choram
porque a fome lhes esmaga o ventre,
porque a chuva é cruel
e faz dilúvio nas camas de pedra,
despidas de lençóis e fronhas
ou qualquer conforto
que não seja
o entorpecente capaz de inebriar
aquela mesma fome de esmagar,
o frio, a dor
e tantas mazelas que ninguém
há de descrever ao certo
choram porque sofrem
e são esquecidos,
sem direito a vitrines “sold out”,
marcas importadas,
lanches coloridos
ou alguma futilidade qualquer:
choram sem janelas ou paredes,
choram sem anistia,
choram enquanto as estrelas,
brilhantes e já tão mortas,
fazem vezes de telhado
numa terra de covardia
cá fora, o mundo tão bonito
com suas ruas apinhadas
e o corre-corre das compras,
o clingue-clangue do metrô
e outros veículos modernos;
o fascinante mundo a crédito,
a fatura, a prestações,
a cheque sem limite –
do outro lado da calçada,
do lado de fora das grades,
aqueles choram;
vivem um sofrer
que nunca dorme,
um pesadelo que não fenece:
a humilhação de milhões
e milhões
para tudo se tornar um corpo inerte,
abandonado e decomposto à maca
de uma casa médico-legal:
a casa que sempre lhes faltou
agora é um berço de carne pútrida -
horror de morte na celebração
insensata da indiferença
porque a fome lhes esmaga o ventre,
porque a chuva é cruel
e faz dilúvio nas camas de pedra,
despidas de lençóis e fronhas
ou qualquer conforto
que não seja
o entorpecente capaz de inebriar
aquela mesma fome de esmagar,
o frio, a dor
e tantas mazelas que ninguém
há de descrever ao certo
choram porque sofrem
e são esquecidos,
sem direito a vitrines “sold out”,
marcas importadas,
lanches coloridos
ou alguma futilidade qualquer:
choram sem janelas ou paredes,
choram sem anistia,
choram enquanto as estrelas,
brilhantes e já tão mortas,
fazem vezes de telhado
numa terra de covardia
cá fora, o mundo tão bonito
com suas ruas apinhadas
e o corre-corre das compras,
o clingue-clangue do metrô
e outros veículos modernos;
o fascinante mundo a crédito,
a fatura, a prestações,
a cheque sem limite –
do outro lado da calçada,
do lado de fora das grades,
aqueles choram;
vivem um sofrer
que nunca dorme,
um pesadelo que não fenece:
a humilhação de milhões
e milhões
para tudo se tornar um corpo inerte,
abandonado e decomposto à maca
de uma casa médico-legal:
a casa que sempre lhes faltou
agora é um berço de carne pútrida -
horror de morte na celebração
insensata da indiferença
antes disso, choram e choram
por que o mundo lhes despreza,
dá de ombros e desconversa:
o mal que lhes atinge
é problema de deus!
é problema do outro,
sempre o outro –
somos inquestionáveis,
infalíveis e dotados da mais
pura isenção:
quando viemos para cá,
já era assim;
o que nos traz culpa então?
eles choram e choram
porque falamos de deus,
de amor ao próximo,
de boas festas e prosperidade,
mas achamos que eles
não são de deus,
não são da terra,
não são gente feito nós –
e é assim que floresce
todo crepúsculo
da indignidade da gente
que se diz humana:
como se fosse possível
sermos mais gente
do que a gente.
eles choram
por água e pão, somente:
isso me lembra
a beleza de um livro
que não conseguiu nos mudar,
nem transformar
o mundo abominável
que nos cerca,
o qual disfarçamos
com as mesmas vitrines,
as mesmas cores e sacolas
para tentarmos mascarar
nossos piores sentimentos.
Em homenagem ao bilhão de miseráveis na Terra, desprezados pelos governos, pela “livre-iniciativa” e que não terão Natal, Ano Novo, Carnaval, aniversário...
Paulo-Roberto Andel, 18/12/2009
E nós continuamos a gastar, não por vontade, mas pela mídia, que ter para ser é o mais importante....E continuamos a andar pelas calçadas e tropeçar nos seres que se tranformam em corpos desnutridos e que nada podemos fazer a não ser olhar a mesa farta com tantos quitutes que não damos conta em comer....
ReplyDeleteCida Prazeres
Verdade, Paulinho,eles existem, embora muuuuitos pensem que não. Para esta "procissão" são poucos que param para "observá-la".
ReplyDeleteMe emocionei com o poema e com o seu talento.
Um beijo, poeta maior.