O CONCRETO DA FESTA
todos reunidos
todos reunidos
festa da ilusão
solidão
todos estão rindo
debochando e rindo
tudo soa em vão
depreciação
música gritada
corpos seduzidos
inaptidão
desvinculação
copos, tragos, fumos, balas
degeneração
p*tas, trouxas, broncos, vis
representação
festa da ilusão
decadência em vão
alma em contramão
O DEPOIS
depois do turno, o descanso;
depois da sova, o descenso;
depois da lua minguante,
depois do quarto crescente
depois do parto, criança;
depois da morte, esperança;
depois do beijo, a carícia;
depois do afago, a delícia;
depois do júri, a sentença;
depois da pena, o castigo;
depois do amigo, a presença;
depois da crença, o perdido
depois do ardor, brisa fina;
depois da sina, tenência;
depois do gozo, o conforto;
depois do fardo, a leveza.
RAP RETO
tudo no manto reto, completo,
exceto o incerto,
para intervir discreto,
repleto no ato secreto,
retrato do fato incorreto e concreto;
portanto, noves fora nada,
tudo perto e deserto.
DEFERENTE
acende feito água,
refresca feito fogo;
alumia toda noite,
adormece vespertina;
brada em trinta silêncios,
sussurra em cem decibéis.
é mansa de loucura,
vulcânica em poemas;
recusa meus amparos
pelo aparato da carência.
no fim das contas,
no raiar do farto dia,
não foge da minha mente,
tanto em foz quanto nascente:
ela é deferente!
ela é deferente!
COISA
coisa empilhada/ organizada/ restrita?/ há coisa prática, vã temática enrustida/ desenrolada, complicada, arredia/ a coisa mole que escorre pelo ralo da pia/ há piedade numa coisa feita com galhardia/ fidelidade hoje mora numa casa vazia/ enquanto o homem corre e cria muitas coisas por dia/ há coisa plácida, errática, translúcida, vadia/ o tempo é coisa contra a qual lutar é causa perdida/ a vida fútil é uma cousa inútil por analogia/ casa caiada por matizes que não brilham sozinhas/ o caos das ruas é aspecto de coisa encardida/ pelo desdém/ pelo descaso/ rimados com apatia/ a coisa tem mão estendida por miséria de esmola/ a coisa tão dissimulada passa e nunca dá bola.
TRANSAMOR
amar –
verbo intransitivo em transe,
tão indefinido em foco;
ânsia e fôlego por romance,
efeméride a cada facto.
DELÍCIAS DO MUNDO
a fruta nua, sem pêlo;
a casca crua, empilhada;
o prato róseo, um espelho;
a faca rija, afiada.
a boca, o gosto, o anseio;
rodeio lancinante de tes*ão.
a mordida quente, provocante –
maçã despida, empinada;
saborosa musa deflorada.
CALMA!
era um basta! assanhado,
até que um calma! ousado
o assediou
doravante, entenderam-se
sobre inefável caminho
onde havia, claramente,
mortos e feridos –
os pensamentos bruscos.
NUVEM DE NEGRUME
oh, nuvem negra,
és tu a emanar desamparo
aos que vão perder?
há tempestade no teu ventre
e tu flanas tão vadia,
para a dor dos miseráveis,
enquanto os insensíveis
te desprezam em sossego –
e fazem das grandes cortinas
a porta em tua face crua.
és tu, nuvem negra,
a promessa ingênua,
a receita vulgar do novo dia?
AUTO-FLAGELAÇÃO
é certo que não tenho sido um homem bom
minha oferenda aos hipócritas veio servida
numa bandeja de prata e desprezo frio
os egoístas sorvem meu cálice,
mas suas papilas só esbarram em fel;
os que entregam descaso em minhas mãos
têm como réplica minhas frases menores -
todas feitas de cuspe acre, asqueroso
não tenho sido um homem bom
falta-me compaixão para com a vastidão
das imundícies humanas –
e, por conta disso, uma bússola em meu peito
segue astuto norte por discreta coerência
paulorobertoandel
Gostei muito do primeiro e do último.
ReplyDeleteComo diria Carlos Alberto para Golias "MESTRE!!!!"
Paulo Roberto passei aqui para desejar-te um ótimo fim de semana.
ReplyDeletebjs
Cumpade Paulo!
ReplyDeleteSempre bom passar aqui e viajar em ricos versos, em brilhantes poemas!
Grande abraço Mestre!
Boa noite meu mestre sensacional o amigo esta mais para mineiro rsrsrrs vem devagar mas quando vem diz o porque. Um abraço te cuida estas na corda bamba rsrrsrs. Bom final de semana.
ReplyDeleteCaríssimo Andel,
ReplyDeletebelos poemas, um especial, para mim:
"oh, nuvem negra,
és tu a emanar desamparo
aos que vão perder?
há tempestade no teu ventre
e tu flanas tão vadia,
para a dor dos miseráveis,
enquanto os insensíveis
te desprezam em sossego –
e fazem das grandes cortinas
a porta em tua face crua."
abraços e bom feriadão,
Pedro
Awesome, como sempre.
ReplyDelete"Biscoito Fino", "Sinistro", "Pinguin".rs
Beijocasss