaixonante, o futebol também é ardiloso: ainda em idade curta, os profissionais precisam parar de jogar; é a lei do processo físico. Ele deixará os gramados onde fez uma história inesquecível para sempre, mas ainda é um garoto com tudo o que terá para fazer daqui por diante. Eu fico agradecido com todos os ótimos momentos que ele proporcionou a mim e a milhões de brasileiros que, muitas vezes, tiveram num golaço dele as suas únicas alegrias de um dia ou semana.
Obrigado por tudo, Fenômeno.
Paulo-Roberto Andel, 14/02/2011
PS: Este artigo de hoje serve de homenagem não somente ao Ronaldo, mas também ao Wal - que há se recuperar no hospital – e ao time do América, que há se recuperar de tudo.
Belo texto, Paulo. É incontestável a condição de crauqe desse jogador que conquistou o mundo não só com a sua arte e técnica futebolística mas como exemplo de força de superação.
ReplyDeleteDe pleno acordo mestre Andel. Grande abraço desse tricolor dos pampas.
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