Wednesday, January 30, 2008

Crônicas Tricolores 5 - Chuva de gols

Caríssimos, em mais um capítulo da maratona de jogos que tem marcado a Taça da Guanabara, nosso Tricolor entrou em campo para mais um compromisso contra o Volta Redonda, o Peñarol do sul Fluminense - com sua garbosa e vistosíssima camisa aurinegra.
Vencemos, não convencemos plenamente, mas o time certamente se recuperou do empate contra a agremiação de Macaé – mais ainda, mesmo que timidamente, fez o que se pode dizer de melhor partida este ano; ao menos, a mais equilibrada em termos de dois tempos, mesmo que a goleada tenha sido desenhada apenas no segundo.
Nem a baixa temperatura de um Maracanã alagado com a chuva ininterrupta atrapalhou o pequeno, mas fiel, contingente dos nossos torcedores. Quase dez mil pessoas em Mário Filho, num dia de águas bravas e trânsito caótico, ainda mais no exótico horário das sete e meia. Com chuva, muita chuva. A sina do Tricolor tem sido a chuva neste 2008.
O time mudou, e para muito melhor, ainda que longe do ideal. Ao contrário dos outros três matches anteriores, facilmente viu-se a mudança de comportamento da equipe. Começamos agredindo, buscando ataque, fazendo pressão na intermediária do Volta Redonda, e tudo isso fez diferença. Mais ainda, compensação pelo nosso ainda precário entrosamento, afora a pouca ênfase de jogadas ensaiadas. Convém ressaltar que, embora a entrada de Júnior pela esquerda, no lugar do indeciso Nery, tenha colaborado para a mudança de atitude do Fluminense, houve uma sacudidela coletiva da meia-cancha para a frente, com todos correndo, brigando e buscando a abertura de resultado. O Volta Redonda, recolhido e respeitoso, não lembrava em quase nada o time de outros tempos – há pouco, decidiu contra nós um título do Rio.
Deixando de lado a nossa paixão, o Tricolor até que demorou para abrir o placar – e, curiosamente, numa das raras jogadas ensaiadas postas em prática, fizemos o tento numa cabeçada de Luiz Alberto, que tinha subido à área em função de um escanteio. Antes, vários chutes tinham sido dados contra a meta dos voltas – e o próprio escanteio que gerou o primeiro gol veio de uma grande defesa do goleiro Edinho, em chute de Dodô. Em suma, poderíamos ali já ter uma vantagem. Percebi evolução, vontade, e a diferença de apenas um gol só era preocupante porque sabemos que, no futebol, o um a zero é um triz – e, ao final da primeira etapa, quase os voltas igualaram o marcador; contudo, Nelson e outros deuses do futebol de Laranjeiras afastaram a bola de nossa meta, o que nos fez vencedores da primeira etapa. Não foi um jogo brilhante do Fluminense, mas raçudo e bem-disposto; parte de nossa torcida vaiou, mas não por uma péssima atuação e sim por saber que o Fluminense pode oferecer muito mais.
O pai-de-santo Tiba não foi visto nas arquibancadas, de modo que não se podia sequer pedir o amparo dos orixás para uma vitória consagradora na fase final. Porém, eu senti o aroma da goleada no vento úmido do Maracanã. Ao meu lado, a amiga Rita parecia cética quanto ao resultado, quando bradei:
“ – Querida, o Fluminense goleará. Espero cinco ou seis gols ao final. Será seis a zero.”
Rita riu da fanfarronice macarrônica que parecia vir das minhas palavras. Contudo, o destino do Tricolor é a vitória, é a conquista. E o que se viu no segundo tempo foi uma goleada retumbante, heróica, digna.
Para desespero daqueles que querem um dos nossos atacantes no banco, todos foram bem na segunda etapa, fazendo do Fluminense um algoz implacável dos voltas. Com dez minutos de segundo tempo, resolvemos a fatura: primeiro, num golaço de Washington em cobrança de falta, bola precisa no ângulo direito, impecável. Os amigos sabem com clareza; há milênios que não temos um finalizador, um centroavante, que tenha o dom da cobrança de falta. Washington tem. Como é importante ver o homem da frente fuzilando o gol adversário com maestria. E, em seguida, com o desespero de Volta Redonda, contra-atacamos e fizemos o terceiro, com o demolidor Leandro tocando rasteiro na saída de Edinho, Leandro que fora municiado por Washington. E, mais uma vez, Washington, em falha no rebote do goleiro, mas mostrando o faro de artilheiro, fez o quarto. Pela primeira vez no ano, ficamos tranqüilos bem antes do jogo terminar. Eu vi Rita e sorri, dizendo-lhe que os dois faltantes viriam para o sexteto retumbante de gols.
Jogávamos em franca velocidade e as jogadas vieram uma atrás da outra. Poderia ter sido mais, e desimporta se disserem que o Volta Redonda está mais fraco, que o Volta Redonda tem menor investimento, que o Volta Redonda já não é o de antes. Vale o que está escrito, e a súmula mostra uma goleada impiedosa, com um Washington esplêndido.
Fomos atrapalhados pelo gol dos voltas, numa desatenção que não pode se repetir. Tomar um gol de bola quicada n’área seria motivo de derrota e crise, se tivéssemos levado primeiro que eles. Falha sim, mas num momento em que podia acontecer. Menos mal.
Eu não destacaria um jogador em especial nesta vitória expressiva, pois acho que o time foi dedicado e aplicado, mesmo com a exuberante partida de Washington. As entradas de Roger e Cícero foram boas. Foi uma vitória de coletivo. Entretanto, cabe a menção um jogador de alto nível técnico que não vinha conseguindo mostrar o que sabe, e que fechou a partida com chave de ouro: Dodô. Sim, amigos, Dodô correu, passou, chutou muito, lutou e foi premiado a dez minutos do fim com um golaço, de artilheiro que sabe matar o goleiro. Um chute fortíssimo, que estufou o ângulo direito do goleiro do Volta Redonda, após dribles na direita da grande área. Um chute para desafogar mágoas. Tenho em mente a bela imagem que foi a do time inteiro vir em volta de Dodô para abraçá-lo; todos esperavam o primeiro grande gol dele com nossa camisa, e aconteceu. E ainda houve tempo para mais uma jogada fantástica dele ao fim do jogo, humilhando o zagueiro da direita e cruzando perigosamente. Agora, sim, vestiu de vez o manto Tricolor. Durante a partida, ao desperdiçar uma oportunidade, Dodô desabafou num rompante que perder aqueles gols tinha a culpa de alguma praga botafoguense, para fartos microfones abertos da imprensa, atrás dos gols - e hoje, alvinegros vociferaram alegando que o artilheiro tinha desrespeitado General Severiano. Para nós, Dodô mostrou, isto sim, um repertório de competência que foi coroado com um golaço – o resto é falácia.
Foi o quarto jogo em dez dias. Não fomos aprovados com honra ao mérito, mas a goleada, as boas jogadas e os vários lampejos de talento, principalmente no segundo tempo, sugerem que um Fluminense forte - mais forte do que nunca - pode estar a caminho. Assim como não jogamos bem com três atacantes no sábado, ontem tivemos excelente jornada no segundo tempo com o trio. E a imprensa esqueceu-se de que ainda temos Dario Conca para estrear.
Veremos o que nos espera pela trilha.
Errei o placar. Atirei no que vi, acertei no que não vi. A goleada é fato.


Paulo-Roberto Andel, 30/01/2008

http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=5030&mostrar=meublog

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