Monday, May 17, 2010

DIO COMO TE AMO

Quem foi garoto nos meus tempos bem sabe do que vou falar.

A vida passa. Navegando contra a implacável - e também incansável - corrente de imposições fabricadas diariamente pela gran mídia, percorremos outros caminhos: outros livros, outros discos, outras letras, terras diferentes. Comigo também aconteceu.

Desde pequeno, me interessei por música, sem me prender muito a rótulos nem nacionalismos baratos. Comecei no rock, depois fui para o resto. Resto? É uma busca inesgotável para quem é um entusiasta do assunto. Música brasileira de todas as épocas, jazz, blues, folk, estilos regionais, continentais, todo o ocidente, a busca pelos tesouros do oriente. Meus amigos sempre me elogiaram como bom conhecedor/ouvinte, mas somente depois de me tornar um usuário da internet, década atrás, é que pude ter toda a noção da minha ignorância: há um mundo enorme lá fora que nunca chegará às rádios, televisões e lojas de música - estas, aliás, estão escasseando e refletindo a ignorância mundial.

Quando o Kiss pisou no Brasil, eu estava lá. Uma velhinha não queria me deixar entrar no Maracanã lotado: era palco do demo. Tomara que ela esteja no céu. Assim foi, com um monte de gente boa, a seguir: James Taylor, Cure, Metallica, Bob Dylan, outros mais.

Qualquer pirralho que gostou de rock com seus quinze anos em 1982 ou 1983 já ouviu falar de Ronnie James Dio. Deus do metal. Aríete do rock. O inventor/popularizador dos chifrinhos na mão para saudar as plateias, que virou esperanto no heavy metal. Cantor espetacular de bandas como Rainbow, Black Sabbath e, por muito tempo, tendo o seu próprio nome, Dio, como sinônimo de música pesada, pulsante. Mais do que uma grande - e talentosíssima - estrela de megaespetáculos, um sujeito carismático, simpático e extremamente afável com todos os fãs - ou seja, tudo na contramão das estrelinhas efêmeras (e opacas) do mundo da diversão de hoje.

Vida louca, vida. Breve.

Outro dia era 1982. Trinta anos correm rápido. A vida não espera. O Fred, que me deixava ouvir os discos, foi cedo. Meus pais também. O Magno, idem. Derrubaram minha escola do primário, a vila onde joguei bola. Tudo ordem e progresso. A vida pode ter algum conforto agora, mas ela drasticamente melhora quando, em algum momento, busco algum elixir da juventude lá atrás. Ouvir um bom disquinho é uma saída, um pequeno alento. Aqueles anos incríveis, mesmo com muita dificuldade mas com todo o futuro pela frente. Muitos me ajudam nessa viagem no tempo. Dio é um deles.

Soube que ele foi embora hoje. Me senti bem mal.

Estas coisas são previsíveis; inevitáveis, sabemos.

Só que, quando um sujeito passa a vida deixando milhões de pessoas felizes com seu trabalho, ele deveria merecer ao menos uns cento e cinquenta anos por aqui.

Minha adolescência está de luto. Consequentemente, minha vida inteira.

Obrigado por tudo, Dio.

Ronnie James Dio.

De toda forma, fica claro que você continua conosco.

E daí que a tua carne cansou, se a tua voz há de ecoar pelos anos e anos toda vez que um grupo de jovens, em sua maioria com camisetas pretas, se reunir para ouvir o bom e velho rock?

Quem mandou ser um gigante?

Podemos chorar hoje, mas você está condenado à eternidade.

Os chifrinhos estão em minha mão. E vão continuar. Conto contigo.

Um grande abraço.


Paulo-Roberto Andel, 17/05/2010

5 comments:

  1. O Heavy Metal está de luto pela perda desse monstro sagrado.

    William Vianna

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  2. Belo texto. Bela homenagem.

    Beijos

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  3. Verdade mestre Paulo existem pessoas que deixam lembranças lindas mesmo. Como diz o amigo braxxxxxxxxxx.

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  4. Por que só as pessoas boas e geniais morrem?
    Faço essa pergunta desde criança.
    Bela homenagem, enciclopédia Andel.
    Beijo

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  5. Ricardo Macario8:26 AM

    Chifres a meio mastro!

    Foda saber desta triste notícia exatamente um ano após assistí-lo, junto a Iommi e cia, no citibank hall. Lembro muito bem o ano de 92, quando eu, aos 10 anos de idade, já fã de sabbath, fui com meu irmão no primeiro show de minha vida (tiraando balão mágico e papai noel no maracanã,rs), assitir a esse Deus dos vocais fazer tremer todo o canecão.
    RIP Dio!

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